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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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Com Ebadi, comitê quer mudar imagem do islamismo no mundo

DA REDAÇÃO

Como na escolha do ex-presidente americano Jimmy Carter no ano passado, a decisão de conceder o Nobel da Paz à advogada iraniana Shirin Ebadi vem acompanhada de uma mensagem.
"Ela é muçulmana e é mulher. Acho que isso é muito importante agora, quando a imagem internacional é de que muçulmanos são terroristas. Apontar uma mulher muçulmana que quer diálogo e que luta pelos direitos humanos vai mudar, ao menos em parte, a imagem que o mundo tem do islã", afirmou à Folha o historiador Berge Furre, um dos cinco membros do Comitê do Nobel Norueguês, que atribui o prêmio.
Mas, apesar da atenção que atrai para o vencedor, o caráter político do Nobel da Paz tem limitações reconhecidas mesmo entre seus administradores. "O prêmio não é uma varinha de condão que vai mudar o mundo", pondera o secretário do comitê e diretor do Instituto do Nobel Norueguês, Geir Lundestad. "O que ele faz é ser um microfone, especialmente para os menos conhecidos."
Há, claro, as exceções -os prêmios que realmente mudaram a realidade. Entre as recentes, destaca-se a premiação de 1986 aos timorenses Carlos Filipe Ximenes Belo e José Ramos Horta. "O prêmio deles ajudou a conseguir a independência de Timor Leste", diz Lundestad. Furre concorda. "Não foi a única coisa a pesar, mas, naquele momento, era muito importante trazer a atenção mundial de volta para um trabalho que tinha sido esquecido."
Em alguns casos, no entanto, os desdobramentos políticos pouco empolgaram o comitê. "Demos o prêmio em 1993 a Nelson Mandela e Frederik de Klerk e eles terminaram o trabalho. Já em 1994, o concedemos a Iasser Arafat, Shimon Perez e Yitzhak Rabin e, obviamente, eles não terminaram o trabalho", diz Lundestad em tom de lamento.

Nomeações
Dezenas de propostas chegam ao comitê. Às vezes surgem discrepâncias -como a indicação, há alguns anos, do ex-ditador iugoslavo Slobodan Milosevic.
"É muito, muito fácil ser nomeado para o prêmio. Há milhares de pessoas que podem fazer uma indicação", diz Lundestad. "Mas isso não significa nada realmente. O importante é o que o comitê faz com a indicação."
A escolha é complexa. "Temos uma reunião por mês e vamos reduzindo as propostas. Especialistas internacionais e nacionais avaliam os candidatos e, normalmente, no verão [entre junho e setembro], já temos cinco, dez candidatos", diz Furre. "Depois focamos um único candidato."
A decisão final -unânime neste ano- cabe aos cinco membros do comitê, eleitos pelo Parlamento com mandato de seis anos. "Nenhum membro do governo pode estar no comitê, pois é essencial que ele seja completamente independente da política externa norueguesa", afirma Furre.
Para os próximos anos, o historiador prevê mudanças no viés da premiação. "Os direitos humanos se tornaram muito importantes", avalia. "Eu acredito que, no futuro, as questões ambientais, para salvar esse mundo de ser destruído, também entrem no escopo [do prêmio]." (LC)

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