São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Cresce pressão para abortar negócio de TV de Murdoch

Investigação aponta envolvimento de executivos no esquema de escutas ilegais, o que eles haviam negado

Partido Trabalhista vai tentar proibir o governo de aprovar a proposta comercial antes do fim da apuração criminal

Max Nash/France Presse
Murdoch e Rebekah Brooks saem da casa dele em Londres, ontem

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Afundado num escândalo de escutas e corrupção de policiais, o jornal "News of the World", de maior circulação aos domingos no Reino Unido, teve ontem sua última edição. Mas os problemas de seu proprietário, o magnata australiano Rupert Murdoch, estão longe de acabar.
Murdoch chegou ontem a Londres para acompanhar de perto o escândalo, que ameaça a expansão de seu império. É um conjunto de empresas de comunicação em quase todo o mundo com ativos de US$ 60 bilhões (R$ 93 bilhões). Só de jornais, são cerca de 200 títulos.
Ao fechar o tabloide, ele esperava esfriar o caso e continuar o projeto de compra dos 61% que não detém da BSkyB, maior provedora de TV por assinatura no Reino Unido. O negócio é estimado em US$ 12 bilhões (R$ 18 bilhões).
Não foi o que houve, e ontem cresceu a pressão para que o governo vete a negociação. Antes já havia a crítica de que a compra fere a lei da livre concorrência e concentra a produção e distribuição de informação, uma vez que Murdoch é dono de canais de TV, provedora de internet e mais três jornais no Reino Unido """The Sun", "The Times" e "The Sunday Times".
Agora há as escutas, a corrupção e a acusação de que executivos do grupo mentiram para encobrir o caso.
O Partido Trabalhista, de oposição, disse que apresentará nesta semana proposta a ser votada no Parlamento que impediria o governo de autorizar o negócio antes do final da investigação policial.
"Espero que o governo mude sua posição sobre isso [a autorização para a compra], ou vamos ter que forçar um voto sobre o assunto na Câmara dos Comuns", afirmou Ed Miliband, líder do partido.
Alguns membros do Partido Liberal Democrata, que compõe a coalizão que governa o país, já disseram que votam a favor de uma medida para adiar o negócio. Como a investigação pode demorar até dois anos, isso praticamente enterraria a transação.
Logo após chegar, Murdoch, 80, se reuniu com Rebekah Brooks, que era editora chefe do "News of the World" quando, segundo a polícia, começaram as escutas ilegais das caixas postais.
O empresário disse que Brooks é sua "prioridade".
Ela é hoje executiva-chefe do braço que cuida de seus jornais no Reino Unido, e há pressão para que se demita.
Rebekah, que é amiga do primeiro-ministro David Cameron, assim como manteve amizade com ex-premiês, afirma que nunca teve conhecimento das escutas.
Ontem, a BBC ""canal público britânico"" divulgou que a polícia teve acesso a e-mails que mostram detalhes do esquema das escutas telefônicas e do pagamento de policiais pelo jornal.
As correspondências indicariam a participação de vários profissionais e derrubariam a versão da empresa de que se tratava de um caso isolado, sem o conhecimento da cúpula da publicação.
Mais problemático ainda, se os e-mails forem autênticos, eles provam que executivos mentiram para a polícia e para o Parlamento.


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