São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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ENTREVISTA

JOHN NEGROPONTE

O importante em Honduras é ter eleições no prazo

Diplomata conservador que foi embaixador dos EUA em Honduras sob Ronald Reagan defende que se olhe para a frente

DE WASHINGTON

A saída para a crise hondurenha é ter eleições presidenciais na data programada. Um novo líder assume, e esquece-se quem estava errado, se o presidente deposto, Manuel Zelaya, ou o líder dos golpistas, Roberto Micheletti. Quem defende é John Negroponte, que acaba de assumir o cargo de presidente do Americas Society/Council of the Americas, cuja meta é defender livre comércio, democracia e mercados abertos na região.
O diplomata conservador, 70, recebe a Folha em seu escritório, em Washington, enfeitado com fotos tiradas nos vários cargos que ocupou desde a gestão de Ronald Reagan (1981-1989). Quatro se destacam: primeiro diretor de Inteligência Nacional (2005-2007), subsecretário de Estado (2007-2009), embaixador no Iraque (2004-2005) -e em Honduras (1981-1985). (SÉRGIO DÁVILA)

 

FOLHA - O sr. está otimista quanto a Honduras?
JOHN NEGROPONTE
- Nunca estou otimista quanto a nada. Quando as pessoas me perguntavam se estava otimista ou pessimista, respondia: sou diplomata, não sou uma biruta. Não posso dizer como as coisas vão acabar. Dito isso, é importante que haja um esforço diplomático na crise hondurenha.
Enfatizo a importância de as eleições presidenciais acontecerem tal como o previsto, para que o país e todos nós possamos olhar para frente, não para trás, para ficar procurando quem culpar.
Por coincidência, quando eu estava lá, em 1981, tivemos a primeira eleição livre em nove anos. Desde então, a cada quatro anos, há eleição. É importante que isso continue.

FOLHA - Durante seu período na embaixada, a ajuda militar anual dos EUA a Honduras foi de US$ 4 milhões para US$ 77,4 milhões. Nesse período, também, os EUA foram acusados de fechar os olhos para abusos de direitos civis praticados pelo Exército hondurenho. Como o sr. responde a isso?
NEGROPONTE
- Respondo dizendo que a América Central estava em crise, Honduras estava cercada de problemas, havia insurgência e revoltas em todos os países vizinhos, Guatemala, El Salvador e Nicarágua, todos com guerra civil. Os refugiados vinham desses países para Honduras. Se a situação estivesse tão ruim ali, as pessoas quereriam ir para lá?
Durante o período em que eu estive lá, a democracia foi restaurada. Obviamente, por conta da situação vizinha, nós aumentamos nossa ajuda, não só militar, mas humanitária. Penso que adotamos as políticas certas, que foi justificado o que fizemos, e eu certamente não me arrependo de nada.

FOLHA - Há relatos de que o sr. se encontrou com Micheletti dias antes do golpe. Sobre o que os srs. conversaram?
NEGROPONTE
- É absolutamente falso. Eu não vejo o sr. Micheletti há um ano e meio. Quando eu era subsecretário de Estado, em junho de 2008, o visitei em Honduras e o encontrei como presidente da Assembleia Nacional. Também me encontrei com Zelaya naquela ocasião, tivemos uma reunião ótima. Não voltei ao país nem me encontrei com nenhum dos dois desde então.

FOLHA - Alguns analistas veem uma divisão na gestão Obama em relação a Honduras. O sr. concorda com isso?
NEGROPONTE
- Pode ter havido discussões, sim. Mas a divisão clara que eu vejo é no Congresso, entre os senadores republicanos e o governo. É por isso que defendo que em vez de discutir quem está certo ou errado, temos de achar uma saída para avançar.
E a melhor é ter as eleições como programado. Um novo líder assume, e a gente deixa para lá quem estava errado, Zelaya ou Micheletti. Não há outra saída! A verdade é sempre mais estranha que a ficção. E a verdade é que nunca vi uma situação como essa.

FOLHA - E Hugo Chávez? O sr. o vê como uma ameaça?
NEGROPONTE
- Não aos EUA. Eu me preocupo com seu impacto nos vizinhos, da revolução bolivariana, do modelo bolivariano, que não é apropriado. É baseado no populismo, em gastar o dinheiro do petróleo para promover esse modelo em outros países. Não é sustentável. Não é uma fórmula positiva a longo prazo. E ela pode ser potencialmente danosa a esses outros países.

FOLHA - O sr. não acha irônico que seja o dinheiro dos EUA que o ajuda a implantar essas políticas, já que o país é o maior comprador do petróleo venezuelano?
NEGROPONTE
- Petróleo é petróleo, se ele não nos vendesse, venderia para outros. É verdade que o dele é de baixa qualidade, e seria difícil vendê-lo a outros países. Mas fazer política com petróleo é muito difícil: se parássemos de comprar dele, isso nos prejudicaria tanto como a ele. A longo prazo, seria contraproducente.

FOLHA - Obama no poder muda algo na América Latina?
NEGROPONTE
- A ver. Ele já mostrou algum interesse, encontrou-se com o presidente do México, quatro vezes com o presidente Lula, o homem tem uma sensibilidade clara para questões internacionais. Mas numa crise econômica global e com duas guerras, é preciso estabelecer prioridades. O G20 o ajudará a manter o interesse pela região, por conta de Brasil, México e Argentina.

FOLHA - Mas o sr. não acha que vai ser prioridade, acha?
NEGROPONTE
- Quando meus amigos me perguntam "meu país é prioridade?", eu respondo: "Tenha cuidado em relação à lista em que você quer estar". Na lista com Iraque e Afeganistão e Irã? Não! Obama reconhece a importância da América Latina e uma das coisas importantes que ele pode fazer é ter diálogos.

FOLHA - Um dos pontos polêmicos é Cuba. O sr. acha que Obama está no caminho certo?
NEGROPONTE
- Na verdade, não vejo nada realmente novo acontecendo. Algumas das iniciativas já eram previstas por Bush. Ninguém fala em acabar com o embargo econômico, por exemplo.

Leia a íntegra da entrevista

www.folha.com.br/092831


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