São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Vázquez elogia Bush e pressiona Brasil

Presidente do Uruguai diz que país está preso ao Mercosul, mas defende "soberania" para negociar com outros países

Uruguaio agradece ajuda dos EUA durante crise de 2002; Bush adota política de evitar confronto direto com o venezuelano Chávez

Pablo Porciuncula/France Presse
Uruguaio faz pichação contra Bush em Montevidéu na noite da chegada do norte-americano


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL AO URUGUAI

"O Uruguai está onde está e não pode sair daqui." Assim respondeu o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, sobre a relação conflituosa de seu país com o bloco comercial da América do Sul dominado pelo Brasil e a intenção de firmar um tratado de livre comércio com os EUA. Depois, corrigiria: "E não quer sair".
O recado ao que a imprensa uruguaia chama de "irmão mais velho" do Mercosul [o Brasil] era claro. "Queremos um processo de integração aberta, que este Mercosul possa se integrar a outros blocos", disse Vázquez na manhã de ontem, em encontro com o colega norte-americano George W. Bush no parque Anchorena, em Colônia, 177 quilômetros a oeste de Montevidéu. "Que cada país possa exercer seu direito soberano de desenvolver relações bilaterais com outros."
Vázquez assinou em janeiro com os EUA um acordo de intenções sobre comércio e investimentos, que pode levar a um tratado de livre comércio, o que contraria as regras do Mercosul. Há duas semanas, Luiz Inácio Lula da Silva fez visita de emergência ao Uruguai e ofereceu vantagens ao parceiro.
Tabaré citou em seu discurso a ajuda que os EUA, e Bush "pessoalmente", deram durante a crise econômica que atingiu o país em 2002. "O senhor estendeu a mão para ajudar o Uruguai a sair daquele poço em que se encontrava", disse.
Ambos contrariaram expectativa de que o encontro resultaria no anúncio da conclusão de acordo comercial. À semelhança do que aconteceu no Brasil em relação à Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio, falou-se apenas de "novas reuniões" e "avanços".
Sobre como avançar as negociações em Doha, Bush diria: "Os EUA estão preparados para reduzir subsídios agrícolas. Só queremos ter certeza de que há garantia de acesso a mercado para os nossos produtos".

Chávez
No âmbito político, o assunto Hugo Chávez surgiu em pergunta do repórter do "New York Times": "Hugo Chávez sugeriu que o sr. tem medo de mencionar o nome dele. É verdade?" Bush saiu-se pela tangente, dizendo que a diplomacia dos EUA para a região deve ser "positiva e construtiva". E, mais uma vez, não mencionou o nome do líder venezuelano.
"A tentação é fazer as pessoas falarem das diferenças, e eu quero falar de algumas semelhanças entre países", disse Bush. "Temos respeito mútuo."
A bordo do AirForce One, na noite de sexta-feira, o porta-voz da Casa Branca já havia dito que, ainda que fosse difícil ignorar os ataques verbais do venezuelano, Bush se concentraria em suas reuniões com os presidentes. "Eu sei que vocês querem fazer dessa viagem uma turnê anti-Chávez", disse Snow. "Não é."
Bush deixa o Uruguai hoje cedo rumo à Colômbia, seu maior aliado na América do Sul.


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