São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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Obama recebe Nobel da Paz com loas à guerra

Americano defende necessidade de lutar no Afeganistão, considerando que uso da força militar no país é "moralmente justificado"

Fala do presidente é bem recebida entre grupos de conservadores da direita americana, para os quais ele se aproximou de Bush


Kevin Lamarque/Reuters
Obama discursa em Oslo, na Noruega, ao receber o Nobel

DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, Barack Obama, aceitou ontem em Oslo (Noruega) o Prêmio Nobel da Paz de 2009 com um discurso dedicado primordialmente à guerra. Em 36 minutos de fala, ele defendeu a necessidade de lutar no Afeganistão e indicou que o uso da força no país, assim como outros no passado, é "moralmente justificável".
Como fizera após o anúncio de que ganhara o prêmio, o presidente se disse ontem "humilde" e "grato". Ele reconheceu ter poucos feitos para justificar a honraria e mencionou a "ironia" de receber o prêmio em um momento em que é "comandante em chefe de um país envolvido em duas guerras".
"Sou responsável pelo envio de milhares de jovens americanos para a batalha. [Tenho] uma aguda consciência dos custos do conflito armado -carregado de questões difíceis sobre a relação entre guerra e paz e nosso esforço para substituir um pelo outro."
Nas oito páginas do discurso, ele usou a palavra "guerra" 44 vezes e "paz", 30. Sem menção direta, o envio, anunciado na semana passada, de mais 30 mil soldados ao Afeganistão pairou sobre a fala.
Obama elogiou esforços pacifistas de vencedores do prêmio antes dele -como o mahatma Gandhi e Martin Luther King- mas comparou ameaças de hoje com outras da história em que a violência foi "necessária": "um movimento não violento não poderia ter brecado os Exércitos de Hitler".
"Não há nada de fraco, passivo ou ingênuo nas crenças e vidas de Gandhi e King. Mas não posso ser guiado apenas por seus exemplos. Olho para o mundo como ele é. Não se enganem: a maldade existe." Ele também se esforçou para defender os EUA: "Quaisquer que sejam os erros que cometemos, o fato é que os EUA ajudaram a preservar a segurança global por mais de seis décadas com o sangue de nossos cidadãos e a força de nossas armas". E, para os conflitos "necessários", exaltou a obrigação de cumprir normas internacionais que limitam a violência.
Como um retrato dos desafios americanos da atualidade, mencionou ainda o Irã e a Coreia do Norte, enquanto se dizia dedicado a controlar a proliferação de armas nucleares.
Ao final do discurso, o tom de Obama se aproximou mais daquele pelo qual o Comitê do Nobel justificou sua vitória, em outubro: se tornou mais esperançoso e pregou a união e o trabalho pela evolução dos ideais. "Vamos buscar um mundo como ele deve ser -com a fagulha do divino que ainda se move em cada uma de nossas almas."

Receptividade
O secretário do comitê do Nobel, Geir Lundestad, disse ontem que foi "totalmente aceitável" que o discurso tenha sido voltado à guerra. "Ele se atreveu a apresentar questões difíceis, mostrando o delicado equilíbrio entre guerra e paz e explicando por que, em algumas circunstâncias, não se pode escapar da guerra."
A fala do presidente foi bem recebida também em círculos inesperados, como os conservadores da direita americana. "Em alguns aspectos, foi um discurso muito histórico", afirmou o ex-líder republicano do Congresso Newt Gingrich.
"Um presidente esquerdista foi a Oslo receber um prêmio de paz e lembrou ao comitê [do Nobel] que não seriam livres sem a força."
"A ironia é que [o ex-presidente] George W. Bush poderia ter feito o mesmo discurso", completou Bradley Blakeman, estrategista republicano.

Leia a íntegra traduzida do discurso

www.folha.com.br/093442


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