São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Patriota defende prudência sobre saída de Assad

Postura mostra discordância com EUA, que acredita na melhoria do país sem o ditador

FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

O Itamaraty discorda de que a retirada do ditador Bashar Assad do poder na Síria seja a melhor solução para a reforma política do país.
A Casa Branca afirmou ontem que a Síria -onde, segundo ativistas, 2.000 manifestantes pró-democracia foram mortos desde o início dos protestos, há quatro meses- estaria melhor sem Assad. "Tem que ter um pouco de prudência na aplicação do remédio, para que ele não mate o paciente", disse ontem o chanceler Antonio Patriota.
"Alternativas ao governo atual podem ser até mais problemáticas", avaliou ele. "O que você faz? Tira o Assad e quem assume? O Exército? Outras forças que podem ser mais radicais, mais progressistas? Como [elas] conseguem implementar um plano de reforma?", perguntou.
Patriota acredita que o grupo Ibas (Brasil, Índia e África do Sul) e a Turquia -para onde seguem hoje os enviados do grupo- podem trabalhar juntos em relação à Síria.
"Estamos nos reforçando numa direção compatível com as resoluções do Conselhos de Direitos Humanos e de Segurança", disse. Patriota conversou com Ahmet Davutoglu, seu colega turco, depois da reunião que ele teve com Assad. Para Patriota, só a duração do encontro que Assad teve com Davutoglu na terça [mais de seis horas] "reflete uma disposição de assumir responsabilidade no fim da violência e na aceleração das reformas políticas".
Em Nova York, a secretaria-geral da ONU apresentou relatório que mostrou não ter havido evolução na Síria desde a aprovação da declaração presidencial do CS condenando a violência do regime.
Para integrantes europeus do Conselho e os EUA, a declaração não surtiu o efeito esperado. Eles pediram novo relatório. Ontem, representantes do Ibas tiveram um encontro em Damasco com Assad e o chanceler sírio, Walid Muallem.
"Procuramos dizer que o uso da violência indiscriminada contra populações civis é inaceitável", disse o subsecretário-geral para Oriente Médio do Itamaraty, Paulo Cordeiro. Segundo declaração do Ibas, Assad garantiu apoio ao processo de reforma política, a partir de uma "democracia multipartidária", e reconheceu "alguns erros".
Cordeiro disse que Assad se queixou de sofrer oposição de três grupos: os que não se beneficiaram da abertura da economia, os intelectuais que não aceitam o regime de partido único e fundamentalistas islâmicos.

Colaboraram LUIS KAWAGUTI e ISABEL FLECK, de São Paulo

Leia entrevista com o diplomata Paulo Cordeiro
folha.com/no957721



Texto Anterior: Governo teme problemas na Ásia e na Europa
Próximo Texto: Explode o fluxo de refugiados da Somália para o vizinho Quênia
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.