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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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AS PROVAS

Para ele, não são os EUA que devem localizar material, causa alegada para o conflito

ONU deve buscar armas, diz Annan

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse ontem que os inspetores de armas da entidade têm que voltar a trabalhar no Iraque assim que possível.
Sua tarefa, porém, será convencer os Estados Unidos a deixarem isso acontecer, já que os próprios americanos resolveram se encarregar de buscar armas proibidas que o regime iraquiano teria produzido. Até agora, nada acharam.
Encontrar as provas de que Saddam Hussein violou resoluções e tratados internacionais é um ponto vital da estratégia de Washington para o conflito.
O governo americano sustentou durante meses no Conselho de Segurança que as armas existiam, a despeito de os inspetores da ONU, o sueco Hans Blix e o egípcio Mohammed El Baradei, nunca as terem visto.
"O mandato deles ainda é válido. Só está suspenso porque não é possível operar durante a guerra. Espero que Blix e Baradei possam voltar o mais rápido possível e acho que eles são os únicos com mandato para desarmar o Iraque", afirmou Annan.

Entraves
Mas uma frase de Victoria Clarke, a porta-voz do Pentágono, mostra o tamanho da disputa que haverá a partir de agora.
Após ressaltar que os Estados Unidos esperavam que Blix e Baradei não encontrassem mesmo armas no Iraque por causa das ações do regime iraquiano, ela respondeu da seguinte forma ao ser questionada se, agora, os dois poderiam voltar, já sem os olhos do regime à volta: "Não sei. É melhor perguntar ao Departamento de Estado".
Pouco antes, seu colega na Casa Branca, Ari Fleischer, havia indicado que os Estados Unidos querem eles mesmo mostrar as supostas provas ao mundo: "Estamos muito confiantes que existem essas armas de destruição em massa. É disso que se trata essa guerra. Acreditamos que as encontraremos".
Ele teve ainda que rebater rumores de que os americanos poderiam até "plantar" as provas caso não pudessem achá-las.
O porta-voz do presidente George W. Bush disse que os próprios iraquianos deverão agora ajudar as tropas anglo-americanas a localizar tais armas.

Recompensa
Os Estados Unidos, inclusive, decidiram oferecer recompensa a quem der pistas para que encontrem as armas.
Elas foram o ponto central da discussão na ONU sobre a aprovação ou não de uma resolução do Conselho de Segurança avalizando a guerra -o que acabou não acontecendo.
Os integrantes do Conselho que eram contrários -liderados por França e Alemanha, e depois pela Rússia- ao conflito defendiam mais tempo para os inspetores trabalharem no Iraque antes de declarar o início ou não de uma guerra para desarmar Saddam Hussein.
As dúvidas sobre a existência das armas aumentaram com o fato de as tropas iraquianas não as terem utilizados contra a coalizão que invadiu o país.
Por outro lado, Blix, que viajou à Europa, tampouco contribuiu para aumentar suas chances de voltar ao Iraque ao declarar que a busca das armas não foi, em sua opinião, o motivo real da guerra. "Estou muito curioso para ver se eles encontrarão algo", afirmou.
Não só ele, como informou ontem o próprio Departamento de Estado americano em um relatório diário que elabora sobre reações da imprensa mundial.
O texto do governo resume assim a posição majoritária pelo planeta: "A falta de uma descoberta decisiva de armas de destruição em massa revelou que Saddam não era uma ameaça suficiente para justificar o uso da força".


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