São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

"Cenário turco" para o futuro esbarra no papel dos militares


SÃO INCÓGNITAS A COMPOSIÇÃO DE FORÇAS NO PÓS-MUBARAK E A RELAÇÃO DOS MILITARES NUMA EQUAÇÃO QUE INCLUÍSSE A IRMANDADE MUÇULMANA


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


O papel dos militares na crise do Egito fez a alegria daqueles que sonham com um cenário turco para o futuro político do país árabe.
Explica-se: fundadores da República da Turquia, os militares do país são uma espécie de elemento regulador da política local.
Mesmo nas quatro ocasiões em que deram golpes, a última em 1980, eles o fizeram de forma a serem percebidos no Ocidente como guardiões do secularismo. Em 1997, pressionaram pela queda do premiê islâmico, mas dentro das regras.
O partido governista atual abrandou por inspiração militar suas visões islâmicas, ainda que tenha buscado maior independência do Ocidente devido à rejeição da União Europeia em aceitar os turcos como membros.
Assim, há a esperança nos governos ocidentais de que os militares egípcios possam assumir papel semelhante. Em um acerto em que a Irmandade Muçulmana tomasse parte, ainda que como força de oposição legalizada, o Exército poderia segurar eventuais radicalismos.
Não é tão simples. Se é verdade que são seculares, mantendo a tradição do "socialismo árabe" do mítico Gamal Abdel Nasser, é importante lembrar que os militares egípcios sempre foram parte orgânica do regime.
Desde 1954, só houve três presidentes no país. Um morreu, outro foi morto e o terceiro é Mubarak, não por acaso um herói da Força Aérea.
Na Turquia de hoje, militares influem na política partidária, mas há eleições verdadeiras para seus governos.
Parte disso se deve, além da ocidentalização que acompanhou a república fundada em 1923, ao fato de que desde 1952 a Turquia faz parte da Otan, a aliança liderada pelos EUA.
No Egito, não há uma posição ocidental semelhante para gerar tal influência -e é ingenuidade achar que os protestos da praça Tahrir são todos em favor da democracia liberal.

IRMANDADE
É uma incógnita a composição de forças num eventual pós-Mubarak, bem como a relação dos militares numa equação que incluísse os islâmicos.
A Irmandade é um ator inevitável e pode até ter moderado suas posições publicamente, mas é adversária figadal da elite militar, tendo sido duramente reprimida até aqui.
Como mostra o grande painel em frente ao Museu Nacional Militar do Cairo, que celebra a "vitória" na guerra perdida para Israel em 1973, os fardados egípcios são dados a teatros e dissimulações. O cenário turco ainda é só uma hipótese.


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