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Defesa de Shalit é popular, porém frágil
Campanha por soltura do militar cativo há quatro anos comove, mas libertar palestinos ainda divide Israel
Críticos afirmam que a troca do soldado refém por detentos acusados de terrorismo ameaça a segurança israelense
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Quanto vale a vida de um
soldado? Onde termina o
drama pessoal e começa o interesse coletivo? Como resguardar o moral de um país
sem fortalecer o inimigo?
Essas e outras questões
que dividem os israelenses
desde a captura do militar Gilad Shalit pelo grupo Hamas,
há quatro anos, tornaram-se
mais agudas nesta semana,
quando sua família iniciou
vigília diante da casa do premiê, Binyamin Netanyahu.
Noam e Aviva Shalit, pais
do refém, percorreram 200
km a pé desde sua casa, na
Galileia, até Jerusalém, numa marcha que arrastou 200
mil e mobilizou o país. Agora, pretendem ficar acampados até que o governo traga
Shalit de volta.
O casal tenta pressionar o
gabinete a pagar o preço pelo
soldado, numa troca que libertaria centenas de palestinos acusados de terrorismo.
A campanha gera simpatia
imediata em um país no qual
a maioria das famílias tem ou
já teve alguém no serviço militar obrigatório.
Mas é um consenso frágil.
Enquanto os pais de Shalit se
instalavam na tenda, do outro lado da rua havia protesto. Contrapondo o slogan
"Gilad ainda está vivo", manifestantes exibiam cartaz
com os dizeres "As próximas
vítimas ainda estão vivas".
Tais argumentos parecem
não convencer os que marcharam com a família Shalit.
"Temos que pagar qualquer
preço", diz a aposentada Iko
Perlmuter, cujos filhos serviram no Exército e os netos deverão seguir seus passos.
Com uma faixa amarela no
pulso, símbolo da campanha, Iko se uniu à marcha na
subida a Jerusalém, o trecho
mais duro. Para ela, não há
dilema. "Não é soltando presos que ficaremos fracos."
Pagar qualquer preço é algo que mesmo os que apoiam
o acordo acham difícil de
aceitar, ainda que não admitam abertamente. Falar contra a libertação do soldado é
tabu em Israel.
TERRORISTAS
Para conter a pressão popular, Netanyahu declarou
aceitar libertar até mil presos
em troca de Shalit, excluindo
"arquiterroristas", e enfatizou os riscos de pagar "qualquer preço". O governo não
divulga cifras, mas segundo
a imprensa, dos mil israelenses mortos em atentados desde os anos 1980, 200 foram
planejados ou cometidos por
palestinos libertados em trocas de prisioneiros.
"Não estamos falando de
um acordo de paz, no qual
poderíamos entender a libertação de terroristas pela esperança de uma reconciliação", diz Hagai Ben-Artzi,
professor universitário e cunhado linha-dura do premiê.
"É a extorsão de um grupo
terrorista que diz que jamais
aceitará o Estado de Israel e
trabalha incansavelmente
para destruí-lo."
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