São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Dalai-lama anuncia que vai se aposentar da política

Ganhador do Nobel da Paz de 1989 continua como líder religioso budista

Decisão segue promessa antiga de tibetanos; nova liderança será escolhida em eleição direta em 20 de março


FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Aos 76 anos, o dalai-lama anunciou ontem que deixará o comando político do governo tibetano no exílio, com sede na Índia. O ganhador do Nobel da Paz em 1989, porém, continuará como líder religioso budista.
"Desde os anos 60, tenho enfatizado repetidamente que os tibetanos precisam de um líder, eleito livremente pelos tibetanos, a quem eu possa devolver o poder", disse o dalai-lama, em Dharmsala (Índia), em discurso para celebrar o aniversário do fracassado levante de 1959.
"Agora, claramente alcançamos a hora de colocar isso em prática", afirmou.
"O meu desejo de devolver a autoridade não tem nada a ver com o desejo de me esquivar de responsabilidade. É para beneficiar os tibetanos no longo prazo. Não é porque eu me sinta desmotivado."
Nos últimos meses, o dalai-lama vinha sinalizando o desejo de se afastar da esfera política, mas outras lideranças tibetanas têm pedido pela sua continuidade.
Eles temem uma fragmentação do movimento, que prega uma autonomia de fato com relação a Pequim, acusada de governar o Tibete com punho de ferro.
"Milhares de pedidos [contra a sua saída] têm chegado, mas ele não os aceita", disse o premiê (kalon tripa), Samdhong Rinpoche.
O anúncio foi recebido com ceticismo pelo governo chinês, que o acusa de trabalhar para a independência do Tibete. "Nos últimos anos, ele tem alegado que quer se aposentar, mas acho que ele está enganando a comunidade internacional", disse, em Pequim, a porta-voz da Chancelaria, Jiang Yu.
Os assuntos políticos ficarão com o novo kalon tripa, que será escolhido no próximo dia 20, em votação direta da comunidade no exílio. O favorito é o professor de direito da Universidade Harvard Lobsang Sangay, 42.
O cargo foi criado em 2001, mas até agora era esvaziado pelo dalai-lama, que tem a palavra final nas decisões do Parlamento, instalado em Dharmsala há meio século.

LÍDER AOS 15
Preparado desde os 2 anos, Lhamo Dhondrub se tornou o 14º dalai-lama em 1950, aos 15. Assumiu a função de chefe de Estado do Tibete em meio à maior presença militar chinesa após a Revolução Comunista de 1949.
Em março de 1959, ele encabeçou uma revolta contra Pequim, mas a sublevação foi derrotada em um dia. Os líderes fugiram para a Índia, onde estabeleceram o governo no exílio.
A China diz que o Tibete está há séculos incorporado a seu território, mas a região vivia em relativo isolamento até a ascensão comunista.
Nas últimas décadas, a China tem intensificado a presença na região por meio de obras, como a construção da ferrovia que liga a capital do Tibete, Lhasa, ao resto do país, inaugurada em 2006.
Além disso, o governo tem incentivado a migração de chineses da etnia majoritária han para o Tibete.


Texto Anterior: Afeganistão: Otan matou primo de Karzai, afirma irmão
Próximo Texto: Análise: Distinção de poderes religioso e temporal ficou impraticável
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.