São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Direita faz maioria parlamentar em Israel

Partido centrista da chanceler Tzipi Livni é mais votado individualmente, mas Netanyahu, do Likud, reivindica formar governo

Ultradireitista Avigdor Liberman desponta como 3ª força, superando o Partido Trabalhista, agremiação dos líderes da fundação do país

Jim Hollander/Efe
O líder Lijkud e ex-primeiro-ministro, Binyiamin Netanyahu

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O partido centrista Kadima, liderado pela chanceler Tzipi Livni, liderava ontem a contagem dos votos nas eleições parlamentares disputadas em Israel. Após a apuração de 99% das urnas, o Kadima tinha 22% dos votos, contra 21% do segundo colocado, o partido conservador Likud.
Mas a contagem também indicava que a direita obteve mais cadeiras do que a centro-esquerda, o que pode dificultar a formação de um governo por Livni e favorecer seu maior rival, o ex-premiê Binyamin Netanyahu, líder do Likud. Os dois partidos declararam vitória.
Por volta das 4h30 em Israel (0h30 em Brasília), o Kadima contava com 28 dos 120 deputados da Knesset (Parlamento), enquanto o Likud tinha 27. Somados, os partidos de direita e religiosos, normalmente alinhados com o Likud, chegavam a 64 cadeiras.
Confiando na provável maioria obtida pelo bloco da direita, Netanyahu ignorou a vantagem do Kadima e se declarou vitorioso. "A ascensão da direita e do Likud só podem significar uma coisa: as pessoas querem mudança", disse Netanyahu, 59. "Conversei com líderes de partidos e concordamos em começar as conversars para a formação de um governo já amanhã (hoje)."
Cabe ao presidente, após consultas com todos os partidos, decidir quem tem as melhores chances de formar o governo, independentemente do número de cadeiras conquistadas. Jamais, porém, o partido com a maior votação deixou de liderar o governo em Israel.
Alheios aos cálculos do Likud, os militantes do Kadima fizeram uma grande festa no comitê do partido, em Tel Aviv, para comemorar a vitória. Caso confirmada, ela contrariará todas as pesquisas de opinião feitas antes da eleição. Nelas, o Likud aparecia sempre na frente, embora a sua vantagem tivesse diminuído dramaticamente nas últimas semanas.
"O povo hoje escolheu o Kadima", disse Livni, 50, que pode se tornar a segunda mulher a chefiar um governo em Israel, depois de Golda Meir (1969-1974). Ela mandou um recado a Netanyahu, propondo um governo de união com o Likud.

Liberman
Considerado o maior fenômeno da eleição, pela ascensão fulminante nas pesquisas nas últimas semanas, o partido ultranacionalista Israel Beitenu, liderado pelo controvertido Avigdor Liberman, obtinha 14 deputados, convertendo-se na terceira força política de Israel.
Diante de um quadro político dividido, Liberman é apontado como potencial parceiro tanto de uma coalizão liderada por Livni como por uma encabeçada por Netanyahu. Ontem, após a votação, ele disse que "tem a chave" para formar o governo e que "não descarta nenhuma aliança", mas que prefere um governo "nacionalista".
A ascensão de Liberman marca uma mudança no mapa político israelense, cujo maior derrotado é o Partido Trabalhista. Pela primeira vez, o herdeiro dos pioneiros socialistas que fundaram Israel não está entre os três maiores partidos.
Segundo a apuração incompleta, o partido liderado pelo ministro da Defesa, Ehud Barak, conquistou apenas 12 cadeiras no Parlamento, ficando em quarto lugar. Com semblante abatido, o ex-premiê Barak não quis indicar se aceitará participar de um governo.
A eleição ocorreu em clima tranquilo. Os únicos incidentes foram registrados na cidade árabe de Um el Fahem, no norte, onde extremistas judeus tentaram fazer uma marcha e entraram em confronto com a polícia. O episódio terminou sem feridos, mas alguns manifestantes foram presos.
Os resultados foram recebidos com ceticismo pela liderança palestina. Embora tenha uma posição mais favorável ao processo de paz do que Netanyahu, Livni passou a ser vista com desconfiança depois de integrar a cúpula que comandou a ofensiva militar a Gaza.
Para Saeb Erekat, negociador-chefe da Autoridade Nacional Palestina, a possível maioria do bloco de direita "paralisa" o processo de paz.


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