São Paulo, sábado, 11 de março de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Premiê israelense anunciou que pretende impor fronteiras se os palestinos não renunciarem à violência

Hamas acusa Israel de "declarar guerra"

Emilio Morenatti/Associated Press
Manifestante palestino deita diante de policiais israelenses durante protesto perto de Ramallah


DA REDAÇÃO

O plano israelense de demarcar suas fronteiras unilateralmente até 2010, anunciado pelo premiê interino Ehud Olmert, é uma declaração de guerra, reagiu ontem Khaled Meshal, principal líder político do Hamas, o grupo terrorista que foi encarregado de formar o novo gabinete palestino após a surpreendente vitória obtida nas urnas em janeiro.
Em declarações publicadas na quinta-feira e repetidas ontem, Olmert disse que, caso o Hamas não renuncie à violência e uma solução negociada seja impossível, Israel imporá as fronteiras e erguerá um muro para demarcá-las. Olmert, que em janeiro assumiu o governo interinamente devido ao derrame sofrido por Ariel Sharon, é apontado pelas pesquisas como o favorito para conduzir o país também após as eleições marcadas para o dia 28 deste mês.
O plano foi recebido com indignação pelo Hamas. Em entrevista à agência France Presse em Damasco, onde vive exilado, Meshal afirmou que a retirada unilateral significa "uma declaração de guerra contra o povo palestino". Para ele, a ação proposta por Olmert tem como base "os interesses de segurança de Israel e não as exigências de paz".
Olmert prevê uma retirada de áreas de alta densidade populacional palestina, prosseguiu Meshal à AFP, "logo, Israel decidirá unilateralmente sobre as fronteiras, o que claramente não é um plano de paz, mas uma declaração de guerra".
Como ocorre tradicionalmente em Israel na véspera de uma festividade judaica importante (no caso, Purim), os principais meios de comunicação do país fizeram entrevistas com o premiê, que acabaram sendo monopolizadas pelo plano de Olmert de demarcação unilateral de fronteiras até 2010.
"Acredito de todo o coração que tenhamos uma janela de oportunidade que devemos usar nos próximos quatro anos. Precisamos dar passos históricos", declarou o premiê interino ao jornal "Yediot Ahronot".
Pelo plano de Olmert, Israel abandonaria a maioria de seus assentamentos na Cisjordânia e recuaria até a linha em que está sendo construída a barreira de separação, com possíveis ajustes.
"Não restará um único judeu para protegermos além da cerca", disse Olmert ao diário "Maariv". "No fim do processo, nós teremos a total separação da vasta maioria da população palestina." O plano provocou protestos não só dos palestinos, mas dos adversários de direita de Olmert em seu antigo partido, o Likud, que consideram a cessão de territórios um prêmio ao terrorismo do Hamas.
A estratégia de adotar ações unilaterais na ausência de um acordo de paz com os palestinos foi inaugurada no ano passado por Ariel Sharon, que ordenou a retirada da faixa de Gaza. Entretanto Sharon, hoje em estado de coma, descartou repetir esse modo de ação na Cisjordânia.
Em sua mais firme advertência até agora, a União Européia ameaçou ontem cortar a ajuda financeira ao governo palestino caso o Hamas não abandone a violência. "Queremos continuar sendo um parceiro confiável do povo palestino, mas não amoleceremos em nossos princípios", disse a comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner.

Com agências internacionais

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