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Potências ampliam papel da ONU no Iraque
Medida prevê aumento de pessoal das Nações Unidas no país, contrariando os próprios funcionários, que temem violência
Atuação da entidade era mínima desde atentado de 2003; EUA e Reino Unido esperam que a resolução viabilize o diálogo político
DA REDAÇÃO
O Conselho de Segurança da
ONU aprovou ontem, por unanimidade, resolução apresentada pelos EUA e pelo Reino
Unido que expande a atuação
das Nações Unidas no país do
Oriente Médio. A medida também prorroga o mandato da
missão da ONU no Iraque por
um ano -ele expirava ontem.
Segundo a resolução, a Missão da ONU de Assistência no
Iraque (Unami, na sigla em inglês) contará com mais pessoas
e deverá "aconselhar, apoiar e
auxiliar" o governo e o povo iraquiano a "avançarem no diálogo político e na reconciliação
nacional".
A decisão enfrenta, no entanto, oposição dos funcionários
da própria ONU, que têm gravado na memória o mês de
agosto de 2003, quando um
atentado contra a sede da entidade em Bagdá matou 22 pessoas, entre as quais o diplomata
brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que chefiava a Unami. Depois disso, alegando falta de segurança, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, retirou a missão do Iraque, deixando lá um contingente mínimo
de funcionários com pouquíssimas atribuições. Vale lembrar
ainda que o CS nunca chegou a
aprovar uma resolução que endossasse a invasão do Iraque,
em março de 2003, como propuseram os EUA.
Apesar de o atual secretário-geral da ONU, o sul-coreano
Ban Ki-moon, haver prometido
ao presidente dos EUA, George
W. Bush, que aumentará ainda
neste ano de 35 para até 95 os
funcionários seus em atuação
no Iraque, eles repudiaram, em
votação nesta semana, o envio
de mais gente ao país.
"O desmantelamento da lei e
da ordem no Iraque faz das pessoas que trabalham com ajuda
humanitária alvos", disse ao
britânico "Guardian" Emad
Hassanin, vice-presidente do
Conselho de Pessoal da ONU.
Também estarão entre as
atribuições da entidade que foram aprovadas na resolução
anglo-americana angariar
apoio regional e internacional
para o Iraque, por meio da promoção do diálogo entre o país e
seus vizinhos sobre segurança
nas fronteiras, energia e refugiados. A entidade tentará ainda agilizar o desenvolvimento
econômico e coordenar a reconstrução da infra-estrutura
iraquiana, além de colaborar
com ajuda humanitária.
Papel útil
Não por coincidência, a aprovação da resolução ocorre num
momento em que o presidente
Bush vem sofrendo forte pressão política interna, seja pela
oposição, que agora tem maioria no Congresso, seja pelos
próprios eleitores americanos,
para fixar um cronograma de
retirada das tropas do Iraque.
Nesse sentido, a ONU poderia ter um papel útil ao congregar apoio de países como Síria e
Irã, que não têm boas relações
diplomáticas com os EUA, no
controle da violência sectária
no Iraque -que explodiu em
confrontos principalmente entre árabes xiitas e sunitas após a
queda de Saddam Hussein
(1973-2003). A entidade poderia também tentar atuar diretamente sobre esses grupos, chamando-os à conciliação. Mas
essa seria, em princípio, uma
tarefa mais difícil, dado que os
iraquianos, de modo geral, não
vêem a ONU com bons olhos
desde os anos 90, em razão de
sanções econômicas impostas
ao governo de Saddam após a
Guerra do Golfo (1991).
Como disse à rede BBC o embaixador dos EUA na ONU, Zalmay Khalilzad, as Nações Unidas "poderiam ter um papel positivo ao facilitar o diálogo entre as facções rivais no Iraque,
especialmente as que se recusam a falar com os EUA".
Com a violência contida -o
que por ora parece utopia, apesar de os americanos haverem
aumentado neste ano em 30
mil homens seu efetivo no
país-, Bush poderia começar a
tirar soldados da frente de
combate e levá-los para casa,
deixando no Iraque, paulatinamente, apenas os militares necessários para garantir o controle sobre o território. A intenção inconfessada de americanos e britânicos, no entanto, seria jogar os problemas políticos
do Iraque nos ombros da ONU.
Com agências internacionais e o "Independent"
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