São Paulo, quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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Neto de Khomeini apoia os protestos antirregime

DO "FINANCIAL TIMES"

É uma grande ironia que, no 31º aniversário da Revolução Iraniana, que se completa hoje, a linha dura do governo esteja vinculando um neto do aiatolá Ruhollah Khomeini, o fundador da República Islâmica, a uma oposição que eles alegam desejar mudar o regime.
Hassan Khomeini, 38, emergiu como um partidário discreto mas persistente do Movimento Verde, de oposição. Ele apoiou Mir Hossein Mousavi, o candidato reformista, na eleição presidencial do ano passado, e se recusou a comparecer à cerimônia de posse do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Na semana passada, Khomeini acompanhou o presidente ao templo de seu avô, mas deixou o local tão logo Ahmadinejad começou a discursar.
Em vez de assistir ao discurso, fez uma visita à família de Alireza Beheshti, aliado de Mousavi que está encarcerado.
O aniversário da revolução serve tradicionalmente como ocasião para que o regime encoraje as pessoas a lotar as ruas e celebrar a fundação da República Islâmica, em 1979. Neste ano, porém, o evento pode ser usado pelos oposicionistas para novas manifestações em massa. Os críticos do regime escapam à proibição que o governo impôs a protestos nas ruas usando ocasiões oficiais a fim de defender os seus propósitos.
O governo iraniano já disse nos últimos dias que reprimirá duramente os protestos. Também prendeu jornalistas e ativistas que convocavam manifestações pela internet. A imprensa estrangeira foi proibida de cobrir os eventos de hoje.
Diante de uma crise de legitimidade sem precedentes, o regime está tentando explorar o prestígio do aiatolá Khomeini, morto em 1989. Mas, quando a TV iraniana exibiu trechos de discursos de Khomeini a fim de sugerir que ele teria condenado o Movimento Verde, seu neto não demorou a protestar.
"É lastimável que vocês tenham iniciado uma distorção exagerada dos eventos do passado, desconsiderando as condições daquela época", ele escreveu em uma carta a Ezzatollah Zarghami, o presidente da TV estatal iraniana.
Em resposta, Zaghami criticou severamente o neto de Khomeini e questionou o fato de ele não ter criticado os "atos lastimáveis" que a oposição empreendeu desde a eleição.
O jornal governista "Khayan" acusou Khomeini de confraternização com líderes oposicionistas que, segundo a publicação, têm vínculos com os serviços de inteligência dos EUA, Reino Unido e Israel.
Os ataques ao jovem descendente de Khomeini pelos aliados do líder supremo mostram a rivalidade entre as duas escolas, que poderiam ser definidas como "khomeinismo" e "khameneismo" -em referência ao sucessor de Khomeini e atual líder supremo, Ali Khamenei.
Os defensores da primeira insistem em que Khomeini acreditava que a legitimidade do regime islâmico provinha do apoio popular, nas urnas.
Os aliados do aiatolá Khamenei, por sua vez, argumentam que a legitimidade do governo é conferida por Deus, que também aponta indiretamente o líder supremo.
Os dois lados argumentam ser os verdadeiros defensores do legado de Khomeini. A linha-dura diz que ter fortes antecedentes revolucionários não confere privilégios especiais.


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