São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006

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Sanção "prudente" à Coréia do Norte terá apoio da China

ONU analisa medidas "enérgicas" propostas pelos EUA; Pequim e Moscou vetam ataque

Membros permanentes não chegam a consenso quanto a punições, mas consideram embargo sobre bens de luxo e inspeções de embarcações

DA REDAÇÃO

Integrantes do Conselho de Segurança da ONU concordaram ontem em adotar sanções "enérgicas" contra a Coréia do Norte para puni-la por seu primeiro teste nuclear. Até os chineses, tradicionais aliados dos norte-coreanos, defenderam "uma punição apropriada".
Mas entre os membros permanentes do conselho, a China e a Rússia descartam uma resposta militar, que os Estados Unidos procuram manter entre as opções virtuais para a crise.
Na noite de ontem (manhã na Coréia), a rede de TV japonesa NHK informou, com base em informações do governo, que havia indícios de que Pyongyang realizara um segundo teste. Os governos da Coréia do Sul e dos Estados Unidos, porém, afirmaram que não havia confirmação.
À CNN, o embaixador americano na ONU, John Bolton, disse ser "nítida a preferência" do presidente George W. Bush por uma solução diplomática. Mas afirmou manter "a opção militar como alternativa, pois a Coréia do Norte precisa tomar conhecimento disso".
Horas depois, a secretária de Estado Condoleezza Rice disse também à CNN que os EUA não têm planos de atacar militarmente a Coréia do Norte. Afirmou que os norte-coreanos sabem disso, e não poderiam ter usado uma suposta ameaça americana para testar a bomba.
Com a oposição russa e chinesa, é regimentalmente impossível que Washington obtenha uma resolução que autorize o emprego da força. Moscou e Pequim têm poder de veto.
O Japão também não descarta essa solução. Mas, apesar de presidir em outubro o conselho, seu país não é membro permanente e nada pode vetar. O importante, no campo japonês, foi a afirmação do premiê Shinzo Abe de que não tentaria construir sua própria bomba atômica. Sua posição não surpreendeu. Mas tranqüilizou.
A Rússia, outro protagonista desse jogo, qualificou de "estrondo colossal" o teste norte-coreano. A expressão partiu de seu ministro da Defesa, Serguei Ivanov, que rejeitou o uso da força. "A Coréia do Norte tem fronteiras com três países. Um deles é o nosso", afirmou, como quem diz não querer confusão no quintal de um vizinho.

Inspeções no mar
O fato é que, nessa guerra de nervos, a hipótese militar não chegou a ser formalizada pelo embaixador Bolton no texto que submeteu às demais delegações. O projeto estava sendo trabalhado ontem por assessores das delegações, em discussões das quais não participavam os russos, que ainda esperavam instruções de Moscou.
Grosso modo, o texto americano impunha o embargo à importação de produtos de luxo, consumidos apenas pela elite dirigente norte-coreana, e sobretudo inspeções às embarcações que se preparassem para aportar na Coréia do Norte e deixassem seus portos.
Seria uma maneira de bloquear o ingresso de componentes para armas de destruição em massa ou a exportação de componentes nucleares para o mercado paralelo.
Inspeções em alto mar trariam duas dificuldades. A primeira diz respeito à China, já que parte das embarcações poderia ser abordada em sua águas territoriais. A segunda se refere ao direito internacional, já que um cargueiro pode ser abordado só com a autorização do comandante ou do país sob cuja bandeira ele navega.
Sem um um cronograma para a votação da resolução, a terça-feira transformou os corredores da ONU em território semântico. O embaixador da China, Wang Guangya, afirmou, por exemplo, que "é preciso alguma ação punitiva, desde que apropriada". Ele próprio se encarregou de traduzir "ação apropriada" por "prudente". Descartou, assim, a via militar.
Pequim sentiu-se particularmente traído pelo teste nuclear de seu aliado. Horas antes, o presidente chinês, Hu Jintao, apelou para que "se evitem ações que possam levar a uma escalada e à perda de controle da situação". Não quer isolar a Coréia do Norte, pelos perigos que o isolamento representa. Um diplomata chinês afirmava que a invasão do território norte-coreano era "inimaginável".
No Japão, país singularmente ameaçado pelo ingresso de Pyongyang no clube atômico, o ministro das Finanças, Koji Omi, disse que novas sanções econômicas poderão ser adotadas unilateralmente por seu governo, como a interrupção de todas as transações comerciais.
Em Seul, o premiê Han Myung Sook disse que uma intervenção militar no Norte provocaria uma guerra que afetaria toda a península. O presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun, convocou seus predecessores e outros políticos para estudar uma reação conjunta.
O "New York Times" diz que a sociedade local está dividida, entre os que crêem que a Coréia do Norte acorreu à bomba em razão da ameaça norte-americana e os que culpam a política de conciliação aplicada pelo presidente sul-coreano.


Com agências internacionais


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