São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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Defesa de Shalit é popular, porém frágil

Campanha por soltura do militar cativo há quatro anos comove, mas libertar palestinos ainda divide Israel

Críticos afirmam que a troca do soldado refém por detentos acusados de terrorismo ameaça a segurança israelense


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Quanto vale a vida de um soldado? Onde termina o drama pessoal e começa o interesse coletivo? Como resguardar o moral de um país sem fortalecer o inimigo?
Essas e outras questões que dividem os israelenses desde a captura do militar Gilad Shalit pelo grupo Hamas, há quatro anos, tornaram-se mais agudas nesta semana, quando sua família iniciou vigília diante da casa do premiê, Binyamin Netanyahu.
Noam e Aviva Shalit, pais do refém, percorreram 200 km a pé desde sua casa, na Galileia, até Jerusalém, numa marcha que arrastou 200 mil e mobilizou o país. Agora, pretendem ficar acampados até que o governo traga Shalit de volta.
O casal tenta pressionar o gabinete a pagar o preço pelo soldado, numa troca que libertaria centenas de palestinos acusados de terrorismo.
A campanha gera simpatia imediata em um país no qual a maioria das famílias tem ou já teve alguém no serviço militar obrigatório.
Mas é um consenso frágil. Enquanto os pais de Shalit se instalavam na tenda, do outro lado da rua havia protesto. Contrapondo o slogan "Gilad ainda está vivo", manifestantes exibiam cartaz com os dizeres "As próximas vítimas ainda estão vivas".
Tais argumentos parecem não convencer os que marcharam com a família Shalit. "Temos que pagar qualquer preço", diz a aposentada Iko Perlmuter, cujos filhos serviram no Exército e os netos deverão seguir seus passos.
Com uma faixa amarela no pulso, símbolo da campanha, Iko se uniu à marcha na subida a Jerusalém, o trecho mais duro. Para ela, não há dilema. "Não é soltando presos que ficaremos fracos."
Pagar qualquer preço é algo que mesmo os que apoiam o acordo acham difícil de aceitar, ainda que não admitam abertamente. Falar contra a libertação do soldado é tabu em Israel.

TERRORISTAS
Para conter a pressão popular, Netanyahu declarou aceitar libertar até mil presos em troca de Shalit, excluindo "arquiterroristas", e enfatizou os riscos de pagar "qualquer preço". O governo não divulga cifras, mas segundo a imprensa, dos mil israelenses mortos em atentados desde os anos 1980, 200 foram planejados ou cometidos por palestinos libertados em trocas de prisioneiros.
"Não estamos falando de um acordo de paz, no qual poderíamos entender a libertação de terroristas pela esperança de uma reconciliação", diz Hagai Ben-Artzi, professor universitário e cunhado linha-dura do premiê.
"É a extorsão de um grupo terrorista que diz que jamais aceitará o Estado de Israel e trabalha incansavelmente para destruí-lo."


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