|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Ditador pende entre EUA e religiosos
JO JOHNSON E FARHAN
BOKHARI
DO "FINANCIAL TIMES"
A decisão do general Musharraf, do Paquistão, de agir
contra os religiosos que ocupavam a Mesquita Vermelha
tem ramificações que só se
tornarão aparentes nas próximas semanas.
É difícil determinar se o
uso da força contra a mesquita representa uma virada na
abordagem do governo para
combater o extremismo violento. Caso isso se confirme,
o apoio internacional ao general pode se consolidar, aliviando a pressão para que ele
deixe a política e reinstitua a
democracia em seu país.
Os EUA expressaram
apoio público à invasão da
mesquita. Desde os ataques
do 11 de Setembro, o general
Musharraf vem enfrentando
críticas incessantes por não
ter cumprido suas promessas de agir com dureza contra as madrassas que promovem o extremismo religioso.
Ao longo dos seis últimos
anos, surgiu um padrão: ele
periodicamente se declara
decidido a enfrentar o problema, mas em geral termina
por violar suas promessas e
opta por não agir. Os analistas atribuem isso à falta de
legitimidade de seu governo
e à sua dependência do apoio
político de líderes religiosos
conservadores.
Base de apoio
Mas políticos oposicionistas dizem que é otimismo
exagerado, de parte do sempre iludido Ocidente, imaginar que a invasão e a ocupação da Mesquita Vermelha
representem determinação,
da parte do governo, em reprimir as madrassas renegadas. Os líderes religiosos encenaram seu desafio ao Estado em uma mesquita no coração da capital, a pouco
mais de cinco minutos, a pé,
da sede do serviço de informações paquistanês.
"Como foi possível que
eles trouxessem tantas armas, tanta munição? Houve
conivência das agências de
informações ou essa situação
veio a se agravar como resultado de sua incompetência?", perguntou o senador
Farhatullah Babar, porta-voz do Partido do Povo do
Paquistão (PPP).
"Nem Musharraf nem o
Exército podem enfrentar
esse problema sozinhos.
Combater os militantes requer que o governo permita
que um processo democrático se enraíze no Paquistão, o
que por sua vez geraria um
amplo consenso nacional."
Mas o esforço do general
Musharraf para se manter no
poder, depois de seu golpe de
Estado, em 1999, gerou um
relacionamento complexo
entre o Exército e os líderes
religiosos. Os seis principais
partidos religiosos do país,
organizados em uma frente
conhecida como Muttahida
Majlis el-Amal, opuseram-se
a muitas das políticas de
Musharraf. A frente denunciou o general por trair o Taleban, em 2001, e se opõe à
presença de soldados americanos no Paquistão.
Mas, ao mesmo tempo, a
Liga Muçulmana Paquistanesa (Quaid-e-Azam), o partido governista, depende dos
partidos religiosos para
manter sua base de apoio, em
declínio, e para ajudá-lo a
combater os principais partidos de oposição laicos, o PPP,
de Bhenazir Bhutto, e a Liga
Muçulmana do Paquistão-Nawaz (LMP-N), de Nawaz
Sharif, derrubado do posto
de premiê por Musharraf.
Ao recuar repetidamente
de suas promessas de reformar o conteúdo jihadista no
currículo das madrassas e estancar o influxo de dinheiro
aos seminários radicais, o governo tornou mais ousadas
as ações das forças sectárias
e extremistas, contribuindo
para a violência que vem abalando o país, argumenta o
prestigioso International
Crisis Group (ICG).
Opções do general
O general Musharraf agora
dispõe de duas opções principais. Caso a operação contra a Mesquita Vermelha sirva como amostra de determinação de reprimir o extremismo religioso, ele poderia
optar por abandonar os partidos religiosos conservadores, que vêm apoiando seu
regime em troca da anuência
do governo à "talebanização"
da sociedade paquistanesa.
Em lugar disso, ele poderia
procurar uma aliança política mais ampla com Bhutto
ou Sharif. Os dois antigos
premiês insistiriam, porém,
em que ele deixasse o Exército como parte de qualquer
acordo que resulte em apoio
à reeleição de Musharraf.
Alternativamente, não seria impossível que o general
Musharraf se sentisse tentado a usar a ameaça de uma
crise iminente no cinturão
das madrassas como pretexto para decretar um estado
de emergência. "Caso isso
aconteça", alerta Samina Ahmad, do ICG, "os paquistaneses poderiam passar a ver os
EUA como empecilho à democracia, o que levaria Washington a perder os vestígios
de credibilidade que lhe restam no país."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Sob pressão, Bush pede tempo para ter avanços no Iraque Índice
|