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Com Ebadi, comitê quer mudar imagem do islamismo no mundo
DA REDAÇÃO
Como na escolha do ex-presidente americano Jimmy Carter
no ano passado, a decisão de conceder o Nobel da Paz à advogada
iraniana Shirin Ebadi vem acompanhada de uma mensagem.
"Ela é muçulmana e é mulher.
Acho que isso é muito importante
agora, quando a imagem internacional é de que muçulmanos são
terroristas. Apontar uma mulher
muçulmana que quer diálogo e
que luta pelos direitos humanos
vai mudar, ao menos em parte, a
imagem que o mundo tem do islã", afirmou à Folha o historiador
Berge Furre, um dos cinco membros do Comitê do Nobel Norueguês, que atribui o prêmio.
Mas, apesar da atenção que atrai
para o vencedor, o caráter político
do Nobel da Paz tem limitações
reconhecidas mesmo entre seus
administradores. "O prêmio não
é uma varinha de condão que vai
mudar o mundo", pondera o secretário do comitê e diretor do
Instituto do Nobel Norueguês,
Geir Lundestad. "O que ele faz é
ser um microfone, especialmente
para os menos conhecidos."
Há, claro, as exceções -os prêmios que realmente mudaram a
realidade. Entre as recentes, destaca-se a premiação de 1986 aos timorenses Carlos Filipe Ximenes
Belo e José Ramos Horta. "O prêmio deles ajudou a conseguir a independência de Timor Leste", diz
Lundestad. Furre concorda. "Não
foi a única coisa a pesar, mas, naquele momento, era muito importante trazer a atenção mundial
de volta para um trabalho que tinha sido esquecido."
Em alguns casos, no entanto, os
desdobramentos políticos pouco
empolgaram o comitê. "Demos o
prêmio em 1993 a Nelson Mandela e Frederik de Klerk e eles terminaram o trabalho. Já em 1994, o
concedemos a Iasser Arafat, Shimon Perez e Yitzhak Rabin e, obviamente, eles não terminaram o
trabalho", diz Lundestad em tom
de lamento.
Nomeações
Dezenas de propostas chegam
ao comitê. Às vezes surgem discrepâncias -como a indicação,
há alguns anos, do ex-ditador iugoslavo Slobodan Milosevic.
"É muito, muito fácil ser nomeado para o prêmio. Há milhares de pessoas que podem fazer
uma indicação", diz Lundestad.
"Mas isso não significa nada realmente. O importante é o que o comitê faz com a indicação."
A escolha é complexa. "Temos
uma reunião por mês e vamos reduzindo as propostas. Especialistas internacionais e nacionais avaliam os candidatos e, normalmente, no verão [entre junho e setembro], já temos cinco, dez candidatos", diz Furre. "Depois focamos um único candidato."
A decisão final -unânime neste ano- cabe aos cinco membros
do comitê, eleitos pelo Parlamento com mandato de seis anos.
"Nenhum membro do governo
pode estar no comitê, pois é essencial que ele seja completamente independente da política externa norueguesa", afirma Furre.
Para os próximos anos, o historiador prevê mudanças no viés da
premiação. "Os direitos humanos
se tornaram muito importantes",
avalia. "Eu acredito que, no futuro, as questões ambientais, para
salvar esse mundo de ser destruído, também entrem no escopo
[do prêmio]."
(LC)
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