São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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Repórter é demitida após criticar Calderón

Jornalista é desligada da rádio MVS ao mencionar rumor de que o presidente mexicano sofreria de alcoolismo

Emissora alega que Carmen Aristegui feriu código de ética; líder de audiência, rádio teria sido alvo de pressão

DE SÃO PAULO
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS


Uma jornalista de uma das rádios de maior audiência no México afirmou ter sido demitida por pressão do presidente Felipe Calderón ao levantar suspeitas de que o mandatário sofreria com problemas de alcoolismo.
O episódio originou um debate sobre a liberdade de expressão no país e alegações de que o governo exerce controle sobre a mídia.
A polêmica começou na semana passada durante um discurso do parlamentar Gerardo Fernandez Norona, do Partido Trabalhista.
Ele exibiu uma foto de Calderón com a legenda: "Você deixaria um bêbado dirigir o seu carro? Não, certo? Então por que você deixa que ele dirija o seu país?".
Na última sexta-feira, a jornalista Carmen Aristegui abordou o assunto em seu programa matinal na rádio MVS. Apesar de o parlamentar não ter apresentado evidências de sua alegação, Aristegui disse que a acusação era séria e que Calderón deveria se explicar.
Na segunda seguinte, a rádio anunciou sua demissão alegando que ela violou o código de ética interno "ao dar credibilidade a um rumor".
Anteontem, Aristegui -que também tem um talk show na rede CNN em espanhol- afirmou que foi demitida por ter se recusado a pedir desculpas por seu comentário e reforçou sua posição de que o presidente devia explicações sobre o caso.
Ela disse que o governo de Calderón telefonou para a MVS exigindo desculpas públicas. Segundo ela, a rádio cedeu à pressão porque aguarda a renovação da concessão de sua frequência.
"Uma ação como essa é imaginável apenas em uma ditadura que ninguém quer no México: punição por opinar ou questionar regras", disse Aristegui em entrevista.
Inicialmente, o governo Calderón não comentou o caso. Mas, na quarta-feira, o secretário pessoal do presidente, Roberto Gil, reuniu a imprensa e se referiu ao assunto de forma indireta.
"Durante os quatro anos de seu governo, ele [Calderón] nunca perdeu nenhum evento por causa de problemas de saúde", disse.
"Seu ritmo de trabalho é a maior prova de boa saúde, força física e integridade."

LULA
Em 9 de maio de 2004, o então presidente Lula também se viu envolvido em um episódio polêmico envolvendo bebida e a imprensa.
O jornalista americano Larry Rohter, na época correspondente do jornal "New York Times" no Brasil, publicou reportagem sobre suposto abuso no consumo de álcool pelo presidente -que negou as alegações.
O governo cancelou o visto do jornalista para expulsá-lo do país, mas a Justiça barrou a medida. Lula recuou.
No caso mexicano, a polêmica sobre a liberdade de imprensa foi levada ao Parlamento. Membros do Partido Trabalhista defenderam a hipótese de que Calderón tenha exercido pressão política para demitir a jornalista.
A organização Repórteres Sem Fronteiras disse que a rádio MVS não deu explicações claras sobre o caso.


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