São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2004

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EUROPA

Primeiro-ministro italiano, que dizia ser alvo de "caça às bruxas", é inocentado de uma acusação e tem outra prescrita

Berlusconi é absolvido em caso de corrupção

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, 69, foi ontem absolvido em Milão em processo por corrupção de magistrado. Os juízes encontraram fundamento em outra acusação semelhante, mas a arquivaram porque, segundo eles, ela estava prescrita.
O Ministério Público, que havia pedido pena de oito anos de prisão para o premiê, poderá ainda recorrer. Mas são procedimentos de alguns anos, o que, por enquanto, não afeta o gabinete de centro-direita liderado pelo magnata da mídia italiana, visto como o homem mais rico da Europa.
Berlusconi não estava no tribunal no momento em que a sentença de absolvição foi lida. Pouco depois, em Roma, reagiu aliviado e laconicamente. "Antes tarde do que nunca", afirmou em nota.
A decisão de ontem "fecha um ciclo de dez anos de julgamentos", disse Niccolo Ghedini, um dos advogados do premiê.
A acidentada ascensão de Berlusconi como homem de negócios já havia custado a ele três condenações em primeira instância. Ele obteve ganho de causa ao recorrer das sentenças, que totalizariam seis anos e meio de prisão.
Francesco Castellano, que presidia a câmara milanesa do julgamento de ontem, tinha em mãos um caso intrincado.
Tratava-se da compra e venda, nos anos 80, da SME, estatal da produção de alimentos e subsidiária da IRI. Segundo a promotoria, Berlusconi, por meio de sua empresa, a Fininvest, subornou o juiz Filippo Verde para que a empresa não fosse adquirida por Carlo de Benedetti, um outro milionário italiano e seu rival.
Em 1984, a venda da SME a Benedetti foi sustada, em benefício de um consórcio do qual Berlusconi fazia parte. A estatal, finalmente segmentada, foi vendida em empresas menores, com grande lucro ao consórcio.
Havia no processo uma segunda acusação, a de que, paralelamente a esse caso, o atual premiê também entregara, em 1991, US$ 433 mil a um juiz romano, Renato Squillante, que o favoreceria.
A sentença lida ontem por Castellano absolveu o premiê no caso da SME e, embora reconhecesse o fundamento da acusação, tornou prescrita a acusação de compra desse segundo juiz.
Em processo do ano passado, um dos ex-advogados de Berlusconi, Cesare Previti, também seu ministro da Defesa em 1994, foi condenado por corrupção em razão dos mesmos US$ 433 mil. Previti foi condenado a cinco anos, e Squillante, a oito. Ambos recorreram e aguardam julgamento em instância superior. O juiz Filippo Verde foi absolvido. O jornal britânico "Daily Telelgraph" calcula que Berlusconi tenha uma fortuna de US$ 11 bilhões.
O fato de o premiê ter-se beneficiado de prescrição provocou reações na oposição de esquerda. O socialista Luciano Violante disse que "não houve uma absolvição de mérito". O comunista Oliviero Diliberto disse que o nome de Berlusconi continua sob suspeita.
O premiê sempre argumentou ser inocente e estar sendo vítima de uma maquinação politicamente motivada, de uma "caça às bruxas".
Seus problemas com a Justiça foram interrompidos quando o Parlamento aprovou neste ano lei que dava imunidade judicial aos premiês. Mas a lei foi considerada ilegal pela Corte Constitucional.


Com agências internacionais


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