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Opositores e governo buscam continuidade
DA ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
As eleições presidenciais
no Chile têm como eixo a defesa da continuidade tanto
pela Concertação governista
quanto pela direita oposicionista, e nenhuma alteração
deve ser esperada em termos
do modelo econômico adotado pelo país ou na sua estratégia de inserção internacional. A avaliação é do sociólogo e jornalista chileno
Tebni Pino Saavedra. Leia a
seguir trechos de sua entrevista à Folha.
(CVN)
Folha - Quais é o principal
eixo dessas eleições?
Tebni Pino Saavedra - É a
continuidade. Tal como aparecia no Brasil posterior a
1985, as candidaturas parecem que não têm idéias, não
têm programas, não têm
projetos. A coalizão dos partidos do governo quer a continuidade. E a direita mais
dura e os empresários também, porque não tiveram
nenhum dano, muito pelo
contrário. O Chile tem mudado de governos, mas o sistema permanece o mesmo.
Folha - Em que medida a liderança de Bachelet se deve à
divisão da direita?
Saavedra - Bachelet se
aproveitou de um fator muito importante: o índice de
aprovação do governo Lagos. Que é mais aprovação a
Lagos do que ao seu governo, muito questionado a
partir de 2002, quando apareceram casos de corrupção.
Porém, Bachelet, além dos
números macroeconômicos, conta com outros fatores: o chileno é muito passional, e o pai dela foi praticamente assassinado pela ditadura. Ela foi ministra da Defesa. Você imagina a cara
dessa mulher quando os militares tiveram de bater continência para ela? Isso mexeu com o coração chilenos.
Folha - O autoritarismo ainda assombra o país?
Saavedra - Não. Mas o chileno faz o seguinte cálculo: se
é verdade que o [general Augusto] Pinochet [1973-90]
não vai voltar a ser presidente e não há nenhum louco
para governar o país por
meio de um golpe de Estado,
ainda há um voto de castigo
duro contra aquele que representa a ditadura.
Folha - Sob Bachelet, o que
pode mudar em termos de inserção regional do Chile?
Saavedra - Nada. O Chile
está de costas para a América Latina. É um irmão maior
que desconhece a irmandade e quer se apresentar como
aquele capaz de liderar na
América Latina a inclusão
nos grandes mercados. Dificilmente alguém da Concertação vai dizer, mas eles não
pensam no Mercosul. O Chile quer ser os EUA quando
crescer. E a direita aplaude.
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