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Exército aposta em informantes para evitar volta do Taleban
DO ENVIADO AO PAQUISTÃO
No começo dos conflitos na
área tribal do Paquistão, havia
estimados 30 mil militantes,
incluídos aí os 10 mil a 15 mil
homens de Baitullah Mehsud.
"Os números são difíceis de
precisar. Aqui na minha área
havia uns 6.000, metade deles
locais, 25% de afegãos, 10% de
gente de Mehsud, 10% de uzbeques e só uns 5% de outros estrangeiros", disse na cidade de
Khar o coronel Muhammad
Nauam, comandante dos Bajaur Scouts, a unidade dos
Frontier Corps local.
Aqui começa um dos problemas para o otimismo oficial. A
política oficial após os acordos
de Malakand serem rasgados
foi a de mandar a população
deixar suas casas, usar força total e depois negociar com os líderes locais a lealdade ao governo. "A maioria dos moradores da zona tribal é pashtun, como eu sou. Só respeitamos
quem pode nos proteger, quem
tem força", diz Nauam.
Só que se 50% dos militantes
eram locais, é inevitável que alguns deles se reincorporassem
à vida civil. E que nem todos os
anciãos estivessem com o Taleban só por coação, mas por afinidade. "É um risco real, mas
temos meios de lidar com isso",
diz o o porta-voz das Forças Armadas, general Athar Abbas.
Abdul Rachid, o ancião que
lidera a aldeia de Sultanwas,
exemplifica o que são esses
meios. "Nos deixaram formar
uma milícia. Sempre que achamos um suspeito, o entregamos
ao Exército", diz ele numa das
poucas casas que sobraram em
pé neste que foi o centro da resistência do Taleban em Buner.
Cerca de 1.700 militantes e cem
soldados morreram aqui durante maio e junho.
Essa política oficial de estímulo a informantes já foi usada
no passado. E se houver injustiças? "Nós rechecamos todas as
informações recebidas dos informantes e os classificamos
por confiabilidade", diz Abbas.
Mas se há o componente religioso, o monetário é tão ou
mais importante. "O Taleban
pagou bem essa gente, até US$
1.500 por mês. Agora estão desarticulados, mas isso é agora.
Eu ganho só US$ 200, ficaria
tentado", brinca em seu posto
de observação em Kumbar Bazar o soldado Nawaz Farhad.
Como diz o coronel Nauam,
"infelizmente a população
aprendeu a lição". Frases como
essas são ouvidas de Islamabad
aos confins das áreas tribais, e
levam à outra pergunta: por
que o Exército demorou tanto
para atuar de forma efetiva?
A resposta óbvia é a falta de
vontade política do governo de
enfrentar o desgaste popular
-não por amor ao extremistas,
mas pelo drama humanitário.
Não faltam teorias conspiratórias de que o Exército deixou
a situação piorar para então ter
carta-branca para agir e sensibilizar o Ocidente.
Se isso tudo leva a dúvidas sobre os métodos e a segurança
futura da paz na "região mais
perigosa do mundo", como disse Barack Obama, não tira mérito do fato de que a bola agora
foi passada para Washington.
"No Paquistão, é tudo sobre os
3 As. América, Allah (Deus) e
Army (Exército). Algo me diz
que agora é com o primeiro A",
diz o professor de Relações Internacionais Nazir Hussain, da
Universidade Qaid-i-Azam.
Ainda há incertezas, como o
futuro do ainda incontrolado
Waziristão do Sul. E o fato de o
dinheiro que financia os insurgentes ainda fluir pelos canais
conhecidos: os US$ 5 bilhões
anuais obtidos com a heroína
no Afeganistão, a indústria de
sequestros no país vizinho e as
doações a supostas organizações de caridade islâmicas.
Mas o desafio é ainda maior
pela percepção generalizada
por aqui de que o Ocidente não
simpatiza com o Paquistão.
"Quando começou a ofensiva
britânica em Helmand (sul afegão), morreram cinco soldados.
Só faltou a rainha pedir a volta
das tropas. Estava na CNN,
BBC. No mesmo dia, perdi meu
adjunto e quatro soldados. Não
fizeram nem uma nota de jornal. Será que somos filhos de
um Deus menor?", diz o coronel Nauam.
(IG)
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