São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Mea Shearim, onde é proibido comemorar

DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

"Rebelem-se contra os sionistas!", convoca um dos muitos cartazes que cobrem as paredes de uma estreita rua de Jerusalém. Outros usam frases diferentes, mas a mesma mensagem: o Estado de Israel é ilegítimo e deve ser boicotado. Preparados em protesto às comemorações pelo 60º aniversário, o chamado à subversão não está na parte árabe da cidade, mas nos becos do principal bairro judeu ultra-ortodoxo, Mea Shearim (cem portões, em hebraico).
Na última quinta, enquanto boa parte dos israelenses festejava o aniversário do Estado, os ultra-ortodoxos se organizavam em manifestações contra o que consideram uma afronta aos mandamentos da Torá (Velho Testamento). Para eles, o estabelecimento de um Estado judeu em Israel só poderia ocorrer por intervenção divina, com a vinda do messias.
Os cartazes que cobriram Mea Shearim advertem que é "uma transgressão inadmissível" participar da alegria pela independência. O hebraico, idioma nacional ressuscitado pelo sionismo, é boicotado, pois deve ser usado só nos rituais religiosos. Fala-se iídiche, mistura de alemão e hebraico dos judeus da Europa central.
A reportagem da Folha estava na tríplice fronteira entre a parte ocidental, o setor árabe e Mea Shearim quando soou a sirene para homenagear os soldados israelenses mortos em décadas de conflito, tradição que antecede a festa da independência. A divisão invisível de Jerusalém se tornou real: tristeza no primeiro caso, com motoristas parando no acostamento em respeito ao minuto de luto; vida normal nos outros dois terços.
O desprezo dos ultra-ortodoxos aos valores sionistas revolta os laicos. "Não trabalham, não servem no Exército e ainda têm a petulância de boicotar nossa independência", irrita-se o motorista de táxi Shimi Cohen, 32, ao cruzar o bairro religioso.
A maioria dos cerca de 800 mil ultra-ortodoxos de Israel - de uma população de 5,5 milhões de judeus- não trabalha. Segundo estudo da Universidade de Jerusalém, 60% preferem se dedicar aos estudos religiosos, recebendo ajuda do governo. Com uma média de seis filhos, mais de metade vive abaixo da linha de pobreza -no resto da população esse índice é de 15%. Em mais de um sentido, um mundo à parte. (MN)


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