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Protestos crescem, e governo chinês manda "pegar leve"
Manifestações violentas contra ações da polícia pipocam em várias regiões do país
Na ONU, China nega que haja tortura nas delegacias; corrupção, desastres ambientais e freada na economia geram tensão
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O governo chinês negou ontem na ONU que haja tortura
nas delegacias do país e recomendou à polícia "pegar leve"
na repressão a protestos, que
crescem nos últimos dias.
Na sexta e no sábado, 2.000
pessoas em Shenzhen, sul do
país, atiraram pedras em policiais, destruíram uma delegacia
e incendiaram viaturas, depois
da morte de um motociclista.
Segundo relatos, ele não parou
durante uma blitz e foi atingido
por um celular lançado por um
policial, perdeu a direção e
morreu ao bater em um poste.
Em Chongqing, quarta maior
cidade chinesa, no centro do
país, taxistas incendiaram três
viaturas policiais que tentavam
reprimir uma greve contra preços de combustíveis e multas.
Não há estimativas precisas,
mas a polícia chinesa parece sofrer recorde de impopularidade. Um desempregado que invadiu uma delegacia e matou
seis policiais, alegando ter sido
torturado, virou herói na internet. Ao ser condenado à morte,
em outubro, 200 pessoas protestaram diante do tribunal.
As acusações contra a violência da polícia chinesa foram
abordadas ontem no Comitê
contra a Tortura da ONU. Pequim negou as acusações de organizações de direitos humanos que denunciam tratamento
brutal de prisioneiros, incluídos monges budistas tibetanos.
"Há leis contra a tortura e punições, há tolerância zero com
a tortura, as acusações não têm
fundamento", disse em Genebra Li Baodong, chefe da delegação chinesa.
O advogado Liu Xiaoyuan, de
Pequim, escreveu ontem em
seu blog a história de um segurança detido por engano por
policiais, torturado na delegacia e que recebeu choques elétricos no pênis. O advogado recebeu ligações anônimas com
ameaças de morte caso defendesse o segurança.
"Pegar leve"
Na semana passada, um artigo do ministro da Segurança
Pública, Meng Jianzhu, em um
jornal do Partido Comunista,
dizia que a polícia deveria evitar o confronto com manifestantes e "pegar leve" diante das
crescentes tensões sociais, provocadas pela crise econômica,
casos de corrupção ou desastres ambientais.
"Ao lidar com protestos de
massa, devemos ter claro que
nossa tarefa é manter a ordem,
diminuir o conflito, evitar atitudes excessivas e impedir que
a situação saia do controle. (...)
Temos que evitar o uso inapropriado da polícia, da mão pesada, e pegar leve para evitar incidentes que provoquem mortes
ou banho de sangue", escreveu.
O caso de maior repercussão
envolvendo a polícia neste ano
foi a prisão do desempregado
Yang Jia, 28. Ele matou seis policiais em uma delegacia com
um punhal, até ser preso.
Assassino herói
Yang diz que foi torturado no
local ao ser detido por andar
em uma bicicleta sem licença.
Ele tentou processar os policiais, mas a acusação foi arquivada. O assassino confesso se
tornou herói de blogueiros.
Houve abaixo-assinado de artistas, advogados e intelectuais
pedindo sua absolvição. Foi
comparado a Wu Song, herói da
literatura chinesa, que matou
um tigre com as mãos.
No mês passado, centenas de
estudantes fizeram um protesto em frente ao Tribunal de
Xangai, onde ele era julgado,
aos gritos de "abaixo os fascistas" e "longa vida a Yang Jia".
Yang foi condenado à morte.
O escritório dos seus advogados está fechado. Na última semana, blogs que contêm textos
sobre Yang foram bloqueados
por seus portais e comentários
sobre o caso têm sido apagados.
O artista Ai Weiwei, um dos
mais famosos da China e um
dos autores do projeto do estádio olímpico Ninho de Pássaro,
escreveu em seu blog que a mãe
de Yang, que se encontrava desaparecida, está presa em uma
delegacia de Xangai.
"Você pode manipular a mídia, mas não dá para esconder
que sumiram com ela, testemunha do que fizeram com seu filho", acusou. "Espero que os
juízes vejam o correto." A pena
contra Yang precisa ser referendada pela Suprema Corte.
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