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Congresso aprova lei de mídia de Cristina
Projeto forçará Grupo Clarín, maior do setor no país e em choque com o governo, a se desfazer de parte de seus negócios
Aprovação no Senado vem após 16 horas de debate, em meio à denúncia de que a Casa Rosada teria comprado voto de senadora opositora
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O Senado argentino aprovou
na madrugada de ontem, por
44 votos a favor e 24 contra, o
projeto de Lei de Serviços Audiovisuais da presidente Cristina Kirchner, que obrigará grupos de mídia do país a uma redução forçada de seus negócios.
Antes de viajar ontem para a
Índia, Cristina assinou o decreto que promulga a lei e publicou-o no Diário Oficial. "A presidente havia se autoimposto
não viajar até assinar a promulgação da lei", afirmou seu chefe
de gabinete, Aníbal Fernández.
O projeto estabelece limites à
propriedade de emissoras de
rádio e TV; impede que o mesmo concessionário tenha canais de televisão aberta e a cabo; fixa teto de assinantes para
os operadores de cabo e impõe
cotas de programação nacional.
A nova lei também determina um limite de 33% do total de
concessões para empresas com
fins lucrativos. Os outros dois
terços serão destinados ao Estado e a ONGs, como sindicatos, universidades, igreja.
O governo diz que a intenção
da lei é "desmonopolizar" o setor e permitir acesso plural à
propriedade dos meios de comunicação. Cristina reiterou
em seus discursos sobre o projeto que ele substitui "a velha
lei da ditadura" sobre o tema. A
atual Lei de Radiodifusão argentina foi promulgada em
1980 pelo general Jorge Videla.
Críticos da lei, porém, a acusam de ter o propósito de ferir o
Grupo Clarín, o mais afetado
pelas novas regras. Maior conglomerado de mídia argentino,
o Clarín está em choque com o
governo desde o ano passado.
Com a entrada em vigor da
nova lei, o Clarín terá que abrir
mão da presença na TV aberta,
se quiser seguir na TV a cabo,
onde também deverá reduzir o
alcance de seus canais e de seu
provedor de sinal, líder no mercado. O grupo possui hoje 47%
dos assinantes. A nova lei determina que um único operador pode ter, no máximo, 35%
do total de assinantes.
A oposição tentou, sem sucesso, modificar o artigo que
estabelece prazo de um ano para as empresas se adaptarem e
também o que define a composição da "autoridade de aplicação" da lei, responsável pela
distribuição das licenças. Agora, prevê uma enxurrada de
contestações na Justiça.
Os críticos do projeto suspeitam de intenções escusas do
governo nos artigos. O prazo de
apenas um ano teria objetivo de
facilitar que empresários próximos do governo adquiram
meios de comunicação a serem
favoráveis ao kirchnerismo nas
eleições presidenciais de 2011.
No artigo que define a "autoridade de aplicação" da lei, o governo garantiu "maioria automática", apontam os críticos,
ao determinar que, dos sete
membros da comissão, dois sejam indicados pelo Executivo e
dois pelo Conselho Federal de
Comunicação Social, cujos integrantes são designados pelo
governo. Os outros três membros da "autoridade" deverão
ser apontados pelo Legislativo.
No debate no Senado, o presidente da União Cívica Radical, Gerardo Morales, opositor
do governo, pediu à Comissão
de Assuntos Institucionais que
denuncie na Justiça a senadora
de seu partido María Dora Sánchez, que insinuou ter trocado
o voto por promessas de recursos federais para sua Província.
Morales lembrou que, em setembro, Sánchez se disse contra a lei, dizendo que "ameaçava a imprensa independente e
que os Kirchner conseguiriam
aprová-lo, porque manipulam
governadores com a carteira".
Dois dias antes da sessão no
Senado, Sánchez anunciou que
votaria a favor. "Não há outra
explicação senão o desejo do
melhor para a minha Província." A senadora é de Corrientes, onde houve eleições para
governador neste mês, sob escândalo que envolve suspeita
de assassinato vinculado ao
pleito e desvio de verbas.
A votação do texto geral da lei
ocorreu às 2h30, após 16 horas
de debate. Partidários do projeto em torno do Congresso explodiram em comemoração. Os
militantes passaram a tarde e a
noite ali, embalados por shows.
Após a votação geral, os senadores levaram mais três horas
para fazer a votação detalhada
do texto, capítulo por capítulo.
A oposição não conseguiu alterar nenhum dos 166 artigos, e a
lei foi aprovada na íntegra.
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