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ORIENTE MÉDIO
Segundo parentes e amigos, Jorge Balazs, 68, se preparava para casamento do filho
Brasileiro morto queria "paz entre irmãos"
MARIA BRANT
DA REDAÇÃO
O brasileiro Jorge Balazs, 68,
que morreu no atentado a bomba
na última quinta-feira em Jerusalém, achava que israelenses e palestinos eram "irmãos" e deveriam encontrar uma forma de viver em paz.
"Jorge tinha muito forte dentro
dele a experiência socialista do kibutz. Ele achava que os irmãos semitas tinham de encontrar uma
forma de se dar as mãos e viver
em paz", disse o funcionário público Antônio Augusto da Costa
Faria, 52, genro de Balazs.
Jorge viveu cerca de 20 anos no
kibutz (fazenda coletiva) Broch
Chail, conhecido como "o kibutz
brasileiro", no deserto do Negev,
do final da década de 50 até 1979,
segundo Faria.
Foi em Israel que Jorge conheceu sua mulher Flora Rosembaum, 58, e teve três filhos: Aran,
33, Michael, 30 e Rinat, 28.
Faria é casado com Deborah
Brando Balazs da Costa Faria, 43,
filha do primeiro casamento de
Jorge, que desde quarta-feira passada acompanhava o pai, a madrasta, e a irmã Rinat em uma viagem a Israel. A família fora ao país
para o casamento de Aran, que
mora perto de Jerusalém há três
anos, com uma israelense.
"Nos últimos tempos, Jorge só
falava do casamento do filho, da
felicidade que estava sentindo",
disse Shirley Balazs, 30, à Folha,
na casa onde Jorge morava com
Flora, no Bom Retiro (região central de São Paulo). Shirley é casada
com Michael, que foi para Israel
anteontem para comparecer ao
enterro do pai.
Até o início da noite de ontem, a
família ainda não sabia se o enterro seria em Jerusalém, Tel Aviv,
na cidade onde vive Aran ou na
cidade da família de Flora. Segundo Shirley, a cerimônia ocorreria
hoje à noite ou amanhã.
O casamento de Aran estava
marcado para a próxima terça-feira, mas pode ser adiado.
"A lei judaica impõe um ano de
luto para as famílias, mas o casamento já estava marcado há bastante tempo. Ainda não sabemos
o que vai ocorrer", disse Shirley.
Deborah, Rinat, Flora e Jorge
passavam em frente à pizzaria
Sbarro, a caminho do Muro das
Lamentações, em Jerusalém,
quando houve a explosão. Deborah sofreu queimaduras no cabelo
e nas pernas, além de ter tido dois
estilhaços de vidro enterrados em
uma das pernas. Flora sofreu um
corte na cabeça, queimaduras e
perdeu parte dos dentes. Rinat
não ficou ferida.
"Falei com Deborah várias vezes por telefone, ela chorava muito, mas não me disse nada a respeito do atentado, de como as coisas aconteceram. Ela e Flora já estão melhores, mas estavam desesperadas. E, ainda por cima, sentiam muita dor por causa dos ferimentos," disse Faria.
Segundo ele, o Estado de Israel
está custeando todas as despesas
médicas de Flora e Deborah, que
deve ter alta em dez dias, e deve
pagar o tratamento das queimaduras no Hospital Israelita Albert
Einstein, em São Paulo.
"Michael ficou muito abalado",
disse Shirley. "Nos não pudemos
ir para o casamento porque tínhamos obrigações de trabalho, e era
preciso que alguém ficasse para
tomar conta da casa, do cachorro.
Michael sabia da situação em Israel, mas a gente nunca imagina
que algo assim vá ocorrer com alguém da família."
Segundo Shirley, Jorge tinha
três pontes de safena. "Talvez por
isso não tenha resistido."
Shirley disse que planejava se
reunir com amigos de Jorge para
uma prece no shabat (descanso
semanal judaico que vai do pôr-do-sol da sexta-feira ao pôr-do-sol do sábado) de ontem à noite.
"Geralmente, são os filhos que
têm de fazer a oração, mas como
nenhum deles está aqui, vamos
chamar os amigos", disse Shirley.
Segundo Shirley, Jorge e Flora
costumavam frequentar a sinagoga Talmud Torá, no Bom Retiro.
A Federação Israelita do Estado
de São Paulo divulgou uma comunicado oficial ontem a cerca de
50 sinagogas em todo o Estado
pedindo para que incluíssem durante os serviços religiosos do fim
de semana preces em memória às
vítimas do atentado.
O rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, disse que,
em reação ao atentado de quinta-feira, "a comunidade judaica brasileira entrou em contato com a
comunidade judaica dos EUA, e
estamos encorajando o governo
Bush a ter um papel mais ativo no
contexto do Oriente Médio. A situação é perigosa demais e não
pode mais ficar apenas nas mãos
de israelenses e palestinos".
Sobel esteve ontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, "o presidente lamentou a morte de tantos civis
inocentes" (leia texto abaixo).
Saul Balazs, um primo de Jorge
que vive no kibutz Broch Chail,
disse que falou com Deborah e
Flora. "Elas passam bem, mas estão muito abaladas", disse. Ele
afirmou ter convivido "muito"
com Jorge na época em que ambos viviam no kibutz, mas não
quis fazer comentários sobre o
primo. "Queremos manter tudo
isso em família, estamos passando por um momento de muita
dor."
Segundo Shirley, Jorge era uma
pessoa tranquila e alegre, que falava muito sobre Israel e sobre os
jogos do Corinthians. "Ele era corintiano roxo", disse.
Jorge trabalhou muitos anos como chefe de cozinha de uma empresa de alimentação industrial,
disse Shirley. Depois de se aposentar, ele passou a ajudar Flora a
fazer doces e salgados, que costumavam vender nas festas do Teatro Taib, no Bom Retiro.
Ontem, vizinhos do casal na rua
da Adoração se diziam chocados
com a tragédia. Dina Tognini, 83,
amiga dos Balazs, disse que chegou a perguntar a Flora se ela não
tinha medo de ir para uma região
com tantos conflitos. "O perigo
está em qualquer lugar", respondeu Flora, segundo Dina.
Colaborou Gilberto Bergamim Jr., do
"Agora São Paulo"
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