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Irã vive fim de campanha agressiva que rachou país
Conservadora zona rural está com Ahmadinejad; capital prefere reformista Mousavi
Presidente, conhecido por negar Holocausto, acusa rivais de usarem "táticas de Hitler" contra ele; primeiro turno acontece amanhã
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
Na campanha mais agressiva
e disputada da história do Irã,
que culmina com o primeiro
turno da eleição presidencial
amanhã, o presidente Mahmoud Ahmadinejad acusou ontem seus adversários de usar
"táticas de Hitler" e ameaçou
colocá-los na cadeia "por ofender o presidente".
"Esses insultos e acusações
contra o governo são um retorno aos métodos de Hitler, de repetir mentiras até que se acredite nelas", disse o presidente.
"Quem insulta o presidente
deve ser punido, e a punição é
cadeia", discursou em comício
na frente da Universidade Sharif, em Teerã.
Seu principal rival, o ex-primeiro-ministro Mir Hossein
Mousavi, um reformista moderado, disse que o país sofre de
inflação alta e desemprego e
que o presidente não soube investir nem poupar os recursos
da época em que o petróleo tinha cotações muito mais altas.
Mousavi acusou ainda o rival
de "isolar o Irã e colocar a perder nossa dignidade internacional" ao negar o Holocausto.
Ahmadinejad diz que a inflação está em 14%, enquanto
Mousavi usa números do Banco Central, que apontam para
23,6%. A apresentação de cifras
conflitantes foi a marca dos debates na TV entre os presidenciáveis na semana passada.
O atual presidente ganhou
20 minutos da TV estatal para
se defender das acusações. No
início da semana, a campanha
de Mousavi acusou a mídia do
governo de dar mais espaço a
Ahmadinejad.
Revolução de veludo
Em outro round, na semana
passada, Ahmadinejad acusou
o ex-presidente Hashemi Rafsanjani (1989-1997) e seu filho
de "corrupção e enriquecimento com a polícia". Rafsanjani
pediu anteontem que o supremo líder político e religioso do
país, o aiatolá Ali Khamenei,
que está acima do cargo de presidente, "tome as medidas necessárias para acabar com esse
motim e com esse incêndio de
que já se vê a fumaça".
A violência verbal repercutiu
em Qom, a cidade sagrada dos
aiatolás, maior centro religioso
do país. Catorze clérigos lançaram manifesto dizendo que estão "profundamente preocupados" pela agressividade da campanha eleitoral.
Já um diretor da Guarda Revolucionária, a principal força
de segurança do país, disse que
a oposição de Mousavi pretende fazer uma "revolução de veludo" no Irã -o termo remete
ao pacífico golpe que derrubou
a ditadura comunista na antiga
Tchecoslováquia.
"Mas uma revolução de veludo não terá sucesso no Irã", disse ontem Yadollah Javani, diretor do escritório político da
Guarda.
País dividido
A vitória de Ahmadinejad era
dada como certa até o mês passado. Antes dele, todos os presidentes da República Islâmica
do Irã tiveram um segundo
mandato, e ele tem a simpatia
do líder supremo Khamenei.
A apatia entre jovens e mulheres, descrentes de qualquer
mudança até o começo formal
da campanha, em maio, também ajudava o conservador.
A divisão entre revolucionários islâmicos, aiatolás e os pobres de um lado, e das classes
média e alta, comerciantes,
mulheres e jovens urbanos de
outro era uma marca da política recente iraniana.
Ao acusar Rafsanjani e outros ex-presidentes de corrupção, Ahmadinejad rachou a velha guarda. A economia em desaceleração também não o ajuda. O PIB cresceu 8% em 2007 e
4,5% em 2008, mas não deve
passar de 3% neste ano.
As chances de Ahmadinejad
se concentram em sua performance no interior. Se na metrópole Teerã, de 14 milhões de
habitantes, Mousavi parece levar vantagem, no interior, mais
pobre e mais religioso, Ahmadinejad é favorito.
Nos últimos dois anos, Ahmadinejad fez comícios para
multidões no interior, onde
distribuía dinheiro vivo e empréstimos a recém-casados e
aos excluídos iranianos, um
programa assistencial que chegou a 5,5 milhões de iranianos.
Sua linguagem simples e religiosa e seus trajes modestos
também ajudaram a transformá-lo em herói no campo, onde
mora 30% da população.
Com quatro candidatos (os
outros dois são um clérigo reformista e um conservador que
é ex-líder da Guarda Revolucionária), é possível que haja segundo turno, no dia 19, se nenhum dos candidatos tiver
mais de 50% dos votos.
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