São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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AMÉRICA LATINA

Dissidentes reúnem assinaturas suficientes para consulta popular sobre o atual regime; Fidel ataca iniciativa

Grupo cubano pede referendo por mudanças

DA REDAÇÃO

Um grupo de dissidentes cubanos apresentou ontem na Assembléia Nacional do país uma petição inédita, assinada por mais de 11 mil pessoas, para a convocação de um referendo para reformas democráticas e o fim do regime comunista de partido único.
O líder dissidente Oswaldo Paya e dois outros ativistas locais chegaram ontem à Assembléia Nacional, em Havana, carregando duas caixas de papelão contendo listas com 11.020 assinaturas, mais que o exigido pela Constituição para a convocação de referendo.
"Um novo momento começou para nossa nação, um momento de reconciliação", disse Paya, defensor de uma mudança interna pacífica no regime do país.
O pedido de referendo faz parte do chamado Projeto Varela, que se tornou a principal causa para o pequeno grupo dissidente interno de Cuba e que busca apoio popular para uma votação pela liberdade de expressão e associação, uma anistia para prisioneiros políticos, mais oportunidades para negócios privados, uma nova lei eleitoral e uma eleição geral.
O governo do ditador Fidel Castro criticou o projeto como um plano financiado pelo seu tradicional inimigo ideológico, os Estados Unidos, e disse que ele não levaria a lugar nenhum.
O abaixo-assinado foi entregue somente dois dias antes da chegada do ex-presidente americano Jimmy Carter (1977-1981), ativista dos direitos humanos e da democracia, para uma visita de cinco dias à ilha, a convite de Fidel.
Carter, crítico do embargo comercial americano de 40 anos contra Cuba, se encontrará três vezes com Fidel, que está no poder desde a revolução de 1959.
Num aparente gesto para agradar a Carter, as autoridades cubanas libertaram, no último domingo, o mais famoso dissidente, Vladimiro Roca, dois meses antes de completar sua sentença de cinco anos de prisão por haver escrito textos críticos ao governo.
Roca disse ontem que o pedido de referendo é "um passo adiante", porque o governo permitiu a coleta de assinaturas, mas disse duvidar que o governo permita uma votação.
O governo cubano, que classifica todos os dissidentes como "peões contra-revolucionários dos EUA e dos grupos de cubanos-americanos", vem ignorando publicamente o projeto.
A única reação oficial ao pedido de referendo foi do ministro das Relações Exteriores, Felipe Pérez Roque, que disse que seus autores estão "na folha de pagamento dos EUA", ao ser questionado sobre o assunto numa entrevista.
"Acho que nenhuma das suas iniciativas ou calúnias a favor das políticas da superpotência contra um país pequeno terá qualquer sucesso ou apoio entre o povo cubano", disse o chanceler.
O principal representante diplomático americano em Cuba, Vicki Huddleston, classificou o Projeto Varela como "o mais importante avanço dos últimos tempos entre o pequeno e tradicionalmente fragmentado movimento de oposição" do país.
Fidel afirma frequentemente que Cuba não necessita de nenhuma transição política. Ele alega que o sistema do país é mais democrático que o modelo ocidental e nega a existência de prisioneiros políticos.


Com agências internacionais

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