São Paulo, sábado, 11 de agosto de 2007

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Potências ampliam papel da ONU no Iraque

Medida prevê aumento de pessoal das Nações Unidas no país, contrariando os próprios funcionários, que temem violência

Atuação da entidade era mínima desde atentado de 2003; EUA e Reino Unido esperam que a resolução viabilize o diálogo político

DA REDAÇÃO

O Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem, por unanimidade, resolução apresentada pelos EUA e pelo Reino Unido que expande a atuação das Nações Unidas no país do Oriente Médio. A medida também prorroga o mandato da missão da ONU no Iraque por um ano -ele expirava ontem.
Segundo a resolução, a Missão da ONU de Assistência no Iraque (Unami, na sigla em inglês) contará com mais pessoas e deverá "aconselhar, apoiar e auxiliar" o governo e o povo iraquiano a "avançarem no diálogo político e na reconciliação nacional".
A decisão enfrenta, no entanto, oposição dos funcionários da própria ONU, que têm gravado na memória o mês de agosto de 2003, quando um atentado contra a sede da entidade em Bagdá matou 22 pessoas, entre as quais o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que chefiava a Unami. Depois disso, alegando falta de segurança, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, retirou a missão do Iraque, deixando lá um contingente mínimo de funcionários com pouquíssimas atribuições. Vale lembrar ainda que o CS nunca chegou a aprovar uma resolução que endossasse a invasão do Iraque, em março de 2003, como propuseram os EUA.
Apesar de o atual secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, haver prometido ao presidente dos EUA, George W. Bush, que aumentará ainda neste ano de 35 para até 95 os funcionários seus em atuação no Iraque, eles repudiaram, em votação nesta semana, o envio de mais gente ao país.
"O desmantelamento da lei e da ordem no Iraque faz das pessoas que trabalham com ajuda humanitária alvos", disse ao britânico "Guardian" Emad Hassanin, vice-presidente do Conselho de Pessoal da ONU.
Também estarão entre as atribuições da entidade que foram aprovadas na resolução anglo-americana angariar apoio regional e internacional para o Iraque, por meio da promoção do diálogo entre o país e seus vizinhos sobre segurança nas fronteiras, energia e refugiados. A entidade tentará ainda agilizar o desenvolvimento econômico e coordenar a reconstrução da infra-estrutura iraquiana, além de colaborar com ajuda humanitária.

Papel útil
Não por coincidência, a aprovação da resolução ocorre num momento em que o presidente Bush vem sofrendo forte pressão política interna, seja pela oposição, que agora tem maioria no Congresso, seja pelos próprios eleitores americanos, para fixar um cronograma de retirada das tropas do Iraque.
Nesse sentido, a ONU poderia ter um papel útil ao congregar apoio de países como Síria e Irã, que não têm boas relações diplomáticas com os EUA, no controle da violência sectária no Iraque -que explodiu em confrontos principalmente entre árabes xiitas e sunitas após a queda de Saddam Hussein (1973-2003). A entidade poderia também tentar atuar diretamente sobre esses grupos, chamando-os à conciliação. Mas essa seria, em princípio, uma tarefa mais difícil, dado que os iraquianos, de modo geral, não vêem a ONU com bons olhos desde os anos 90, em razão de sanções econômicas impostas ao governo de Saddam após a Guerra do Golfo (1991).
Como disse à rede BBC o embaixador dos EUA na ONU, Zalmay Khalilzad, as Nações Unidas "poderiam ter um papel positivo ao facilitar o diálogo entre as facções rivais no Iraque, especialmente as que se recusam a falar com os EUA".
Com a violência contida -o que por ora parece utopia, apesar de os americanos haverem aumentado neste ano em 30 mil homens seu efetivo no país-, Bush poderia começar a tirar soldados da frente de combate e levá-los para casa, deixando no Iraque, paulatinamente, apenas os militares necessários para garantir o controle sobre o território. A intenção inconfessada de americanos e britânicos, no entanto, seria jogar os problemas políticos do Iraque nos ombros da ONU.


Com agências internacionais e o "Independent"


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