São Paulo, sábado, 11 de junho de 2011

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ANÁLISE

Revés para Obama, acordo resguarda trabalho da imprensa

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Via Twitter, o WikiLeaks saudou ontem o acordo no processo contra Thomas Drake chamando a ação do Departamento de Justiça de "thuggish", coisa de bandido ou brutamontes. Drake podia pegar 35 anos de cadeia e agora deve sair livre.
Foi uma derrota simbólica na campanha do governo Obama para reprimir vazamentos na área de segurança nacional. A campanha amontoa processos contra funcionários de cinco órgãos de segurança nacional, NSA, CIA, FBI, Pentágono e Departamento de Estado, para dar exemplo em cada um.
O alvo maior é Bradley Manning, que teria vazado os despachos diplomáticos divulgados pelo WikiLeaks no início do ano e é acusado de "ajudar o inimigo". O Departamento de Justiça investiga o próprio Julian Assange, fundador do WikiLeaks, para tentar incluí-lo na ação.
O caso de Thomas Drake era um teste para a viabilidade do uso da legislação antiespionagem americana contra funcionários que vazam para a imprensa, não para países estrangeiros. Ou seja, contra "whistle-blowers", delatores de desvios governamentais a jornalistas, e não só contra espiões.
O "revés" do governo foi manchete ontem no "New York Times", em parte, pelas implicações sobre o trabalho da própria imprensa.
O processo contra o funcionário da CIA, que está correndo, é por um vazamento ao jornalista do "NYT" James Risen, que há três semanas foi intimado a depor. E a fonte de uma cobertura histórica do jornal, dos Papéis do Pentágono, sobre o Vietnã, foi o primeiro "whistle-blower" processado com base na lei de espionagem, em 1973. Também sem sucesso, como agora com Drake.
Ao assumir, Obama louvou publicamente os delatores, "a melhor fonte de informação sobre fraude e abuso no governo". Mas há um mês e meio ele se reuniu com cinco ativistas de transparência governamental e mudou o discurso, afirmando não aceitar os que possam ameaçar a segurança nacional.
Além dos vazamentos do WikiLeaks, o que move o presidente americano é o tamanho alcançado pela comunidade de inteligência, pós-11 de Setembro, e o consequente risco de descontrole sobre informações secretas.
O acordo no processo foi uma derrota de Obama, cuja campanha tem levado a comparações com Richard Nixon. Mas é, no dizer da organização Government Accountability Project, em pronunciamento no site, "uma vitória para os delatores de segurança nacional e contra a corrupção dentro das agências de inteligência".


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