São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Protestos crescem, e governo chinês manda "pegar leve"

Manifestações violentas contra ações da polícia pipocam em várias regiões do país

Na ONU, China nega que haja tortura nas delegacias; corrupção, desastres ambientais e freada na economia geram tensão

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O governo chinês negou ontem na ONU que haja tortura nas delegacias do país e recomendou à polícia "pegar leve" na repressão a protestos, que crescem nos últimos dias.
Na sexta e no sábado, 2.000 pessoas em Shenzhen, sul do país, atiraram pedras em policiais, destruíram uma delegacia e incendiaram viaturas, depois da morte de um motociclista. Segundo relatos, ele não parou durante uma blitz e foi atingido por um celular lançado por um policial, perdeu a direção e morreu ao bater em um poste.
Em Chongqing, quarta maior cidade chinesa, no centro do país, taxistas incendiaram três viaturas policiais que tentavam reprimir uma greve contra preços de combustíveis e multas.
Não há estimativas precisas, mas a polícia chinesa parece sofrer recorde de impopularidade. Um desempregado que invadiu uma delegacia e matou seis policiais, alegando ter sido torturado, virou herói na internet. Ao ser condenado à morte, em outubro, 200 pessoas protestaram diante do tribunal.
As acusações contra a violência da polícia chinesa foram abordadas ontem no Comitê contra a Tortura da ONU. Pequim negou as acusações de organizações de direitos humanos que denunciam tratamento brutal de prisioneiros, incluídos monges budistas tibetanos.
"Há leis contra a tortura e punições, há tolerância zero com a tortura, as acusações não têm fundamento", disse em Genebra Li Baodong, chefe da delegação chinesa.
O advogado Liu Xiaoyuan, de Pequim, escreveu ontem em seu blog a história de um segurança detido por engano por policiais, torturado na delegacia e que recebeu choques elétricos no pênis. O advogado recebeu ligações anônimas com ameaças de morte caso defendesse o segurança.

"Pegar leve"
Na semana passada, um artigo do ministro da Segurança Pública, Meng Jianzhu, em um jornal do Partido Comunista, dizia que a polícia deveria evitar o confronto com manifestantes e "pegar leve" diante das crescentes tensões sociais, provocadas pela crise econômica, casos de corrupção ou desastres ambientais.
"Ao lidar com protestos de massa, devemos ter claro que nossa tarefa é manter a ordem, diminuir o conflito, evitar atitudes excessivas e impedir que a situação saia do controle. (...) Temos que evitar o uso inapropriado da polícia, da mão pesada, e pegar leve para evitar incidentes que provoquem mortes ou banho de sangue", escreveu.
O caso de maior repercussão envolvendo a polícia neste ano foi a prisão do desempregado Yang Jia, 28. Ele matou seis policiais em uma delegacia com um punhal, até ser preso.

Assassino herói
Yang diz que foi torturado no local ao ser detido por andar em uma bicicleta sem licença. Ele tentou processar os policiais, mas a acusação foi arquivada. O assassino confesso se tornou herói de blogueiros. Houve abaixo-assinado de artistas, advogados e intelectuais pedindo sua absolvição. Foi comparado a Wu Song, herói da literatura chinesa, que matou um tigre com as mãos.
No mês passado, centenas de estudantes fizeram um protesto em frente ao Tribunal de Xangai, onde ele era julgado, aos gritos de "abaixo os fascistas" e "longa vida a Yang Jia". Yang foi condenado à morte.
O escritório dos seus advogados está fechado. Na última semana, blogs que contêm textos sobre Yang foram bloqueados por seus portais e comentários sobre o caso têm sido apagados.
O artista Ai Weiwei, um dos mais famosos da China e um dos autores do projeto do estádio olímpico Ninho de Pássaro, escreveu em seu blog que a mãe de Yang, que se encontrava desaparecida, está presa em uma delegacia de Xangai.
"Você pode manipular a mídia, mas não dá para esconder que sumiram com ela, testemunha do que fizeram com seu filho", acusou. "Espero que os juízes vejam o correto." A pena contra Yang precisa ser referendada pela Suprema Corte.


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