São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 2005

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Opositores e governo buscam continuidade

DA ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

As eleições presidenciais no Chile têm como eixo a defesa da continuidade tanto pela Concertação governista quanto pela direita oposicionista, e nenhuma alteração deve ser esperada em termos do modelo econômico adotado pelo país ou na sua estratégia de inserção internacional. A avaliação é do sociólogo e jornalista chileno Tebni Pino Saavedra. Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha. (CVN)

 

Folha - Quais é o principal eixo dessas eleições?
Tebni Pino Saavedra
- É a continuidade. Tal como aparecia no Brasil posterior a 1985, as candidaturas parecem que não têm idéias, não têm programas, não têm projetos. A coalizão dos partidos do governo quer a continuidade. E a direita mais dura e os empresários também, porque não tiveram nenhum dano, muito pelo contrário. O Chile tem mudado de governos, mas o sistema permanece o mesmo.

Folha - Em que medida a liderança de Bachelet se deve à divisão da direita?
Saavedra
- Bachelet se aproveitou de um fator muito importante: o índice de aprovação do governo Lagos. Que é mais aprovação a Lagos do que ao seu governo, muito questionado a partir de 2002, quando apareceram casos de corrupção. Porém, Bachelet, além dos números macroeconômicos, conta com outros fatores: o chileno é muito passional, e o pai dela foi praticamente assassinado pela ditadura. Ela foi ministra da Defesa. Você imagina a cara dessa mulher quando os militares tiveram de bater continência para ela? Isso mexeu com o coração chilenos.

Folha - O autoritarismo ainda assombra o país?
Saavedra
- Não. Mas o chileno faz o seguinte cálculo: se é verdade que o [general Augusto] Pinochet [1973-90] não vai voltar a ser presidente e não há nenhum louco para governar o país por meio de um golpe de Estado, ainda há um voto de castigo duro contra aquele que representa a ditadura.

Folha - Sob Bachelet, o que pode mudar em termos de inserção regional do Chile?
Saavedra
- Nada. O Chile está de costas para a América Latina. É um irmão maior que desconhece a irmandade e quer se apresentar como aquele capaz de liderar na América Latina a inclusão nos grandes mercados. Dificilmente alguém da Concertação vai dizer, mas eles não pensam no Mercosul. O Chile quer ser os EUA quando crescer. E a direita aplaude.


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