São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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RECORDE

Com US$ 2,8 mi, bilionários de meia-idade planejam missão à Júlio Verne

Dar a volta ao mundo em avião desafia aventureiros

CAHAL MILMO
DO "INDEPENDENT"

Como um implausível filho da união entre um planador e um dirigível, o mais leve e mais estranho avião de transporte do mundo foi exibido em público pela primeira vez em um aeroporto da Califórnia, na quinta-feira.
O Virgin Atlantic GlobalFlyer, um avião de US$ 2,8 milhões financiado por sir Richard Branson, iniciará neste mês seus testes de vôo, como parte do projeto do bilionário britânico para obter outro recorde no mundo das viagens radicais, depois de quase duas décadas de dramáticas tentativas de atravessar o mundo em barcos velozes e imensos balões.
O avião de alta tecnologia, na verdade um tanque de combustível acionado pela turbina de um pequeno jato executivo, deve tentar o primeiro vôo solo e sem reabastecimento ao redor do globo no segundo ou no quarto trimestre deste ano.
Ainda que esteja patrocinando a empreitada, Branson não é a primeira escolha como piloto, cedendo a apertada cabine de pilotagem a outro bilionário de meia-idade ávido pelo perigo, o norte-americano Steve Fossett.
Ambos se declararam muito satisfeitos com sua máquina voadora de tecnologia avançada, exibida na sede da empresa que a produziu, a Scaled Composites, no deserto de Mojave, cerca de 110 quilômetros a leste de Los Angeles, antes de admitirem que existe um bom risco de que o avião exploda como uma gigantesca bola de fogo.
Fossett, 59, disse que "o maior risco é na decolagem, quando estiver completamente carregado". "Mas creio que o risco seja aceitável. É uma chance única, porém."
O jato carregará nove toneladas de combustível de aviação militar em suas asas de 34 metros de envergadura e em seus dois estabilizadores. Quando os 17 tanques de combustível do aparelho estiverem vazios, o GlobalFlyer terá um peso de apenas duas toneladas.
Os dois bilionários esperam que o avião complete sua viagem, uma jornada ao estilo de Júlio Verne, em cerca de 80 horas, percorrendo 40 mil quilômetros a uma altitude de até 15,5 quilômetros, quando terá a ajuda de correntes de ar elevadíssimas que sopram de oeste para leste.
Sir Richard, 53, que pilotará o aparelho caso seu antigo colega de aventuras em balão adoeça, disse que ver o avião pela primeira vez o deixou ansioso para estar a bordo durante o vôo.
Em conversa com jornalistas, o empresário, que vestia um macacão de pilotagem prateado, disse esperar que o custo do projeto seja recuperado com a cobertura mundial da tentativa de estabelecer o recorde. Ele explicou que "o avião parece magnífico". "Eu gostaria que tivesse dois lugares. Mas só às vezes."
"É um projeto incrivelmente audacioso. Outros tentaram e fracassaram. É o último grande recorde a ser estabelecido na aviação", disse Branson. O avião, cuja envergadura é mais de três vezes superior ao comprimento, foi construído quase integralmente com um material composto ultraleve formado por camadas de fibra de carbono e uma estrutura em formato de colméia.
Fossett, que passará todo o vôo acordado dentro da cabine de pilotagem de 2,10 metros, disse que estava disposto a assumir o risco para garantir um lugar na história. O financista, que fez fortuna começando do zero, explicou sua filosofia: "Gosto de grandes desafios, gosto de fazer coisas que nunca foram feitas. Quero ser um homem realizado".



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