São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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AMÉRICAS

Buenos Aires diz que Venezuela possui interesse; Caracas afirma que intenção é fazer "intercâmbio de técnicas"

Argentina poderá vender reator a Chávez

MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES

O governo argentino confirmou anteontem que a Venezuela tem interesse em adquirir da Argentina um reator nuclear para utilizá-lo com fins pacíficos e que venderá o aparato ao país caso ganhe uma eventual licitação. O chanceler argentino, Rafael Bielsa, fez a ressalva de que um possível negócio seria fechado com "a maior responsabilidade" e seguindo os devidos controles dos organismos internacionais.
O tema é delicado, já que os EUA acompanham com lupa os movimentos do presidente venezuelano, Hugo Chávez, visto com suspeita pelo governo americano devido a seu discurso nacionalista e seus contatos com Cuba. O ministro venezuelano da Energia, Rafael Ramírez, negou que houvesse qualquer plano para gerar energia atômica. Segundo ele, a intenção é fazer intercâmbio de técnicas relacionadas ao tema.
O assunto veio a público após uma reportagem publicada no último domingo no jornal argentino "Clarín". O interesse da Venezuela seria adquirir um reator nuclear de potência média para ajudar nas explorações em uma das maiores reservas de petróleo do mundo, localizada no rio Orinoco. Em maio deste ano, Chávez já havia manifestado sua intenção de avançar em um programa nuclear na Venezuela. Na ocasião, havia pedido ajuda para o projeto, além da Argentina, ao Brasil e ao Irã -país acusado pelos EUA de trabalhar secretamente para produzir armas nucleares.
"Vendemos um reator ao Egito, outro para a Austrália, quando ganhamos uma concorrência com o Canadá, outro para a Argélia e para o Peru", afirmou Bielsa anteontem durante declarações a uma rádio argentina. "É uma tecnologia de ponta da Argentina. E, se a Venezuela quer adquirir um reator, teremos que entrar na licitação; se a ganharmos, venderemos, como sempre fizemos, com muita responsabilidade".
Segundo o "Clarín", o tema divide o governo argentino. O chefe de Relações Internacionais da Comissão Nacional de Energia Atômica, Darío Jinchuk, afirma que a venda à Venezuela poderia gerar conflitos pelo fato de Chávez ter dito que pediria ajuda também ao Irã. "A Argentina só pode assinar acordos de cooperação com a Venezuela se o país estiver alinhado com nações que só darão um uso pacífico à energia nuclear."

Denúncia
Depois das denúncias de que neste ano, de eleições, o governo está distribuindo eletrodomésticos na Província de Buenos Aires, um deputado da oposição, Jorge Rivas, afirmou ontem que entrará hoje com uma demanda judicial contra o presidente Néstor Kirchner e contra vários ministros acusando-os de suborno e má utilização de fundos públicos. "Qualquer tentativa de influenciar a vontade do eleitor com favores é um tipo de corrupção que se associa ao suborno", afirmou.


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