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Mea Shearim, onde é proibido comemorar
DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
"Rebelem-se contra os sionistas!", convoca um dos
muitos cartazes que cobrem
as paredes de uma estreita
rua de Jerusalém. Outros
usam frases diferentes, mas a
mesma mensagem: o Estado
de Israel é ilegítimo e deve
ser boicotado. Preparados
em protesto às comemorações pelo 60º aniversário, o
chamado à subversão não está na parte árabe da cidade,
mas nos becos do principal
bairro judeu ultra-ortodoxo,
Mea Shearim (cem portões,
em hebraico).
Na última quinta, enquanto boa parte dos israelenses
festejava o aniversário do Estado, os ultra-ortodoxos se
organizavam em manifestações contra o que consideram uma afronta aos mandamentos da Torá (Velho Testamento). Para eles, o estabelecimento de um Estado
judeu em Israel só poderia
ocorrer por intervenção divina, com a vinda do messias.
Os cartazes que cobriram
Mea Shearim advertem que é
"uma transgressão inadmissível" participar da alegria
pela independência. O hebraico, idioma nacional ressuscitado pelo sionismo, é
boicotado, pois deve ser usado só nos rituais religiosos.
Fala-se iídiche, mistura de
alemão e hebraico dos judeus da Europa central.
A reportagem da Folha estava na tríplice fronteira entre a parte ocidental, o setor
árabe e Mea Shearim quando soou a sirene para homenagear os soldados israelenses mortos em décadas de
conflito, tradição que antecede a festa da independência. A divisão invisível de Jerusalém se tornou real: tristeza no primeiro caso, com
motoristas parando no acostamento em respeito ao minuto de luto; vida normal
nos outros dois terços.
O desprezo dos ultra-ortodoxos aos valores sionistas
revolta os laicos. "Não trabalham, não servem no Exército e ainda têm a petulância
de boicotar nossa independência", irrita-se o motorista
de táxi Shimi Cohen, 32, ao
cruzar o bairro religioso.
A maioria dos cerca de 800
mil ultra-ortodoxos de Israel
- de uma população de 5,5
milhões de judeus- não trabalha. Segundo estudo da
Universidade de Jerusalém,
60% preferem se dedicar aos
estudos religiosos, recebendo ajuda do governo. Com
uma média de seis filhos,
mais de metade vive abaixo
da linha de pobreza -no resto da população esse índice é
de 15%. Em mais de um sentido, um mundo à parte.
(MN)
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