São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 2011

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Africanos temem onda de separatismo

Receio de líderes é que divisão do Sudão estimule movimentos pró-independência existentes no continente

Consulta popular que deve dividir o maior país da África em dois Estados (norte e sul) terminará no sábado

CAROLINA MONTENEGRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM JUBA (SUDÃO)


A expectativa de que o referendo iniciado anteontem no Sudão divida o país em norte e sul traz uma preocupação colateral: de que abra precedente para outros movimentos separatistas.
Em recentes declarações públicas, líderes africanos se mostraram inquietos com a possibilidade.
"O que está acontecendo no Sudão pode se tornar uma doença contagiosa que afete toda a África", afirmou o ditador da Líbia, Muammar Gaddafi.
Idriss Déby, ditador do Chade, país vizinho ao Sudão, também alertou recentemente para as consequências da divisão.
Para Jon Temin, especialista em Sudão do USIP (Instituto Americano para a Paz), sediado em Washington, a posição dos países africanos é claramente antidivisão.
"A Organização da União Africana afirmou em sua declaração final de 1964 que todos os Estados-membros deveriam respeitar as fronteiras existentes no momento de sua independência nacional", afirma.
Passados 50 anos da onda de independência africana, a maioria dos Estados está bem estabelecida e suas fronteiras são internacionalmente reconhecidas.
Mas há exceções, como Senegal, Angola, Tanzânia, Marrocos e Somália, onde ainda existem movimentos armados pela secessão.
"O temor de uma onda de separatismo deve-se à importância do que está acontecendo no Sudão. Se o sul votar a favor da separação e ganhar sua independência, será o mais significativo redesenho de fronteiras africanas desde a descolonização", afirma Marcus Culley, analista de segurança da UNMIS (missão da ONU no Sudão).
O contexto histórico, segundo ele, demonstra a complexidade do conflito e sugere que a divisão é a única opção para a paz no país.
"Para qualquer secessão ter alguma chance de sucesso é preciso apoio internacional", declara Culley.

TRANSIÇÃO
O referendo termina no sábado, e a expectativa é que o sul, com 8,5 milhões de habitantes e 25% da área do Sudão, decrete sua separação.
Para isso, é necessário um quorum de 60%, nada fácil numa região miserável, do tamanho de Minas Gerais e praticamente sem estradas.
O comparecimento às urnas tem sido grande, no entanto. Em caso de vitória da separação, haveria um período de transição até a independência, no meio do ano.
O novo país, formado por negros (em contraste aos árabes que controlam o governo central sudanês) pode se chamar Sudão do Sul ou Kush, em homenagem a uma civilização que viveu na região por volta de 1.500 a.C.


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