São Paulo, quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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EUA reforçam sanções unilaterais ao Irã

Medida, paralela a conversas por punições da ONU, visa empreiteira acusada de financiar programa nuclear iraniano

Casa Branca ainda busca apoio do governo chinês para emplacar resolução no CS contra Teerã, que nega querer a bomba atômica


Hans Punz/Associated Press
O embaixador do Irã junto à agência nuclear da ONU (AIEA), Ali Asghar Soltanieh, discursa na sede do órgão, em Viena, Áustria

DA REDAÇÃO

Os EUA já definiram os contornos da resolução que será submetida ao Conselho de Segurança da ONU para impor novas sanções ao Irã. Mas, antecipando-se à possibilidade de a China usar seu poder de veto contra o texto, a Casa Branca decretou ontem novas punições unilaterais a Teerã.
Segundo o Departamento do Tesouro, as medidas visam fechar o cerco contra a Guarda Revolucionária, pedra angular da República Islâmica, acusada pelos EUA de financiar o terrorismo e desenvolver armas de destruição em massa -alusão ao programa nuclear que o Irã nega ter fins bélicos.
As novas punições têm como alvo quatro subsidiárias da Khatam al Anbiya, megaempreiteira usada como braço de construção e engenharia da Guarda Revolucionária -facção de 150 mil homens que ampara o regime nas esferas militar, ideológica e econômica.
A moção de ontem reforça a proibição (adotada em 2007 sob George W. Bush) de transações dessas empresas nos EUA e o congelamento de quaisquer ativos que tenham sob jurisdição americana. O diretor da Khatam al Anbyia, general Rostam Qasemi, também é visado pelas sanções.
Os EUA alegam que a rede de Qasemi usa sua ampla atuação no Irã -construção de estradas, túneis, projetos agrícolas, gestão do aeroporto de Teerã- e contatos no exterior para arrecadar fundos para supostos interesses bélicos iranianos.
As sanções somam-se a uma lista de medidas unilaterais decretadas desde 1980, quando Irã e EUA romperam relações depois que militantes iranianos, em represália ao asilo dado pela Casa Branca ao xá deposto, tomaram 52 reféns na embaixada americana em Teerã. O sequestro durou 444 dias.
Céticos dizem que as medidas são inócuas, já que membros do regime iraniano geralmente não buscam viajar aos EUA nem fazer contatos com empresas americanas.
Em complemento às sanções unilaterais, os EUA pressionaram o CS a adotar três ciclos de punições contra o Irã desde 2002, quando foi revelada a existência de atividades nucleares de Teerã não notificadas à agência da ONU (AIEA).
Apesar de nunca ter sido provado que o Irã busca a bomba atômica, as sanções foram aplicadas sob pretexto de que Teerã não colabora o suficiente com as inspeções da AIEA.
A Casa Branca segue buscando emplacar uma quarta rodada de medidas no CS. Segundo revelou ontem o "New York Times", o novo texto pretende ampliar a lista de iranianos proibidos de viajar e o de empresas com bens bloqueados no exterior. Para convencer a China, receosa em punir o aliado persa, que lhe fornece petróleo, os EUA estariam costurando um acordo com as monarquias do golfo Pérsico para assegurar o abastecimento de Pequim.
Ontem, surgiram relatos de que o Irã ainda não começou a enriquecer urânio a 20%, como anunciou anteontem, ou o está fazendo a ritmo lento. Teerã diz que o aumento no processamento do material tem fins medicinais, e não militares, e que a decisão de enriquecer urânio por conta própria foi tomada depois que o Ocidente menosprezou seu aval a um plano da AIEA para que os estoques iranianos fossem tratados no exterior. O Irã reiterou ontem que a oferta ainda está sobre a mesa e que, se for aceita, interromperá o maior enriquecimento de urânio.


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