São Paulo, quarta-feira, 11 de julho de 2007

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Peru convoca Forças Armadas contra greve

Menina de 12 anos morre ao ser atingida em conflito entre professores e polícia; García cita fator externo

DA FRANCE PRESSE, EM LIMA

O governo peruano anunciou ontem a mobilização das Forças Armadas por 30 dias, numa tentativa de conter uma avalanche de greves e paralisações regionais que vêm colocando a Presidência do social-democrata Alan García em apuros desde a última quinta-feira.
Ontem, uma menina de 12 anos morreu durante um confronto entre professores em greve e a polícia após levar uma pedrada em Abancay, numa das regiões mais pobres do país. A garota foi atingida perto de uma praça onde ocorria um protesto no qual a polícia usou gás lacrimogêneo e os manifestantes reagiram com pedradas.
García negou que o Peru esteja vivendo uma convulsão e acusou "grupos pequenos" da esquerda radical de provocar desordens. "Há um pouco de barulho no teto, barulho de exagero, barulho de revanche, barulho de extremismo, barulho incentivado desde fora, mas os fundamentos estão sólidos e o edifício está firme", disse, sem dar detalhes sobre o "barulho incentivado de fora".

Sem estado de emergência
Um decreto publicado no diário oficial ordenou que as forças militares saiam às ruas em apoio à manutenção da ordem pública -mas sem que isso implique a declaração de estado de emergência. O texto ressalta que durante a intervenção militar "não haverá restrição, suspensão ou constrangimento dos direitos fundamentais" garantidos na Constituição e nos tratados internacionais. O objetivo, diz o decreto, é garantir o funcionamento de entidades e serviços públicos essenciais.
A onda de protestos eclodiu a duas semanas de García completar o primeiro dos cinco anos de seu mandato. O alvo da greve é a Lei da Carreira Pública Magisterial, recém-promulgada, que submete os professores a avaliações constantes e implica a demissão daqueles que forem reprovados pela terceira vez nos testes. Em seus comentários, o presidente aludiu a seu adversário na eleição do ano passado, Ollanta Humala, líder do Partido Nacionalista: "Todos sabem que os gatos choram à noite, especialmente quando perderam as eleições".
Já a imprensa de direita vem divulgando, nos últimos dias, a hipótese de ingerência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em temas peruanos. Além da greve por tempo indeterminado dos professores da rede pública, acompanhada de mobilizações diárias em Lima e outras cidades do país, mais paralisações estão previstas a partir de hoje. A Federação dos Trabalhadores Mineiros e Metalúrgicos inicia uma greve nacional de dois dias, e as regiões meridionais de Tacna, Moquegua e Puno anunciaram uma paralisação por tempo indeterminado.
Além disso, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) programou uma jornada de protesto, com passeatas, em apoio às reivindicações sindicais por aumentos salariais, recolocação de demitidos e a alocação de verbas para obras regionais. Por causa da greve, foi suspensa hoje a operação do trem turístico entre a cidade de Cusco e as ruínas incas de Machu Picchu. A operadora Peru Rail, responsável pela linha, alegou motivo de segurança.


Tradução de CLARA ALLAIN


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