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Acaba em chacina o motim em mesquita do Paquistão
Governo cita 50 mortos, mas podem ser mais; grupo era de radicais islâmicos
Líder do grupo também foi
morto por militares; mídia
não pôde contar cadáveres
em hospitais; EUA renovam
apoio ao ditador Musharraf
DA REDAÇÃO
Militares paquistaneses irromperam ontem de madrugada na Mesquita Vermelha, localizada no centro da capital, Islamabad, matando, segundo o governo, cerca de 50 extremistas
islâmicos que desafiavam o regime do ditador Pervez Musharraf. Também morreram o líder dos insurgentes, Abdul
Rashid Ghazi, e oito militares.
O número de vítimas pode
ser maior. A polícia e o Exército
impediram os jornalistas de se
aproximar do local ou verificar
em hospitais a quantidade de
cadáveres recolhidos.
A mesquita estava em conflito aberto com a ditadura desde
janeiro, exigindo o endurecimento do regime islâmico segundo o modelo do Taleban,
que governou o vizinho Afeganistão entre 1996 e 2001. O grupo era visto como simpatizante
da Al Qaeda.
O médico de um hospital localizado a 850 metros da mesquita disse à BBC ter recebido
nas primeiras horas do confronto 26 civis mortos por tiros.
No final da manhã o Exército
determinou que o hospital,
procurado pela mídia e familiares, fosse fechado no prazo de
20 minutos. Seus 700 leitos foram desocupados.
"Força bruta"
Asma Jehangir, porta-voz da
Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, disse ao "Financial Times" estar pedindo a
instalação de uma comissão independente para apurar os
efeitos "do uso desproporcional da força bruta".
Desde o dia 3, quando do primeiro tiroteio entre policiais e
radicais rebelados, 24 pessoas
já haviam morrido, diz o "New
York Times". A versão oficial
era a de que radicais armados
mantinham no interior da mesquita um número não quantificado de mulheres e crianças como escudo humano.
O Ministério do Interior disse que ao menos 30 crianças e
27 mulheres conseguiram escapar ao amanhecer, já durante a
troca de tiros.
O porta-voz do governo, Javed Iqbal Cheema, disse que
Abdul Rashid Ghazi se recusou
a se render no meio da madrugada, depois de constatado o
fracasso das negociações de 11
horas para que a mesquita fosse
desocupada pacificamente.
Participaram da negociação
quatro líderes religiosos.
Ghazi foi morto ao amanhecer. Estava cercado por cerca
de 70 seguidores. Ele é o filho
do fundador da Mesquita Vermelha e dividia a direção das
escolas islâmicas com seu irmão, Mohammed Abdul Aziz,
preso na quarta-feira quando
tentava deixar a mesquita com
um traje feminino.
Ghazi foi no passado um muçulmano moderado. Chegou a
trabalhar no Ministério da
Educação. Sua radicalização se
consumou em 2004, quando
tomou partido de líderes tribais
pressionados por Musharraf
por darem abrigo a combatentes afegãos do Taleban.
Os militares encontraram
ontem forte resistência. Dezoito horas depois dos primeiros
tiros, às 4h20, hora local, ainda
eram ouvidas rajadas de metralhadora e a explosão de granadas. O governo disse que faltava
eliminar apenas alguns focos
rebeldes.
Escolas religiosas
Além da mesquita parcialmente destruída por uma semana de combates, o local é dividido em 70 cômodos em que
funcionavam salas de aula.
Existem no Paquistão de 13 mil
a 20 mil dessas escolas, chamadas madrassas, responsáveis
pelo ensino primário e secundário das crianças mais pobres.
Essa rede é considerada um
foco de extremismo islâmico,
com arsenais a serem usados
em caso de conflito interno.
O "Financial Times" diz que
Musharraf poderá agora prosseguir na neutralização dos que
procuram "talibanizar" o Paquistão ou, ao contrário, somar
forças com os grupos religiosos
mais conservadores, que lhe
dariam uma base social mais
sólida, apesar da oposição dos
americanos à idéia.
Apoio dos Estados Unidos
"O governo paquistanês reagiu de modo responsável e coerente com sua missão de preservar a ordem", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey.
Em Bruxelas, o responsável
pela política externa da União
Européia, Javier Solana, disse
que o bloco está "imensamente
preocupado" e lamentou "a
perda de vidas humanas".
Com agências internacionais
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