São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Praça reage com grito coletivo de espanto

Na Tahrir, epicentro dos protestos, alguns falam em marcha até palácio

Frustrados, jovens que lideram o movimento anunciam uma escalada de protestos para os próximos dias no Cairo

DO ENVIADO AO CAIRO

No momento em que o ditador Hosni Mubarak deixou claro que não iria renunciar à Presidência, um grito coletivo de espanto e desapontamento ecoou da multidão de mais de 1 milhão de pessoas na praça Tahrir e arredores.
O rugido foi tão poderoso que pôde ser ouvido um par de quilômetros em torno da praça central do Cairo.
Alguns, mais idosos, sofreram desmaios e tiveram de ser atendidos em improvisados postos médicos.
Os jovens, responsáveis por deflagrar a revolta, não escondiam a raiva, prometendo uma escalada nos protestos. A jornada de hoje, com manifestações planejadas em todo o país, ganhou o nome de "Dia dos Mártires".
"Mubarak despreza o povo e não nos deixa alternativa a não ser partir para o confronto aberto", gritava o estudante Mohamad, 21.
A seu lado, centenas de jovens prometiam marchar rumo ao palácio presidencial, a pouco mais de dez quilômetros da praça Tahrir.
Em uma mensagem enviada no Twitter, Mohamed ElBaradei, Nobel da Paz e ex-chefe da agência nuclear da ONU, que vinha sendo apontado como possível nome de consenso para liderar a transição, previu o pior. "O Egito vai explodir. O Exército precisa salvar o país", escreveu.
Os manifestantes expressaram preocupação semelhante. "Teremos dias muito violentos pela frente", previu o empresário Mahmoud, cabisbaixo após o discurso do ditador ser projetado para a multidão num grande lençol improvisado.
Para muitos, a transferência de poderes ao vice-presidente Suleiman significa o endurecimento do regime.

AMEAÇA
Há dois dias, Suleiman fez ameaça velada, alertando que a alternativa ao diálogo era um "golpe". O chanceler, Ahmed Gheit, acrescentou que o Exército interviria para manter a estabilidade.
Até agora, os militares que cercam a praça têm manifestado comedimento, o que conquistou a simpatia dos manifestantes. Dezenas de tanques estão espalhados pela cidade, mas por enquanto não há confrontos.
O temor agora é que a transferência dos protestos para o palácio presidencial leve a uma repetição dos confrontos violentos registrados no início da revolta, que deixaram mais de 300 mortos.
"A guarda presidencial é uma ala separada do Exército, totalmente leal a Mubarak, e não vai tolerar protestos", disse o engenheiro Khaled, no meio da praça. "Se eles ficarem do lado do presidente, haverá um banho de sangue, porque não vejo ninguém disposto a recuar."
Mesmo entre os menos exaltados, havia a clara determinação de continuar o movimento que pressionou o ditador egípcio.
"Trinta anos no poder já é tempo demais", dizia a dona de casa Minal, de cerca de 60 anos, vestida de preto da cabeça aos pés. "Mubarak já morreu para nós, mas insiste em deixar o seu fantasma aqui." (MARCELO NINIO)


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