São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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EUA e Irã evitam discutir temas bilaterais em Bagdá

Representantes dos dois países têm primeiro contato público em quatro anos

Premiê iraquiano pede, em encontro sobre segurança regional, que vizinhos não interfiram no país; ele não menciona tropas dos EUA

DA REDAÇÃO

Representantes dos Estados Unidos e do Irã tiveram ontem seu primeiro contato público direto em quatro anos, durante conferência sobre segurança regional organizada pelo governo iraquiano em Bagdá. Mas os dois lados não chegaram a discutir temas bilaterais.
O embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad, fez uma descrição mais otimista do intercâmbio do que a do representante do Irã, Abbas Araghchi, vice-ministro do Exterior.
Segundo Khalilzad, os dois trocaram pontos de vista sobre a situação iraquiana "diretamente e na presença de outros", no que ele descreveu como "uma troca construtiva". Já Araghchi limitou-se a relatar que "não houve um encontro face a face; tudo aconteceu no quadro da reunião".
O iraniano insistiu, em entrevista, que "a presença de forças estrangeiras está alimentando a violência no Iraque" e pediu o estabelecimento de "um cronograma" para a saída dos americanos. "A presença [de forças estrangeiras] é usada para justificar a violência, e a violência é usada para justificar a presença [dessas forças]", disse.
O embaixador americano, por sua vez, pediu que os países vizinhos do Iraque "interrompam o fluxo de soldados, de armas e de propaganda sectária", numa referência ao Irã e a Síria, que os EUA acusam de armar milícias xiitas (no caso iraniano) e sunitas (no caso sírio).
Em 2002, Irã e Síria foram incluídos pelo governo americano no "eixo do mal", ao lado do Iraque de Saddam Hussein e da Coréia do Norte. A idéia dos arquitetos da política externa do presidente George W. Bush era perseguir pela força a mudança de regime no Irã depois de depor o ditador iraquiano.
Com o caos no Iraque, os EUA tiveram que pôr essa idéia de lado, mas o fato de Bush ter intensificado, desde janeiro, as acusações sobre o envolvimento da Guarda Revolucionária iraniana no treinamento de insurgentes xiitas no Iraque provocou temores de que a Casa Branca estivesse pavimentando o terreno para uma ação militar contra o Irã.
Esses temores diminuíram depois que os EUA aceitaram, há três semanas, negociar a normalização das relações com a Coréia do Norte, em troca do arquivamento do projeto norte-coreano de desenvolver um arsenal atômico. Mas Washington insiste na suspensão do programa nuclear iraniano, como pede resolução do Conselho de Segurança da ONU, antes de iniciar negociações bilaterais com Teerã.
EUA e Irã não mantêm relações diplomáticas desde a Revolução Islâmica de 1979.
Durante a conferência, o premiê iraquiano, Nuri Al Maliki, fez um apelo para que nenhum país se intrometa em assuntos internos do Iraque e pediu a cooperação internacional para o fim da violência.
"Pedimos a todos que assumam a responsabilidade de adotar uma posição forte contra o terrorismo no Iraque e que cooperem com a repressão das forças do terror."
Ele não se referiu à presença dos 130 mil soldados americanos no país. Os EUA apóiam o premiê, mas vêm pressionando para que reprima as milícias xiitas -Maliki é xiita, como 60% da população iraquiana.


Com agências internacionais


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