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ENTREVISTA
JOHN NEGROPONTE
O importante em Honduras é ter eleições no prazo
Diplomata conservador que foi embaixador dos EUA em Honduras sob Ronald Reagan defende que se olhe para a frente
DE WASHINGTON
A saída para a crise hondurenha é ter eleições presidenciais
na data programada. Um novo
líder assume, e esquece-se
quem estava errado, se o presidente deposto, Manuel Zelaya,
ou o líder dos golpistas, Roberto Micheletti. Quem defende é
John Negroponte, que acaba de
assumir o cargo de presidente
do Americas Society/Council
of the Americas, cuja meta é defender livre comércio, democracia e mercados abertos na
região.
O diplomata conservador,
70, recebe a Folha em seu escritório, em Washington, enfeitado com fotos tiradas nos
vários cargos que ocupou desde
a gestão de Ronald Reagan
(1981-1989). Quatro se destacam: primeiro diretor de Inteligência Nacional (2005-2007),
subsecretário de Estado (2007-2009), embaixador no Iraque
(2004-2005) -e em Honduras
(1981-1985).
(SÉRGIO DÁVILA)
FOLHA - O sr. está otimista quanto
a Honduras?
JOHN NEGROPONTE - Nunca estou
otimista quanto a nada. Quando as pessoas me perguntavam
se estava otimista ou pessimista, respondia: sou diplomata,
não sou uma biruta. Não posso
dizer como as coisas vão acabar. Dito isso, é importante que
haja um esforço diplomático na
crise hondurenha.
Enfatizo a importância de as
eleições presidenciais acontecerem tal como o previsto, para
que o país e todos nós possamos olhar para frente, não para
trás, para ficar procurando
quem culpar.
Por coincidência, quando eu
estava lá, em 1981, tivemos a
primeira eleição livre em nove
anos. Desde então, a cada quatro anos, há eleição. É importante que isso continue.
FOLHA - Durante seu período na
embaixada, a ajuda militar anual
dos EUA a Honduras foi de US$ 4 milhões para US$ 77,4 milhões. Nesse
período, também, os EUA foram
acusados de fechar os olhos para
abusos de direitos civis praticados
pelo Exército hondurenho. Como o
sr. responde a isso?
NEGROPONTE - Respondo dizendo que a América Central estava em crise, Honduras estava
cercada de problemas, havia
insurgência e revoltas em todos os países vizinhos, Guatemala, El Salvador e Nicarágua,
todos com guerra civil. Os refugiados vinham desses países
para Honduras. Se a situação
estivesse tão ruim ali, as pessoas quereriam ir para lá?
Durante o período em que eu
estive lá, a democracia foi restaurada. Obviamente, por conta da situação vizinha, nós aumentamos nossa ajuda, não só
militar, mas humanitária. Penso que adotamos as políticas
certas, que foi justificado o que
fizemos, e eu certamente não
me arrependo de nada.
FOLHA - Há relatos de que o sr. se
encontrou com Micheletti dias antes do golpe. Sobre o que os srs. conversaram?
NEGROPONTE - É absolutamente
falso. Eu não vejo o sr. Micheletti há um ano e meio. Quando
eu era subsecretário de Estado,
em junho de 2008, o visitei em
Honduras e o encontrei como
presidente da Assembleia Nacional. Também me encontrei
com Zelaya naquela ocasião, tivemos uma reunião ótima.
Não voltei ao país nem me
encontrei com nenhum dos
dois desde então.
FOLHA - Alguns analistas veem
uma divisão na gestão Obama em
relação a Honduras. O sr. concorda
com isso?
NEGROPONTE - Pode ter havido
discussões, sim. Mas a divisão
clara que eu vejo é no Congresso, entre os senadores republicanos e o governo.
É por isso que defendo que
em vez de discutir quem está
certo ou errado, temos de
achar uma saída para avançar.
E a melhor é ter as eleições como programado. Um novo líder
assume, e a gente deixa para lá
quem estava errado, Zelaya ou
Micheletti. Não há outra saída!
A verdade é sempre mais estranha que a ficção. E a verdade é
que nunca vi uma situação como essa.
FOLHA - E Hugo Chávez? O sr. o vê
como uma ameaça?
NEGROPONTE - Não aos EUA. Eu
me preocupo com seu impacto
nos vizinhos, da revolução bolivariana, do modelo bolivariano, que não é apropriado. É baseado no populismo, em gastar
o dinheiro do petróleo para
promover esse modelo em outros países.
Não é sustentável. Não é uma
fórmula positiva a longo prazo.
E ela pode ser potencialmente
danosa a esses outros países.
FOLHA - O sr. não acha irônico que
seja o dinheiro dos EUA que o ajuda
a implantar essas políticas, já que o
país é o maior comprador do petróleo venezuelano?
NEGROPONTE - Petróleo é petróleo, se ele não nos vendesse, venderia para outros. É
verdade que o dele é de baixa
qualidade, e seria difícil vendê-lo a outros países. Mas fazer política com petróleo é
muito difícil: se parássemos
de comprar dele, isso nos prejudicaria tanto como a ele. A
longo prazo, seria contraproducente.
FOLHA - Obama no poder muda algo na América Latina?
NEGROPONTE - A ver. Ele já mostrou algum interesse, encontrou-se com o presidente do
México, quatro vezes com o
presidente Lula, o homem tem
uma sensibilidade clara para
questões internacionais.
Mas numa crise econômica
global e com duas guerras, é
preciso estabelecer prioridades. O G20 o ajudará a manter
o interesse pela região, por
conta de Brasil, México e Argentina.
FOLHA - Mas o sr. não acha que vai
ser prioridade, acha?
NEGROPONTE - Quando meus
amigos me perguntam "meu
país é prioridade?", eu respondo: "Tenha cuidado em relação
à lista em que você quer estar".
Na lista com Iraque e Afeganistão e Irã? Não! Obama reconhece a importância da América Latina e uma das coisas importantes que ele pode fazer é
ter diálogos.
FOLHA - Um dos pontos polêmicos
é Cuba. O sr. acha que Obama está
no caminho certo?
NEGROPONTE - Na verdade, não
vejo nada realmente novo
acontecendo. Algumas das iniciativas já eram previstas por
Bush. Ninguém fala em acabar
com o embargo econômico, por
exemplo.
Leia a íntegra da
entrevista
www.folha.com.br/092831
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