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AMÉRICA LATINA
Dissidentes reúnem assinaturas suficientes para consulta popular sobre o atual regime; Fidel ataca iniciativa
Grupo cubano pede referendo por mudanças
DA REDAÇÃO
Um grupo de dissidentes cubanos apresentou ontem na Assembléia Nacional do país uma petição inédita, assinada por mais de
11 mil pessoas, para a convocação
de um referendo para reformas
democráticas e o fim do regime
comunista de partido único.
O líder dissidente Oswaldo Paya
e dois outros ativistas locais chegaram ontem à Assembléia Nacional, em Havana, carregando
duas caixas de papelão contendo
listas com 11.020 assinaturas, mais
que o exigido pela Constituição
para a convocação de referendo.
"Um novo momento começou
para nossa nação, um momento
de reconciliação", disse Paya, defensor de uma mudança interna
pacífica no regime do país.
O pedido de referendo faz parte
do chamado Projeto Varela, que
se tornou a principal causa para o
pequeno grupo dissidente interno
de Cuba e que busca apoio popular para uma votação pela liberdade de expressão e associação, uma
anistia para prisioneiros políticos,
mais oportunidades para negócios privados, uma nova lei eleitoral e uma eleição geral.
O governo do ditador Fidel Castro criticou o projeto como um
plano financiado pelo seu tradicional inimigo ideológico, os Estados Unidos, e disse que ele não
levaria a lugar nenhum.
O abaixo-assinado foi entregue
somente dois dias antes da chegada do ex-presidente americano
Jimmy Carter (1977-1981), ativista
dos direitos humanos e da democracia, para uma visita de cinco
dias à ilha, a convite de Fidel.
Carter, crítico do embargo comercial americano de 40 anos
contra Cuba, se encontrará três
vezes com Fidel, que está no poder desde a revolução de 1959.
Num aparente gesto para agradar a Carter, as autoridades cubanas libertaram, no último domingo, o mais famoso dissidente, Vladimiro Roca, dois meses antes de
completar sua sentença de cinco
anos de prisão por haver escrito
textos críticos ao governo.
Roca disse ontem que o pedido
de referendo é "um passo adiante", porque o governo permitiu a
coleta de assinaturas, mas disse
duvidar que o governo permita
uma votação.
O governo cubano, que classifica todos os dissidentes como
"peões contra-revolucionários
dos EUA e dos grupos de cubanos-americanos", vem ignorando
publicamente o projeto.
A única reação oficial ao pedido
de referendo foi do ministro das
Relações Exteriores, Felipe Pérez
Roque, que disse que seus autores
estão "na folha de pagamento dos
EUA", ao ser questionado sobre o
assunto numa entrevista.
"Acho que nenhuma das suas
iniciativas ou calúnias a favor das
políticas da superpotência contra
um país pequeno terá qualquer
sucesso ou apoio entre o povo cubano", disse o chanceler.
O principal representante diplomático americano em Cuba,
Vicki Huddleston, classificou o
Projeto Varela como "o mais importante avanço dos últimos tempos entre o pequeno e tradicionalmente fragmentado movimento
de oposição" do país.
Fidel afirma frequentemente
que Cuba não necessita de nenhuma transição política. Ele alega
que o sistema do país é mais democrático que o modelo ocidental e nega a existência de prisioneiros políticos.
Com agências internacionais
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