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Bush indica, em reunião com Lula, que vai minimizar ações do venezuelano
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente George Walker
Bush transmitiu a seus interlocutores brasileiros, nas conversas fechadas da sexta-feira, a
nítida sensação de que está disposto a minimizar as reações a
iniciativas e provocações do venezuelano Hugo Chávez.
Tanto é assim que o tema
Chávez foi tratado muito rapidamente e sem a menor contundência durante a conversa
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, ao contrário do
que anunciaram fontes do governo norte-americano antes
da viagem de Bush.
Não houve nada que se parecesse a um pedido para que Lula tentasse moderar o governante venezuelano. A percepção dos interlocutores brasileiros de Bush coincide com relatório recebido pelo governo
brasileiro sobre recente conversa entre o norte-americano
e outro governante, cujo nome
a Folha não conseguiu saber.
Nela, Bush antecipava a nova
atitude, no pressuposto de que,
reagir ao que diz ou faz Chávez,
só joga mais holofotes sobre o
presidente da Venezuela e aumenta a sua estatura como suposto líder regional anti-Bush.
Nessa disputa pelos corações
dos latino-americanos, aliás,
ambos perdem. Uma pesquisa
do "Latinobarómetro" mostra
que, na sub-região, tanto Bush
como Chávez são reprovados e
obtêm a mesma média (4,6).
Doha
As conversas reservadas serviram também para evidenciar
uma imensa mudança de atitude da administração Bush em
relação às posições brasileiras
nas negociações Rodada Doha,
lançadas pela Organização
Mundial do Comércio na capital do Qatar, em 2001, e virtualmente paralisadas desde então.
Em 2003, na Conferência
Ministerial da OMC em Cancún, o governo norte-americano culpou rudemente o brasileiro pelo fracasso da reunião.
Robert Zoellick, então chefe do
USTr, espécie de ministério do
comércio exterior norte-americano, chegou a dizer que o
Brasil encabeçava os países
"don't want" (que não queriam
um acordo).
Agora, Bush queixou-se dos
europeus e encontrou em Lula
um ombro amigo no qual chorar as mágoas. O presidente dos
EUA lamentou que seu país seja acusado de ser o responsável
pelo impasse nas negociações,
mas que os europeus nada fazem para rompê-lo.
Lula ainda tentou consolá-lo
lembrando que acabara de falar
com Tony Blair, premiê britânico, que está fazendo esforços
para destravar a Rodada Doha.
Bush reconheceu os esforços
de Blair, mas, mesmo assim,
queixou-se de que não estão alcançando resultado algum.
Lamentos à parte, de prático
os dois decidiram apenas solicitar, pela enésima vez, que Celso
Amorim, o chanceler brasileiro, e Susan Schwab, a nova chefe do USTr, tentem um entendimento a dois para ser depois
levado aos demais atores da negociação global.
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