São Paulo, quarta-feira, 11 de julho de 2007

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Acaba em chacina o motim em mesquita do Paquistão

Governo cita 50 mortos, mas podem ser mais; grupo era de radicais islâmicos

Líder do grupo também foi morto por militares; mídia não pôde contar cadáveres em hospitais; EUA renovam apoio ao ditador Musharraf

DA REDAÇÃO

Militares paquistaneses irromperam ontem de madrugada na Mesquita Vermelha, localizada no centro da capital, Islamabad, matando, segundo o governo, cerca de 50 extremistas islâmicos que desafiavam o regime do ditador Pervez Musharraf. Também morreram o líder dos insurgentes, Abdul Rashid Ghazi, e oito militares.
O número de vítimas pode ser maior. A polícia e o Exército impediram os jornalistas de se aproximar do local ou verificar em hospitais a quantidade de cadáveres recolhidos.
A mesquita estava em conflito aberto com a ditadura desde janeiro, exigindo o endurecimento do regime islâmico segundo o modelo do Taleban, que governou o vizinho Afeganistão entre 1996 e 2001. O grupo era visto como simpatizante da Al Qaeda.
O médico de um hospital localizado a 850 metros da mesquita disse à BBC ter recebido nas primeiras horas do confronto 26 civis mortos por tiros. No final da manhã o Exército determinou que o hospital, procurado pela mídia e familiares, fosse fechado no prazo de 20 minutos. Seus 700 leitos foram desocupados.

"Força bruta"
Asma Jehangir, porta-voz da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, disse ao "Financial Times" estar pedindo a instalação de uma comissão independente para apurar os efeitos "do uso desproporcional da força bruta".
Desde o dia 3, quando do primeiro tiroteio entre policiais e radicais rebelados, 24 pessoas já haviam morrido, diz o "New York Times". A versão oficial era a de que radicais armados mantinham no interior da mesquita um número não quantificado de mulheres e crianças como escudo humano.
O Ministério do Interior disse que ao menos 30 crianças e 27 mulheres conseguiram escapar ao amanhecer, já durante a troca de tiros.
O porta-voz do governo, Javed Iqbal Cheema, disse que Abdul Rashid Ghazi se recusou a se render no meio da madrugada, depois de constatado o fracasso das negociações de 11 horas para que a mesquita fosse desocupada pacificamente. Participaram da negociação quatro líderes religiosos.
Ghazi foi morto ao amanhecer. Estava cercado por cerca de 70 seguidores. Ele é o filho do fundador da Mesquita Vermelha e dividia a direção das escolas islâmicas com seu irmão, Mohammed Abdul Aziz, preso na quarta-feira quando tentava deixar a mesquita com um traje feminino.
Ghazi foi no passado um muçulmano moderado. Chegou a trabalhar no Ministério da Educação. Sua radicalização se consumou em 2004, quando tomou partido de líderes tribais pressionados por Musharraf por darem abrigo a combatentes afegãos do Taleban.
Os militares encontraram ontem forte resistência. Dezoito horas depois dos primeiros tiros, às 4h20, hora local, ainda eram ouvidas rajadas de metralhadora e a explosão de granadas. O governo disse que faltava eliminar apenas alguns focos rebeldes.

Escolas religiosas
Além da mesquita parcialmente destruída por uma semana de combates, o local é dividido em 70 cômodos em que funcionavam salas de aula. Existem no Paquistão de 13 mil a 20 mil dessas escolas, chamadas madrassas, responsáveis pelo ensino primário e secundário das crianças mais pobres.
Essa rede é considerada um foco de extremismo islâmico, com arsenais a serem usados em caso de conflito interno.
O "Financial Times" diz que Musharraf poderá agora prosseguir na neutralização dos que procuram "talibanizar" o Paquistão ou, ao contrário, somar forças com os grupos religiosos mais conservadores, que lhe dariam uma base social mais sólida, apesar da oposição dos americanos à idéia.

Apoio dos Estados Unidos
"O governo paquistanês reagiu de modo responsável e coerente com sua missão de preservar a ordem", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey.
Em Bruxelas, o responsável pela política externa da União Européia, Javier Solana, disse que o bloco está "imensamente preocupado" e lamentou "a perda de vidas humanas".


Com agências internacionais


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