São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Estado incipiente segura ONU no Haiti

Chefe da Minustah e embaixador brasileiro não se arriscam a prever uma data para o fim da missão no país caribenho

Segundo os diplomatas, presidente com visão limitada e carência de instituições dificultam a solução dos problemas

RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Um país relativamente estável na política, mas sem instituições confiáveis e com um presidente descrito como "devagar". É este o Haiti na visão do chefe da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), Edmond Mulet, e do embaixador brasileiro no país, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto.
Nenhum dos dois vislumbra o fim da Minustah.
"Nem todo o dinheiro do mundo vai resolver todos os problemas do Haiti", afirmou Mulet, em entrevista à Folha, em seu escritório. "Realmente não sei quando sairemos. A ONU, a OEA (Organização dos Estados Americanos) ou os EUA estiveram aqui sete ou oito vezes nos últimos anos. Uma saída precipitada poderia pôr tudo a perder. Desta vez, tem de ser para valer", disse Mulet.
Como conquistas da Minustah, ele cita a realização de "três eleições transparentes" no ano passado, a pacificação de regiões turbulentas de Porto Príncipe e a "obtenção da estabilidade política" no governo de coalizão liderado pelo presidente René Préval -que convidou para o ministério políticos de diversos partidos.
Segundo Mulet, uma "foto do Haiti hoje revelaria uma situação horrível, com déficit em diversos aspectos, pobreza, falta de instituições e Estado muito fraco e ausente".
Para ele, é necessário que o país comece logo a viver sob a "égide da lei" e construa instituições para começar a atrair investimentos.
A opinião é semelhante à do embaixador brasileiro, para quem a melhora do Haiti depende do apoio da comunidade internacional e da "capacidade dos estadistas do país".
Questionado sobre se os políticos do país caribenho são estadistas, Andrade Pinto foi reticente: "O presidente eu acredito que tenha [estatura]". Em seguida, porém, o diplomata reclamou da passividade de Préval: "Ele é devagar. É bom, mas me parece devagar."

Prefeito
O embaixador contou, em tom de anedota, que, ao deixar o Palácio Nacional em seu primeiro mandato, Préval transformou o município de Marmelade em uma cidade modelo. "Ele parece prefeito de cidade do interior, tem essa visão, de uma escala pequena. Fala sempre em coleta de lixo, em canal cheio... Não conseguiu fazer muita coisa, mas manteve a paz política", disse.
O embaixador ressalta o apoio da comunidade internacional, mas diz que, a partir de agora, "tudo depende da sabedoria de Préval".
Ele se refere à insistência do haitiano em reconhecer a legitimidade de Taiwan, o que quase levou a China (com direito de veto no Conselho de Segurança da ONU) a impedir a continuidade da Minustah no país.
"Perguntamos a ele: "O que você quer: ter alguém que defenda o palácio ou ter o dinheiro de Taiwan?" Espero que não volte a fazer isso, do contrário realmente estará brincando com a gente. Ele aprendeu o limite", disse Andrade Pinto.


O repórter Raphael Gomide viajou a convite do Exército brasileiro


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