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Estado incipiente segura ONU no Haiti
Chefe da Minustah e embaixador brasileiro não se arriscam a prever uma data para o fim da missão no país caribenho
Segundo os diplomatas, presidente com visão limitada e carência de instituições dificultam a solução dos problemas
RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
Um país relativamente estável na política, mas sem instituições confiáveis e com um
presidente descrito como "devagar". É este o Haiti na visão
do chefe da Minustah (Missão
das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), Edmond
Mulet, e do embaixador brasileiro no país, Paulo Cordeiro de
Andrade Pinto.
Nenhum dos dois vislumbra
o fim da Minustah.
"Nem todo o dinheiro do
mundo vai resolver todos os
problemas do Haiti", afirmou
Mulet, em entrevista à Folha,
em seu escritório. "Realmente
não sei quando sairemos. A
ONU, a OEA (Organização dos
Estados Americanos) ou os
EUA estiveram aqui sete ou oito vezes nos últimos anos. Uma
saída precipitada poderia pôr
tudo a perder. Desta vez, tem
de ser para valer", disse Mulet.
Como conquistas da Minustah, ele cita a realização de
"três eleições transparentes"
no ano passado, a pacificação
de regiões turbulentas de Porto
Príncipe e a "obtenção da estabilidade política" no governo
de coalizão liderado pelo presidente René Préval -que convidou para o ministério políticos
de diversos partidos.
Segundo Mulet, uma "foto do
Haiti hoje revelaria uma situação horrível, com déficit em diversos aspectos, pobreza, falta
de instituições e Estado muito
fraco e ausente".
Para ele, é necessário que o
país comece logo a viver sob a
"égide da lei" e construa instituições para começar a atrair
investimentos.
A opinião é semelhante à do
embaixador brasileiro, para
quem a melhora do Haiti depende do apoio da comunidade
internacional e da "capacidade
dos estadistas do país".
Questionado sobre se os políticos do país caribenho são estadistas, Andrade Pinto foi reticente: "O presidente eu acredito que tenha [estatura]". Em
seguida, porém, o diplomata
reclamou da passividade de
Préval: "Ele é devagar. É bom,
mas me parece devagar."
Prefeito
O embaixador contou, em
tom de anedota, que, ao deixar
o Palácio Nacional em seu primeiro mandato, Préval transformou o município de Marmelade em uma cidade modelo.
"Ele parece prefeito de cidade
do interior, tem essa visão, de
uma escala pequena. Fala sempre em coleta de lixo, em canal
cheio... Não conseguiu fazer
muita coisa, mas manteve a paz
política", disse.
O embaixador ressalta o
apoio da comunidade internacional, mas diz que, a partir de
agora, "tudo depende da sabedoria de Préval".
Ele se refere à insistência do
haitiano em reconhecer a legitimidade de Taiwan, o que quase levou a China (com direito
de veto no Conselho de Segurança da ONU) a impedir a continuidade da Minustah no país.
"Perguntamos a ele: "O que
você quer: ter alguém que defenda o palácio ou ter o dinheiro de Taiwan?" Espero que não
volte a fazer isso, do contrário
realmente estará brincando
com a gente. Ele aprendeu o limite", disse Andrade Pinto.
O repórter Raphael Gomide viajou a convite do
Exército brasileiro
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