São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Ditador diz que fica e revolta multidão

Mubarak frustra expectativas ao declarar na TV egípcia que rejeita "pressões externas" e fica no cargo até setembro

Manifestantes reagem com gritos de "fora!'; embaixador nos EUA diz que Suleiman agora é presidente "de facto"

Tara Todras-Whitehill/Associated Press
No Cairo, manifestantes antigoverno lamentam permanência de Mubarak no poder; antes de presidente ir à TV e declarar que não renunciaria, ouvia-se o coro ‘estamos quase lá’

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Depois de 17 dias de revolta, mais de 300 mortos e pressões internas e externas, o ditador do Egito, Hosni Mubarak, 82, há 30 anos no cargo, foi à TV para dizer que fica.
O discurso do ditador -que também rechaçou "pressões externas" sobre o regime, em claro recado aos EUA- foi um balde de água fria nos milhares de manifestantes que lotaram a praça Tahrir, epicentro dos protestos no Cairo, sob forte expectativa de que ele renunciasse.
Furiosa, a multidão respondeu com gritos de "fora!" à fala de Mubarak, que negou deixar o cargo até a eleição prevista para setembro.
Na madrugada de hoje (horário do Cairo), alguns milhares de manifestantes se postaram na frente do palácio presidencial. Houve protestos também diante da TV estatal e da casa do ditador.
Repetindo o que dissera em ocasiões anteriores sobre não concorrer a um sexto mandato, Mubarak afirmou que cumprirá "até o fim" o caminho da transição pacífica e que entregará o poder àquele que o povo escolher.
Ele afirmou, ainda, que delegará alguns de seus poderes -não especificou quais no discurso- ao vice-presidente, Omar Suleiman.
O embaixador egípcio nos EUA, Sameh Shoukry, afirmou à CNN, porém, que Suleiman passou a ser o presidente "de facto" do país.
O ditador declarou também que reconhecia "erros" e disse que pretendia honrar os sacrifícios dos mortos, que classificou como "mártires", durante as quase três semanas de rebelião no país.

RESPOSTA DOS EUA
No final da noite, o presidente americano, Barack Obama, criticou o discurso de Mubarak, que segundo ele "não cumpriu as expectativas". "Não está claro se a transição de poder será imediata ou suficiente", disse.
A CIA sofreu fortes críticas pela avaliação de que o poder trocaria logo de mãos no país (leia mais na pág. A14)
Pouco antes de Mubarak discursar, o Exército egípcio anunciou na TV estatal que tomaria medidas para evitar a instalação do caos no país.
O porta-voz do Conselho Supremo das Forças Armadas, liderado pelo ministro da Defesa, Hussein Tantawi, leu na TV uma declaração em que se dizia que o Exército daria o seu apoio às "legítimas demandas do povo".
A declaração e o fato de que nem Mubarak nem Suleiman participaram da reunião do conselho estimularam, durante todo o dia, rumores de que haveria golpe militar.
Na praça Tahrir, o general Hassan al Roueini, comandante militar da capital egípcia, afirmou aos manifestantes que os pedidos deles "seriam atendidos" ontem.

VERSÕES CONFLITANTES
Ao longo do dia, o governo procurou desmentir os boatos de que Mubarak anunciaria no discurso a saída do cargo. Ao mesmo tempo, os próprios ministros emitiam informações desencontradas.
Em entrevista à rede britânica BBC, o premiê Ahmed Shafiq afirmou que o ditador egípcio poderia deixar o cargo. Depois, porém, ele mesmo declarou que tudo estava nas mãos de Mubarak e nenhuma decisão fora tomada.
O ministro da Informação, Anas el Fiqqi, também disse à TV egípcia que não havia planos de renúncia, o que depois viria a se confirmar.
Nos últimos dois dias, paralisações irromperam por todo o Egito, reverberando os protestos da praça Tahrir em um cenário de inflação e desemprego e baixos salários. Após o anúncio de que Mubarak fica, há o temor de que as greves se estendam.


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