São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Acuada, Casa Branca lança incertezas sobre a bomba

Lee Jin-man/AP
Em Seul, sul-coreanos pedem negociações diretas entre os Estados Unidos e a Coréia do Norte


Porta-voz insinua que explosão pode ter sido simulada, o que técnicos negam

Democratas tentam tirar partido da crise que política de Bush teria indiretamente provocado; bomba foi fraca, admite até norte-coreano

DA REDAÇÃO

Criticada duramente pela oposição democrata, que considera a bomba norte-coreana como uma prova da inabilidade diplomática da administração Bush, a Casa Branca levantou dúvidas sobre o próprio fato de o teste atômico ter ocorrido.
O porta-voz Tony Snow disse ontem que seriam necessários ainda alguns dias para que se tenha certeza sobre a explosão. E há a "remota possibilidade" de a incerteza se perpetuar.
Seu argumento é o de que há apenas dois anos Pyongyang expulsou os inspetores internacionais e que esse período é muito curto para fabricar um artefato nuclear.
A Associated Press, no entanto, entrevistou um especialista americano, que não está autorizado a dar declarações, para quem a Coréia do Norte realmente detonou uma bomba atômica, sendo fantasiosa a hipótese de ter simulado o teste por meio de dinamite convencional. Isso, afirmou, é consensual na comunidade científica.
Mas o mesmo informante disse que a explosão foi muito pequena. A bomba teria o equivalente a 200 toneladas de explosivos convencionais. A de Hiroxima era 62 vezes maior.
A França e a Coréia do Sul acreditam que a bomba era um pouco maior: de 500 a 1.000 toneladas. A Rússia pensa que ela tinha de 5.000 a 15 mil toneladas de equivalentes de TNT.
O jornal sul-coreano "Hankyoreh" cita um diplomata norte-coreano, que não identifica, para quem o teste nuclear foi menos potente do que seu governo esperava, mas que provou que Pyongyang pode provocar testes mais poderosos.
Em Paris, o especialista em questões nucleares Bruno Tertrais disse que "é como cozinhar: de vez em quando o prato não sai do jeito planejado pelo cozinheiro". Ele levantou a hipótese de a fissão nuclear não ter se expandido para todo o plutônio reunido para a bomba.
Alguns acreditam que a Coréia do Norte fez a escolha deliberada de usar pouco plutônio, já que seus estoques são reduzidos. É o que afirma Anton Khlopkov, do Centro de Estudos Políticos, em Moscou. Mas Philip Coyle, ex-funcionário do Pentágono e hoje pesquisador na área de estratégia, diz que se desconhece a composição geológica do local da explosão, o que compromete os cálculos sobre a potência da bomba.

Controvérsia partidária
Com as eleições que renovarão em 7 de novembro a Câmara dos Deputados e metade do Senado, republicanos e a oposição democrata procuram tirar partido da bomba coreana.
Os republicanos acreditam que o belicismo preventivo da Casa Branca ganha uma nova justificativa em razão da entrada no clube nuclear da Coréia do Norte ("eixo do mal").
Dennis Hastert, presidente republicano da Câmara, e John Boehner, líder da maioria republicana no Congresso, distribuíram comunicados em que ressaltam a importância de livrar os EUA da ameaça de armas de destruição em massa. A política da Casa Branca se justificaria.
Mas Bob Einhorn, um dos principais negociadores da administração Clinton, acusou a intransigência de Bush em negociar com os norte-coreanos.


Com agências internacionais e Vinícius Queiroz Galvão, de Nova York


Texto Anterior: Aliado "insolente" desafia influência chinesa
Próximo Texto: Análise: Teste visa obter atenção e ampliar poder
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.