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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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Fuzileiros navais atiram contra civis perto de palácio

PAUL EEDLE
DO "FINANCIAL TIMES", EM BAGDÁ

O 1º Batalhão do 5º Regimento de Marines estava tão assustado com ataques de combatentes iraquianos à paisana ontem nas ruas de Bagdá que abriu fogo repetidamente contra homens, mulheres e crianças desarmados.
Por três vezes no espaço de três horas eu vi os marines que haviam capturado um dos palácios menores de Saddam Hussein abrir fogo, matando cinco pessoas e ferindo outras cinco, entre as quais uma menina de 6 anos que foi atingida na cabeça.
O cabo Manuel Silva disse, no palácio de Adhamiya, zona norte da cidade, que os marines haviam sido informados de que Saddam poderia estar escondido na área e que sofreram fogo sustentado de granadas propelidas por foguetes e armas portáteis. Um oficial informou mais tarde que os marines haviam sofrido muitas baixas. "Os soldados [iraquianos] não estão usando uniformes", disse o cabo Silva. "Você tenta descobrir de onde os tiros estão vindo e tudo que se vê são civis."
A cerca de 800 metros, tínhamos visto um homem em trajes civis carregando um lançador de granadas. Dobrando a esquina, um combatente morto jazia no pavimento ao lado de uma palmeira, o rosto coberto por um lenço branco. Ele estava vestindo calças cinzas e um agasalho rosa.
Os marines estavam atirando contra qualquer coisa que encarassem, ainda que remotamente, como ameaça. Um velho Volkswagen azul veio de um beco diante do portão do palácio. Um marine postado sobre o arco de pedra do portão abriu fogo, e o veículo se chocou contra um muro.
Ouvimos gritos no beco. Nenhum dos soldados norte-americanos se moveu. Se não fosse Mohammed Fatnan, o tradutor iraquiano da equipe da TV britânica Channel 4, os norte-americanos não teriam tratado os feridos. Fatnan atravessou a rua diante do palácio, na mira dos canhões de dois blindados norte-americanos, e voltou trazendo uma menina, Zahra Abdel-Samii, sangrando de um ferimento na cabeça.
No beco, um homem que correra para a varanda de sua casa ao ouvir os tiros foi morto. Iraquianos gritando "Só Alá é Deus" o levaram a um carro.
Um furgão Mitsubishi branco rugia pela rua principal, que corre ao lado das muralhas do palácio, seu motorista curvado sobre o volante, inconsciente ou talvez já morto. O furgão saiu da avenida e atingiu um muro. Fatnan e dois marines correram para o outro lado da rua, para ajudar uma mulher ferida no braço e no pé, e um jovem, seu filho, ferido na cabeça.
O motorista morto não havia compreendido os disparos de advertência, que tinham por objetivo fazê-lo parar.


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