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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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Para alguns, candidato é títere do atual presidente

Influência de Duhalde paira sobre Kirchner

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

Se as pesquisas de intenção de voto estiverem certas, Néstor Kirchner deve derrotar o ex-presidente Carlos Menem (1989-99) no segundo turno da eleição presidencial da Argentina, no dia 18.
Apoiado pelo atual presidente argentino, Eduardo Duhalde, o governador da Província de Santa Cruz não goza de muita popularidade e, até lançar sua candidatura à Presidência, era desconhecido do eleitorado.
Analistas mais céticos o classificam como um títere de Duhalde e afirmam que não terá autonomia para governar.
"Se eleito, Kirchner será o primeiro presidente peronista fraco da história da Argentina", afirma Guillermo Mondino, da consultoria Latin Source.
"A vantagem de Kirchner nas pesquisas se deve mais ao espírito antimenemista", diz o diretor do Ceop (Centro de Estudos e Opinião Pública), Roberto Bacman.
O sociólogo Eugênio Buidepot, no entanto, acredita que a independência de Kirchner dependerá das urnas. "Se tiver uma margem grande de votos, terá mais independência. Se vencer por uma diferença pequena, terá de contar com mais apoio de Duhalde."
Pesquisa realizada pela consultoria Equis na última semana mostra Kirchner com 58,1% das intenções de voto, e Menem, com 21,7%. No entanto 51,8% dos que dizem que pretendem votar em Kirchner o farão para evitar que Menem volte a ser presidente.
Se eleito, Kirchner será o primeiro presidente nascido na Patagônia, região do extremo sul, rica em petróleo, mas com baixa densidade populacional -leia-se poucos votos.
Sua campanha foi baseada na Província de Buenos Aires, reduto eleitoral de Duhalde, seu padrinho político.
"A verdade é que o eleitor mostrou que quer continuidade e Kirchner é a continuidade de Duhalde", afirma Alberto Etcheberry, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade San Martín.
Segundo ele, a confirmação de que o ministro da Economia, Roberto Lavagna, permanecerá no cargo num eventual governo Kirchner foi uma demonstração disso. "Lavagna foi o grande fator de sucesso eleitoral de Kirchner."

Alinhamento com Brasil
Kirchner representaria, dentro do peronismo, a opção de centro-esquerda, ou o que os argentinos chamam de "progressismo".
Seu programa de governo defende uma maior proteção à indústria nacional, incentivos para as exportações e subsídios para pequenas e médias empresas. A diplomacia de Kirchner também tende ao alinhamento ao Brasil e ao fortalecimento do Mercosul.
Apesar de ser considerado, dentro do peronismo, a antítese de Menem, sua provável eleição não representa uma completa renovação política no país. Tanto Kirchner quanto Menem são peronistas, ainda que de tendências opostas dentro do Partido Justicialista.
Aldo Abram, da consultoria Exante, afirma em relatório sobre as eleições que o modelo econômico proposto pela dupla Kirchner/Lavagna para a Argentina pode ser considerado um modelo semelhante ao brasileiro ou "ao estilo peronista das décadas que antecederam o menemismo". "É um modelo que permitirá aumento da produtividade", afirma.

Pesquisa
Pesquisa realizada pelo Estúdio Broda & Associados com empresários e economistas mostra que Menem seria o favorito do setor empresarial. É apontado como preferido por 43% dos ouvidos, enquanto Kirchner recebeu apenas 23% dos votos.
Duhalde também teria influência sobre um governo Kirchner, segundo o levantamento: 34% dos entrevistados acham que essa influência seria muito alta e 43%, alta. Apenas 1% acha que o atual presidente não irá interferir.
Os empresários também afirmaram que uma vitória de Menem teria efeitos mais positivos sobre os negócios: 51% dos entrevistados acham que a situação melhoraria. Kirchner teve 20%.


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