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Canadá aposta em superpoder energético
Chanceler canadense diz que estratégia é tornar-se fornecedor estável diante de uso político de
petróleo e gás por países como a Rússia
Em entrevista à Folha, Peter MacKay marca distância de Washington, mas afirma:
"estamos fartos das provocações de Chávez"
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O Canadá pretende se firmar
como uma superpotência energética. Mas, ao contrário de países como Venezuela e Rússia,
que usam seus recursos como
uma alavanca política, quer
aproveitar sua diversidade
energética para atuar como um
fornecedor estável e seguro para nações que hoje dependem
de uma única fonte de energia.
A afirmação é do chanceler
do Canadá, Peter MacKay, 41,
que esteve no Brasil no início
da semana para discutir comércio, cooperação na área ambiental e a colaboração dos dois
países na Missão de Estabilização da ONU no Haiti.
Em entrevista exclusiva à
Folha, MacKay buscou marcar
diferenças entre seu país e os
EUA, mas demonstrou ao menos uma preocupação em comum: quer que a Venezuela seja uma influência mais positiva
na região. Leia trechos a seguir.
FOLHA - Quase três anos após a
chegada da Minustah no Haiti, como o sr. avalia a situação econômica
e de segurança lá?
PETER MACKAY - É justo dizer
que, enquanto houve um aumento na estabilidade de modo
geral e ganhos em muitas áreas,
em particular na de segurança,
resta muito o que fazer. Não há
como negar que a criminalidade e o crime organizado ainda
são um obstáculo a ser superado. Estamos comprometidos,
junto com o Brasil, no longo
prazo. Como em tentativas anteriores de ajudar o Haiti, percebemos que não podemos sair
ou diminuir nosso comprometimento no momento crítico.
Atualmente, a situação de segurança tem de se estabilizar mais
para permitir maiores esforços
em termos de ajuda humanitária e de reconstrução. É uma situação parecida com a do Afeganistão. Para haver um empurrão verdadeiro na área de
desenvolvimento e reconstrução é preciso haver um perímetro de segurança estabelecido.
FOLHA - O premiê Stephen Harper
disse no ano passado que o Canadá
deveria assumir seu papel como
uma superpotência energética. O
que mudou desde então? Até que
ponto seu país está disposto a usar
esse poder politicamente como fazem Venezuela e Rússia?
MACKAY - Temos cerca de 60%
da energia mundial, e é um suprimento diversificado. Isso
torna mais proeminente o status de superpotência, já que
não estamos limitados ao petróleo e ao gás. Temos amplos
recursos hidrelétricos, somos
um dos maiores fornecedores
mundiais de urânio e temos um
dos mecanismos mais limpos e
sustentáveis de energia eólica e
de biocombustíveis. Nesse aspecto, creio que nosso país se
tornou mais ativo na produção
e na promoção dessas fontes de
energia para uso comercial.
FOLHA - E quanto ao uso desses recursos como arma política?
MACKAY - Há alguns países,
mais notadamente a Rússia,
que têm usado isso como alavanca. O Canadá, como produtor de uma série de formas de
energia transferível, pode usar
isso como não como alavanca,
mas como uma válvula de escape das pressões impostas pelos
outros países. Mantendo-se as
forças do mercado, o Canadá
será capaz em alguns casos de
garantir uma maior estabilidade e retirar a insegurança que
ocorre quando se tem um único
fornecedor de energia.
FOLHA - O Canadá fica à sombra
dos EUA nas relações regionais?
MACKAY - De jeito nenhum. O
Canadá sempre exerceu uma
política externa sólida, e o que
esse novo governo tem feito é
impulsionar uma política externa mais robusta e engajada.
Esperamos promover valores
que prezamos e que achamos
que sejam compartilhados com
países como o Brasil: democracia, estado de direito, liberdade,
respeito aos direitos humanos.
Expressamos esses valores não
de uma maneira beligerante ou
não-razoável. Há muitos anos
somos muito ativos no monitoramento eleitoral, por exemplo. Temos um programa bastante generoso de ajuda internacional. Buscamos maneiras
de ajudar os demais países em
sua busca pela democracia.
No passado, alguns descreveram nossa proximidade com os
EUA como "um camundongo
dormindo do lado do elefante".
Mas às vezes o camundongo
consegue chamar a atenção do
elefante. Discordando de tempos em tempos, mas de um modo não ofensivo. Claro que, com
uma grande fronteira com os
EUA e preocupações mútuas
com a questão de segurança,
adotamos uma série de passos
que deram ao governo americano mais confiança. Compartilhamos interesses na área econômica e na segurança da América do Norte.
FOLHA - O sr. também compartilha
da preocupação em relação ao governo da Venezuela?
MACKAY - Não temos o mesmo
nível de estranhamento nas relações como os EUA e a Venezuela têm tido. Estamos fartos
com algumas das provocações
do presidente Chávez com relação ao uso da energia como instrumento político, de uma maneira negativa. Mas até este
ponto ainda estamos nos relacionando com a Venezuela. Em
nível econômico, temos relações significativas. Descreveria
nossa atitude em relação à Venezuela como sendo de alguma
trepidação, mas ainda temos
esperança de que a Venezuela
baixe o tom da retórica e se torne uma influência mais positiva nos países vizinhos.
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