São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

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No Brasil, García ironiza Chávez e Morales

Presidente peruano diz que é "sócio confiável" e avalia que vitória democrata atrasará acordo comercial com os EUA

Líder do Peru agradece a Lula pela presença da Petrobras e diz que empresa poderá compensar perdas, em referência à Bolívia

Maurício Lima/France Presse
García em reunião com empresários na sede da Fiesp, em SP


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em discurso recheado de alfinetadas contra os colegas Evo Morales e Hugo Chávez, o presidente peruano, Alan García, disse, em seminário na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que o seu país "é um sócio confiável" e pediu investimentos em estradas, portos e em geração de energia elétrica para que o Brasil tenha acesso à China via Pacífico e seja menos dependente de gás natural.
Conhecido pela excelente oratória, as alusões à Venezuela e à Bolívia de García arrancaram aplausos e risos dos empresários que lotavam o auditório. "Agora, há um novo sócio no Mercosul", disse, logo no início de seu discurso de 30 minutos, em sua primeira referência a Chávez. "É melhor que o Brasil passe à Comunidade Andina antes que seja tarde."
Empenhado em "vender" seu país, o presidente peruano disse que o Peru tem um grande potencial hidrelétrico nos rios que nascem nos Andes e descem para a Amazônia, do qual apenas 5% é aproveitado.
"A torneira dos Andes que despenca no Amazonas deveria ser a reserva elétrica do Brasil, e isso há 50 anos. Não busquem tanto gás", disse, sob mais risos, aludindo à recente crise entre a Petrobras e a Bolívia em torno da nacionalização do gás natural boliviano. "O gás pode acabar, ou te fecham o cano, mas a água nunca deixará de cair."
Sobre a Petrobras, com a qual o Peru negocia, entre outros projetos, a sociedade em uma refinaria, afirmou que esta "finalmente chegou": "Agradeço ao presidente Lula". E, em nova cutucada na Bolívia, disse que o Brasil "poderá compensar lá o que perdeu em outros lugares".
Desde a campanha eleitoral, no primeiro semestre deste ano, García vem trocando farpas com Chávez, que apoiou explicitamente o nacionalista Ollanta Humala, derrotado no segundo turno. Sobre Morales, disse recentemente que o boliviano propõe um "fundamentalismo cocaleiro".
Após a vitória, em junho, o peruano buscou se aproximar, na região, do Brasil e do Chile.

Vitória democrata
Depois de prever durante visita a Washington, no início do mês, que o acordo comercial com os EUA seria assinado até novembro, García admitiu ontem que esse prazo dificilmente será cumprido por causa da recente vitória dos democratas -que em geral são mais protecionistas e, logo, contrários a acordos do tipo- nas eleições legislativas da última terça.
"Naturalmente, a mudança de liderança política nos Estados Unidos muda o ritmo da aprovação do Tratado de Livre Comércio [TLC]", disse García, que, no seu primeiro mandato (1985-90), teve uma relação difícil com os EUA ao adotar, entre outras coisas, uma moratória da dívida externa. "Como resolverão a senhora [Nancy] Pelosi [futura presidente da Câmara] e o presidente Bush as novas relações? Não sabemos. Nós simplesmente mantemos nossa candidatura ao TLC."
A negociação de acordos comerciais tem sido um dos principais temas políticos da região andina e provocou uma grave crise diplomática depois que a Venezuela decidiu se retirar da CAN em protesto contra as negociações com os EUA concluídas pelo Peru e pela Colômbia.
O assunto preocupa até a Bolívia, que, apesar de se opor a um acordo comercial mais amplo, enviou recentemente o vice-presidente Álvaro García Linera para tentar renovar a ATPDEA (Lei de Promoção Comercial Andina e Erradicação das Drogas), que prevê o ingresso livre de certas mercadorias nos países da região e vence em 31 de dezembro. Com a ameaça de não assinar o TLC neste ano, Colômbia e Peru -além do Equador- têm agora interesse na renovação da lei.


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