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Cristina promete em posse ênfase na região
Ela defende Venezuela no Mercosul, mas culpa Uruguai por conflito da papeleira
Prioridade não significa que país "se nega ao mundo", diz presidente; líderes regionais comparecem
em peso à cerimônia
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
A primeira mulher eleita presidente da Argentina, Cristina
Fernández de Kirchner, tomou
posse ontem à tarde com um
discurso que pregou a importância da inserção internacional do país, com a América Latina como prioridade.
"Ontem tive a fotografia que
acredito ser a fotografia da nossa história, das nossas origens,
de nossos interesses. Ali firmamos a ata de fundação do que
espero que seja um instrumento para a transformação econômica e social do nosso povo [o
Banco do Sul]. Esta é a nossa
casa, a América Latina, que
também tem nome de mulher.
E que não significa que nos neguemos ao mundo", afirmou.
Logo no início do seu discurso de quase uma hora no Congresso, onde fez o juramento
como presidente da Argentina,
cargo que ocupará até 2011,
Cristina definiu a inserção da
Argentina no mundo como um
dos eixos principais do seu governo. Analistas coincidem em
que, devido à difícil situação interna, o antecessor e marido de
Cristina, Néstor Kirchner, negligenciou as relações internacionais, à exceção daquelas
com a Venezuela.
Ontem, Cristina defendeu o
ingresso do país de Hugo Chávez no Mercosul, que está pendente de aprovação dos Congressos brasileiro e paraguaio.
"O Mercosul é nosso espaço, ao
qual esperamos que se associe
em breve a Venezuela, para fechar a equação energética da
América Latina, porque alimentos e energia serão as chaves do futuro", disse.
Ao contrário de outros países, que enviaram vice-presidentes e ministros, os presidentes da América do Sul compareceram em massa à posse
-o único ausente foi o peruano
Alan García.
Embora tenha defendido a
integração com a América Latina, Cristina foi dura ao se dirigir ao uruguaio Tabaré Vázquez
e insinuar que a crise entre os
dois países pela instalação da
papeleira finlandesa Botnia às
margens do rio Uruguai, que
banha os dois países, é culpa exclusiva de Montevidéo.
"Quero lhe dizer com toda a
sinceridade que não vai ter desta presidente um só gesto que
aprofunde as nossas diferenças, mas também quero dizer
com a mesma sinceridade que
esta situação que hoje atravessamos não é culpa nossa."
O acirramento do conflito
entre Uruguai e Argentina fez
com que Vázquez fosse o único
presidente ausente, entre os
fundadores, do ato de criação
do Banco do Sul anteontem.
Ele limitou a presença à posse.
Reforma do Judiciário
Além da política internacional, Cristina citou como prioridades de sua gestão a reforma
do Poder Judiciário, a conclusão dos julgamentos iniciados
no governo Kirchner contra integrantes da última ditadura
militar, a educação e o propalado acordo social.
"Não é um acordo de preços e
salários (...) O acordo de que falo é o acordo dos grandes objetivos quantificáveis, verificáveis. E depois iremos por setor
e por atividade, analisando qual
é mais competitivo, qual pode
nos dar mais vantagens, onde
se precisa investimento, de inovação tecnológica", disse.
Cristina encerrou seu discurso falando a respeito do desafio
de uma mulher comandar o
país, com referências a Eva Perón e às Mães da Praça de Maio.
"Sei que talvez me custe mais
porque sou mulher. Sempre
nos vai custar mais, mas acredito ter a força para poder fazê-lo.
Sigo o exemplo, não somente
de Eva, que não pôde [chegar a
presidente]. Talvez ela o merecesse mais do que eu. Mas também o exemplo de mulheres
que com panos brancos se atreveram onde ninguém se atreveu. Vou governar, como tudo
que fiz na vida, com minhas
convicções, com minhas idéias
e sobretudo com meu imenso
compromisso com a pátria."
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