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Para Lafer, política externa atual busca "protagonismo destituído de substância"
DA REPORTAGEM LOCAL
Antecessor de Celso Amorim
à frente da diplomacia brasileira, Celso Lafer condena o giro
do atual chanceler pelo Oriente
Médio e acusa o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de se guiar por uma política externa que "promete muito
e faz pouco."
"A viagem que o ministro
Celso Amorim está fazendo pelo Oriente Médio é uma forçação de barra que não faz nenhum sentido. Revela um protagonismo destituído de substância", disse à Folha Lafer,
que foi ministro das Relações
Exteriores sob os governos de
Fernando Collor (1992) e Fernando Henrique Cardoso
(2001-02).
O ex-ministro afirma que, se
ainda estivesse à frente do Itamaraty, lançaria apelos pelo
fim da violência e enviaria ajuda humanitária, a exemplo do
que Amorim fez, mas "em hipótese alguma" tomaria a decisão unilateral de ir à região para fazer gestões diretas com os
protagonistas.
"No máximo, me colocaria à
disposição para ajudar no que
pudesse", afirma.
Para Lafer, jurista de formação e autor de vários livros sobre relações internacionais, as
tentativas do governo brasileiro de ter voz no Oriente Médio
mostram que "o Brasil não tem
nenhuma noção do que pode e
do que não pode".
"Nenhum dos demais países
emergentes -China, Índia e
Rússia- está tomando iniciativas exageradas como as do Brasil", diz o ex-chanceler, que enxerga um paradoxo nos rumos
da atual diplomacia brasileira.
"Me parece curioso que o
atual governo brasileiro, que se
omitiu na crise das papeleiras
entre Uruguai e Argentina, na
qual realmente poderia e deveria ter desempenhado um papel construtivo, busque agora
atuar no Oriente Médio", diz o
ex-ministro.
Ele se referia às tensões deflagradas em 2006 entre Montevidéu e Buenos Aires por
causa da instalação de duas fábricas de pasta de celulose no
Uruguai, próximo da fronteira
com a Argentina.
Segundo Lafer, a diplomacia
do governo Lula acumula fracassos. Ele cita como exemplos
a empacada candidatura brasileira a um assento permanente
no Conselho de Segurança das
Nações Unidas, a derrocada
das negociações comerciais da
Rodada Doha para a liberalização do comércio e a "pouco
construtiva" política de vizinhança na América do Sul.
"Há muitos exemplos que
demonstram que a atual diplomacia fala e promete muito,
mas acaba fazendo pouco",
afirma o ex-chanceler.
(SA)
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