|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Neto de Khomeini apoia os protestos antirregime
DO "FINANCIAL TIMES"
É uma grande ironia que, no
31º aniversário da Revolução
Iraniana, que se completa hoje,
a linha dura do governo esteja
vinculando um neto do aiatolá
Ruhollah Khomeini, o fundador da República Islâmica, a
uma oposição que eles alegam
desejar mudar o regime.
Hassan Khomeini, 38, emergiu como um partidário discreto mas persistente do Movimento Verde, de oposição. Ele
apoiou Mir Hossein Mousavi, o
candidato reformista, na eleição presidencial do ano passado, e se recusou a comparecer à
cerimônia de posse do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Na semana passada, Khomeini acompanhou o presidente ao templo de seu avô, mas
deixou o local tão logo Ahmadinejad começou a discursar.
Em vez de assistir ao discurso, fez uma visita à família de
Alireza Beheshti, aliado de
Mousavi que está encarcerado.
O aniversário da revolução
serve tradicionalmente como
ocasião para que o regime encoraje as pessoas a lotar as ruas
e celebrar a fundação da República Islâmica, em 1979. Neste
ano, porém, o evento pode ser
usado pelos oposicionistas para
novas manifestações em massa. Os críticos do regime escapam à proibição que o governo
impôs a protestos nas ruas
usando ocasiões oficiais a fim
de defender os seus propósitos.
O governo iraniano já disse
nos últimos dias que reprimirá
duramente os protestos. Também prendeu jornalistas e ativistas que convocavam manifestações pela internet. A imprensa estrangeira foi proibida
de cobrir os eventos de hoje.
Diante de uma crise de legitimidade sem precedentes, o regime está tentando explorar o
prestígio do aiatolá Khomeini,
morto em 1989. Mas, quando a
TV iraniana exibiu trechos de
discursos de Khomeini a fim de
sugerir que ele teria condenado
o Movimento Verde, seu neto
não demorou a protestar.
"É lastimável que vocês tenham iniciado uma distorção
exagerada dos eventos do passado, desconsiderando as condições daquela época", ele escreveu em uma carta a Ezzatollah Zarghami, o presidente da
TV estatal iraniana.
Em resposta, Zaghami criticou severamente o neto de
Khomeini e questionou o fato
de ele não ter criticado os "atos
lastimáveis" que a oposição
empreendeu desde a eleição.
O jornal governista "Khayan" acusou Khomeini de confraternização com líderes oposicionistas que, segundo a publicação, têm vínculos com os
serviços de inteligência dos
EUA, Reino Unido e Israel.
Os ataques ao jovem descendente de Khomeini pelos aliados do líder supremo mostram
a rivalidade entre as duas escolas, que poderiam ser definidas
como "khomeinismo" e "khameneismo" -em referência ao
sucessor de Khomeini e atual
líder supremo, Ali Khamenei.
Os defensores da primeira
insistem em que Khomeini
acreditava que a legitimidade
do regime islâmico provinha do
apoio popular, nas urnas.
Os aliados do aiatolá Khamenei, por sua vez, argumentam
que a legitimidade do governo é
conferida por Deus, que também aponta indiretamente o líder supremo.
Os dois lados argumentam
ser os verdadeiros defensores
do legado de Khomeini. A linha-dura diz que ter fortes antecedentes revolucionários não
confere privilégios especiais.
Texto Anterior: Paris rejeita apelo do Brasil ao diálogo Próximo Texto: Censura: País vai suspender serviço de e-mail do Google, diz jornal Índice
|