|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Divisão reflete ideias divergentes sobre Unasul
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A questão de fundo que impede que a Unasul (União de
Nações Sul-Americanas) seja
de fato uma "união" está dada
pela diferença de concepção sobre a integração regional.
Os "bolivarianos", liderados
por Hugo Chávez, concebem-na como uma aliança contra o
"império" (os EUA) ou, na hipótese mais suave, como alternativa a ele como potência
principal na região. Não por
acaso o A de Alba significa Alternativa (Bolivariana para as
Américas).
Já o Brasil acredita que a
Unasul é um ativo "per se" e um
instrumento fundamental para
dialogar/negociar com os EUA.
É sintomático, a respeito, que o
presidente Lula tenha sugerido
ontem um encontro do grupo
sul-americano com o presidente Barack Obama para discutir
a crise das bases que a Colômbia cederá aos EUA.
A diferença de concepções é
administrável dentro de certos
limites. Mas, quando os EUA
entram no radar, como entraram no caso das bases, aí é obviamente impossível que os defensores de uma e da outra concepção se entendam.
Outra coisa que é bom lembrar é que os estatutos da Unasul exigem o consenso para a
tomada de decisões, o que tornava natimorta qualquer proposta de condenação das bases,
a não ser, é claro, que a Colômbia aceitasse autocondenar-se.
Mas há outro fator que empurrou a cúpula de Quito para
decidir não decidir: o Brasil difere de seus amigos "bolivarianos" não só na concepção mas
também na forma de fazer as
coisas. Lula prefere o sussurro
ao megafone, instrumento de
absoluta predileção de Chávez,
principalmente, mas também
de Evo Morales e, em menor
medida, de Rafael Correa.
É por esse estilo que Marco
Aurélio Garcia, o assessor diplomático de Lula, antes mesmo de ir a Quito, antecipava
que a cúpula seria puramente
protocolar (para transferir a
presidência do Chile ao Equador) e que a crise das bases seria discutida depois em conversas bilaterais e multilaterais.
Difícil é prever se os sussurros levarão a um entendimento
que permita a realização da nova cúpula que os presidentes
decidiram convocar "o mais
breve possível".
Só haverá algo parecido a um
consenso se o presidente brasileiro conseguir êxito no difícil
exercício de equilibrismo entre
preservar o bom entendimento
com os EUA (que vem da era
Bush mas promete mais com
Obama) sem entrar na linha de
tiro do megafone de Chávez.
Texto Anterior: Lula quer reunião com Obama sobre bases Próximo Texto: Equador: Em posse para 2º mandato, Correa mira imprensa Índice
|