São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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OEA acha difícil pôr força internacional na fronteira

Equador insiste em presença de outros países para evitar incursões da Colômbia

Em inspeção no local do bombardeio colombiano, secretário-geral da OEA sugere acordos bilaterais "sérios" e verificáveis

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A ANGOSTURA (EQUADOR)

ADRIANA KÜCHLER
ENVIADA ESPECIAL A QUITO

O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, disse ontem ser "muito difícil" que uma força internacional atue na fronteira entre a Colômbia e o Equador, tal como insiste Quito. Insulza defendeu que os países cheguem a acordos "sérios e concretos" sobre os problemas na divisa e a mecanismos também sérios para verificar se são cumpridos.
O representante da OEA foi questionado sobre a proposta da força de paz após vistoriar, à frente de uma comissão da organização, a área do acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na selva equatoriana bombardeado pela Colômbia no último dia 1º -o que levou Quito a romper relações diplomáticas com Bogotá.
"Creio que é muito difícil, muito difícil controlar uma fronteira como essa, como também é muito difícil que outros países que não são da região contribuam com muitas forças militares", disse Insulza, que também citou a dificuldade de soldados do exterior atuarem bem na área de selva.
O secretário-geral da OEA disse que a proposta equatoriana será "estudada", mas lembrou que ela tem de ser um pedido conjunto de Quito e Bogotá e que decisão final virá na reunião dos chanceleres da organização, no dia 17.
Insulza frisou a necessidade de os países chegarem a acordos "sérios e passíveis de verificação" para pôr fim às tensões na área -embora a fase mais aguda da crise tenha passado, o presidente equatoriano, Rafael Correa, afirmou que as relações com a Colômbia só serão retomadas "gradualmente".

Farc na fronteira
O envio de uma força de paz foi proposto por Correa na reunião do Grupo do Rio, na República Dominicana, na última sexta-feira, e ecoado pelos ministros Gustavo Larrea (Segurança Interna e Externa) e Wellington Sandoval (Defesa), que também acompanharam a comissão da OEA na visita ao local do ataque colombiano, na região de Angostura, Província de Sucumbíos.
Autoridades equatorianas têm repetido que é "impossível" para as forças do país controlarem completamente a fronteira e cobram do Exército colombiano maior controle sobre a divisa -grande parte, dizem, está nas mãos da guerrilha. Antes do bombardeio que matou o número dois das Farc, Raúl Reyes, o Equador já havia feito outras queixas sobre incursões por terra e no espaço aéreo do país pelas Forças Armadas do vizinho.
A Combifron (Comissão Binacional de Fronteira), que deveria tratar do tema, mostrou-se ineficaz, daí a proposta de novos acordos feita por Inzulza. "Queremos que [a OEA] garanta a vigilância na fronteira. Se não pode fazer, podíamos pedir ajuda aos capacetes azuis [da ONU]", disse o ministro Larrea. "A força de paz seria muito importante porque do lado da fronteira colombiana não está o Exército do país, estão as Farc", disse Sandoval.
O ministro da Defesa negou as acusações de que as Forças Armadas do país tenham um pacto de não-agressão com as Farc. "É o contrário, são eles que não nos atacam. Mas nós vamos continuar atuando contra qualquer invasão de forças regulares e não-regulares em nosso território."

Violadas
A comissão da OEA, que chegaria ontem à noite a Bogotá, foi criada em uma reunião de emergência, na semana passada, para tratar da crise entre os dois países. O objetivo é produzir um relatório a ser analisado pelos chanceleres, com "opiniões a respeito das normas jurídicas que foram violadas para que não tornem a ser violadas", disse Insulza.
"A visita ao local foi para complementar a ampla informação que tivemos na reunião em Quito", disse o embaixador brasileiro na OEA, Osmar Chofi, integrante da comissão ao lado de representantes de Panamá, Bahamas, Peru e Argentina. A vistoria do grupo durou cerca de uma hora. Não houve tempo para ouvir representantes da comunidade local.


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