São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Caos político marca 1 ano de terremoto

Em aniversário de tremor que matou mais de 200 mil, Haiti encerra mandato presidencial sem sucessor definido

Parecer da OEA, obtido pela Associated Press, retiraria do 2º turno o candidato governista, agravando clima no país

Jorge Silva/Reuters
Mulher aparece refletida em espelho em rua de Porto Príncipe; um ano após sismo, reconstrução do país é precária

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Quando a ministra da Cultura do Haiti, Marie Laurence Jocelyn Lassègue, anunciava as cerimônias que marcarão amanhã o primeiro aniversário do terremoto que matou mais de 200 mil, a audiência queria saber: o presidente René Préval estará? E como fica a eleição presidencial?
As perguntas dão a tônica do clima político em que o país chega à efeméride. Prestes a encerrar o mandato formal, em 7 de fevereiro, Préval não tem ainda sucessor.
O Haiti ainda espera a definição do segundo turno das eleições gerais após a controvertida primeira votação em 28 de novembro, sob escrutínio da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Se a situação já era de ansiedade, a atmosfera pesou ainda mais ontem quando a agência de notícias Associated Press disse ter obtido o parecer da OEA que contraria os resultados oficiais preliminares da eleição.
Do segundo turno, segundo os números revisados, sairia o governista Jude Celéstin para dar lugar ao oposicionista Michel Martelly.
O cantor Martelly duelaria com a também oposicionista Mirlande Manigat -em primeiro lugar em qualquer das medições- pela Presidência.
Segundo a Folha apurou, ontem havia apreensão na OEA pelo vazamento. Préval insistira várias vezes que queria ser o primeiro a conhecer o resultado da auditoria dos especialistas feita, em tese, a pedido do governo.
Em dezembro, logo que se soube que Martelly não figurava no segundo turno, houve dias de tumulto em Porto Príncipe, a maioria envolvendo partidários do candidato revoltados.
Ontem, a ministra Lassègue invocou "humanismo e patriotismo" para impedir que as cerimônias de amanhã sejam contaminadas por protestos.
Todas as cerimônias terão um marco único: às 16h53 (19h53 em Brasília), hora em que tremeu há um ano, o país vai parar. A cena deve se repetir nos EUA, na França, na Espanha e no Canadá, os centros da diáspora haitiana.

AJUDA
O MSF (Médicos Sem Fronteiras) criticou ontem o desempenho do governo haitiano e da comunidade internacional na resposta ao sismo.
"Gostaria que as autoridades nacionais assumissem mais suas responsabilidades. Em um país onde mais de 50% do orçamento vem da comunidade internacional, os atores internacionais deveriam assumir seus compromissos. Quase nenhuma ação foi tomada até agora", disse o chefe da missão do MSF no Haiti, Stefano Zanini.
Segundo ele, os haitianos se tornaram dependentes da ajuda médica do MSF, que fez 358 mil atendimentos no ano passado. A organização só deve deixar o país quando outra entidade, pública ou privada, assumir o trabalho.


Próximo Texto: Celebração vai ter missa e "We Are the World"
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.