|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Vaticano, protestantes não são igreja
Documento da Santa Sé reafirma Igreja Católica como única verdadeira e revolta clérigos de outras religiões cristãs
Publicação que pretende "esclarecer" questões que datam do Concílio Vaticano 2º declara ainda que Igreja Ortodoxa tem "lacunas"
"Observatore Romano" - 9.jul.07/France Presse
|
|
Crianças recebem, nos Alpes italianos, o papa Bento 16; o pontífice já havia feito criticas à utilização da expressão "igrejas irmãs"
FÁBIO CHIOSSI
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
O Vaticano tornou público
ontem um documento chamado "Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a igreja", no qual
reafirma o dogma de que a Igreja Católica é a verdadeira e única igreja de Cristo e declara que
as igrejas protestantes não podem ser chamadas de igrejas.
O documento gerou protestos entre vários clérigos cristãos, que o qualificaram de
ofensivo e danoso ao diálogo
ecumênico.
Elaborado pela Congregação
para a Doutrina da Fé e ratificado pelo papa Bento 16, o texto,
em forma de cinco questões e
suas respectivas respostas, pretende "dar com clareza a genuína interpretação de algumas
afirmações" sobre a natureza
da Igreja Católica originadas do
Concílio Vaticano 2º (1962-65).
Convocado pelo papa João 23,
o Vaticano 2º é visto por seus
defensores como um movimento que modernizou os ritos
e concepções da Igreja Católica
e por seus críticos como um
concílio que em parte descaracterizou o catolicismo.
As "Respostas..." afirmam
que o concílio não quis modificar a "precedente doutrina sobre a igreja". O texto declara
então, a título de esclarecer dúvidas, que as diversas igrejas
nacionais ortodoxas podem
efetivamente ser chamadas de
igrejas, dado que mantêm entre
seus ritos a eucaristia e a ordenação de sacerdotes. Assim,
"instrumentos de santificação"
estão presentes também nelas.
A Igreja Ortodoxa é aquela
formada pelos cristãos do Leste
Europeu, do Egito e da Ásia e
que nasceu de um cisma entre
as dioceses de Roma e de Constantinopla, em 1054.
Porém, segue o texto, essas
igrejas ortodoxas carecem da ligação com a católica -a verdadeira igreja de Cristo -e, portanto, são "lacunosas".
Segundo o site "Catholic
News Service", o documento
afirma, nessa passagem, que
"os elementos de santificação
que existem fora da estrutura
da Igreja Católica podem ser
usados como instrumentos de
salvação, mas o valor deles deriva da "plenitude da graça e da
verdade que foi confiada à Igreja Católica'".
Já sobre algumas outras comunidades cristãs, como as
igrejas protestantes, entre as
quais a luterana e a calvinista,
nascidas no século 16 da Reforma dentro do catolicismo, as
"Repostas.." atestam que não
podem ser consideradas igrejas, dado que não contemplam
o sacerdócio e não adotam a eucaristia, que simboliza a comunhão com Cristo.
Longa discussão
Segundo o "Catholic News
Service", o documento publicado ontem encerra uma longa
discussão teológica sobre o que
de fato se quis dizer quando, no
Vaticano 2º, chegou-se á conclusão, registrada na constituição dogmática "Lumen gentium", promulgada pelo papa
Paulo 6º, que Cristo "subsiste
na Igreja Católica", mas que há
elementos de "santificação e
verdade" fora dela.
Uma discussão relacionada
veio a público em 2000, quando
a Congregação para a Doutrina
da Fé, então chefiada pelo cardeal Joseph Ratzinger, o atual
Bento 16, afirmou, na declaração "Dominus Iesus", que o termo "igrejas irmãs" estava sendo usado de forma equivocada
no diálogo ecumênico.
Ainda segundo o "Catholic
News", o texto publicado ontem procurou afastar a idéia de
que a igreja de Cristo é a soma
de todas as igrejas e comunidades eclesiásticas ou algo que só
existe como um objetivo futuro. Ela é, de acordo com a Igreja
Católica, a própria Igreja Católica. É nela que Cristo está, e os
"elementos de santificação" fora dela originam-se verdadeiramente dela.
A grande portadora
Segundo o padre Augustine
di Noia, subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé
e que foi ouvido pelo "Catholic
News", "a igreja não está voltando atrás no seu compromisso ecumênico. Mas (...) é fundamental para qualquer diálogo
que os participantes tenham
clareza sobre sua identidade".
O professor Francisco Borba
Ribeiro Neto, coordenador de
projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, concorda com o
dominicano Di Noia: "Se acharem que esse documento é um
ataque ao ecumenismo, o Vaticano estará sendo mal interpretado. Ele é apenas uma explicitação, para precisar bem os
termos do diálogo ecumênico.
Não significa uma diminuição
das outras denominações".
Ribeiro Neto diz ainda que "é
constitutivo da Igreja Católica
se autodenominar a grande
portadora da mensagem de Jesus Cristo. Qualquer afirmação
fora disso é falsa diplomacia".
Texto Anterior: Venezuela: Chávez comprará bônus para ajudar La Paz a pagar Petrobras Próximo Texto: Texto é hostil, diz líder que viu papa em SP Índice
|