São Paulo, terça-feira, 11 de agosto de 2009

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Exército aposta em informantes para evitar volta do Taleban

DO ENVIADO AO PAQUISTÃO

No começo dos conflitos na área tribal do Paquistão, havia estimados 30 mil militantes, incluídos aí os 10 mil a 15 mil homens de Baitullah Mehsud.
"Os números são difíceis de precisar. Aqui na minha área havia uns 6.000, metade deles locais, 25% de afegãos, 10% de gente de Mehsud, 10% de uzbeques e só uns 5% de outros estrangeiros", disse na cidade de Khar o coronel Muhammad Nauam, comandante dos Bajaur Scouts, a unidade dos Frontier Corps local.
Aqui começa um dos problemas para o otimismo oficial. A política oficial após os acordos de Malakand serem rasgados foi a de mandar a população deixar suas casas, usar força total e depois negociar com os líderes locais a lealdade ao governo. "A maioria dos moradores da zona tribal é pashtun, como eu sou. Só respeitamos quem pode nos proteger, quem tem força", diz Nauam.
Só que se 50% dos militantes eram locais, é inevitável que alguns deles se reincorporassem à vida civil. E que nem todos os anciãos estivessem com o Taleban só por coação, mas por afinidade. "É um risco real, mas temos meios de lidar com isso", diz o o porta-voz das Forças Armadas, general Athar Abbas.
Abdul Rachid, o ancião que lidera a aldeia de Sultanwas, exemplifica o que são esses meios. "Nos deixaram formar uma milícia. Sempre que achamos um suspeito, o entregamos ao Exército", diz ele numa das poucas casas que sobraram em pé neste que foi o centro da resistência do Taleban em Buner. Cerca de 1.700 militantes e cem soldados morreram aqui durante maio e junho.
Essa política oficial de estímulo a informantes já foi usada no passado. E se houver injustiças? "Nós rechecamos todas as informações recebidas dos informantes e os classificamos por confiabilidade", diz Abbas.
Mas se há o componente religioso, o monetário é tão ou mais importante. "O Taleban pagou bem essa gente, até US$ 1.500 por mês. Agora estão desarticulados, mas isso é agora. Eu ganho só US$ 200, ficaria tentado", brinca em seu posto de observação em Kumbar Bazar o soldado Nawaz Farhad.
Como diz o coronel Nauam, "infelizmente a população aprendeu a lição". Frases como essas são ouvidas de Islamabad aos confins das áreas tribais, e levam à outra pergunta: por que o Exército demorou tanto para atuar de forma efetiva?
A resposta óbvia é a falta de vontade política do governo de enfrentar o desgaste popular -não por amor ao extremistas, mas pelo drama humanitário.
Não faltam teorias conspiratórias de que o Exército deixou a situação piorar para então ter carta-branca para agir e sensibilizar o Ocidente.
Se isso tudo leva a dúvidas sobre os métodos e a segurança futura da paz na "região mais perigosa do mundo", como disse Barack Obama, não tira mérito do fato de que a bola agora foi passada para Washington. "No Paquistão, é tudo sobre os 3 As. América, Allah (Deus) e Army (Exército). Algo me diz que agora é com o primeiro A", diz o professor de Relações Internacionais Nazir Hussain, da Universidade Qaid-i-Azam.
Ainda há incertezas, como o futuro do ainda incontrolado Waziristão do Sul. E o fato de o dinheiro que financia os insurgentes ainda fluir pelos canais conhecidos: os US$ 5 bilhões anuais obtidos com a heroína no Afeganistão, a indústria de sequestros no país vizinho e as doações a supostas organizações de caridade islâmicas.
Mas o desafio é ainda maior pela percepção generalizada por aqui de que o Ocidente não simpatiza com o Paquistão.
"Quando começou a ofensiva britânica em Helmand (sul afegão), morreram cinco soldados. Só faltou a rainha pedir a volta das tropas. Estava na CNN, BBC. No mesmo dia, perdi meu adjunto e quatro soldados. Não fizeram nem uma nota de jornal. Será que somos filhos de um Deus menor?", diz o coronel Nauam. (IG)


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