São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Bush indica, em reunião com Lula, que vai minimizar ações do venezuelano

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente George Walker Bush transmitiu a seus interlocutores brasileiros, nas conversas fechadas da sexta-feira, a nítida sensação de que está disposto a minimizar as reações a iniciativas e provocações do venezuelano Hugo Chávez.
Tanto é assim que o tema Chávez foi tratado muito rapidamente e sem a menor contundência durante a conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao contrário do que anunciaram fontes do governo norte-americano antes da viagem de Bush.
Não houve nada que se parecesse a um pedido para que Lula tentasse moderar o governante venezuelano. A percepção dos interlocutores brasileiros de Bush coincide com relatório recebido pelo governo brasileiro sobre recente conversa entre o norte-americano e outro governante, cujo nome a Folha não conseguiu saber.
Nela, Bush antecipava a nova atitude, no pressuposto de que, reagir ao que diz ou faz Chávez, só joga mais holofotes sobre o presidente da Venezuela e aumenta a sua estatura como suposto líder regional anti-Bush.
Nessa disputa pelos corações dos latino-americanos, aliás, ambos perdem. Uma pesquisa do "Latinobarómetro" mostra que, na sub-região, tanto Bush como Chávez são reprovados e obtêm a mesma média (4,6).

Doha
As conversas reservadas serviram também para evidenciar uma imensa mudança de atitude da administração Bush em relação às posições brasileiras nas negociações Rodada Doha, lançadas pela Organização Mundial do Comércio na capital do Qatar, em 2001, e virtualmente paralisadas desde então.
Em 2003, na Conferência Ministerial da OMC em Cancún, o governo norte-americano culpou rudemente o brasileiro pelo fracasso da reunião. Robert Zoellick, então chefe do USTr, espécie de ministério do comércio exterior norte-americano, chegou a dizer que o Brasil encabeçava os países "don't want" (que não queriam um acordo).
Agora, Bush queixou-se dos europeus e encontrou em Lula um ombro amigo no qual chorar as mágoas. O presidente dos EUA lamentou que seu país seja acusado de ser o responsável pelo impasse nas negociações, mas que os europeus nada fazem para rompê-lo.
Lula ainda tentou consolá-lo lembrando que acabara de falar com Tony Blair, premiê britânico, que está fazendo esforços para destravar a Rodada Doha. Bush reconheceu os esforços de Blair, mas, mesmo assim, queixou-se de que não estão alcançando resultado algum.
Lamentos à parte, de prático os dois decidiram apenas solicitar, pela enésima vez, que Celso Amorim, o chanceler brasileiro, e Susan Schwab, a nova chefe do USTr, tentem um entendimento a dois para ser depois levado aos demais atores da negociação global.


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