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Obama recebe Nobel da Paz com loas à guerra
Americano defende necessidade de lutar no Afeganistão, considerando que uso da força militar no país é "moralmente justificado"
Fala do presidente é bem recebida entre grupos de conservadores da direita americana, para os quais
ele se aproximou de Bush
Kevin Lamarque/Reuters
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Obama discursa em Oslo, na Noruega, ao receber o Nobel
DA REDAÇÃO
O presidente dos EUA, Barack Obama, aceitou ontem em
Oslo (Noruega) o Prêmio Nobel
da Paz de 2009 com um discurso dedicado primordialmente à
guerra. Em 36 minutos de fala,
ele defendeu a necessidade de
lutar no Afeganistão e indicou
que o uso da força no país, assim como outros no passado, é
"moralmente justificável".
Como fizera após o anúncio
de que ganhara o prêmio, o presidente se disse ontem "humilde" e "grato". Ele reconheceu
ter poucos feitos para justificar
a honraria e mencionou a "ironia" de receber o prêmio em
um momento em que é "comandante em chefe de um país
envolvido em duas guerras".
"Sou responsável pelo envio
de milhares de jovens americanos para a batalha. [Tenho]
uma aguda consciência dos
custos do conflito armado
-carregado de questões difíceis sobre a relação entre guerra e paz e nosso esforço para
substituir um pelo outro."
Nas oito páginas do discurso,
ele usou a palavra "guerra" 44
vezes e "paz", 30. Sem menção
direta, o envio, anunciado na
semana passada, de mais 30 mil
soldados ao Afeganistão pairou
sobre a fala.
Obama elogiou esforços pacifistas de vencedores do prêmio
antes dele -como o mahatma
Gandhi e Martin Luther King-
mas comparou ameaças de hoje
com outras da história em que a
violência foi "necessária": "um
movimento não violento não
poderia ter brecado os Exércitos de Hitler".
"Não há nada de fraco, passivo ou ingênuo nas crenças e vidas de Gandhi e King. Mas não
posso ser guiado apenas por
seus exemplos. Olho para o
mundo como ele é. Não se enganem: a maldade existe."
Ele também se esforçou para
defender os EUA: "Quaisquer
que sejam os erros que cometemos, o fato é que os EUA ajudaram a preservar a segurança
global por mais de seis décadas
com o sangue de nossos cidadãos e a força de nossas armas".
E, para os conflitos "necessários", exaltou a obrigação de
cumprir normas internacionais que limitam a violência.
Como um retrato dos desafios americanos da atualidade,
mencionou ainda o Irã e a Coreia do Norte, enquanto se dizia
dedicado a controlar a proliferação de armas nucleares.
Ao final do discurso, o tom de
Obama se aproximou mais daquele pelo qual o Comitê do
Nobel justificou sua vitória, em
outubro: se tornou mais esperançoso e pregou a união e o
trabalho pela evolução dos
ideais. "Vamos buscar um
mundo como ele deve ser
-com a fagulha do divino que
ainda se move em cada uma de
nossas almas."
Receptividade
O secretário do comitê do
Nobel, Geir Lundestad, disse
ontem que foi "totalmente
aceitável" que o discurso tenha
sido voltado à guerra. "Ele se
atreveu a apresentar questões
difíceis, mostrando o delicado
equilíbrio entre guerra e paz e
explicando por que, em algumas circunstâncias, não se pode escapar da guerra."
A fala do presidente foi bem
recebida também em círculos
inesperados, como os conservadores da direita americana.
"Em alguns aspectos, foi um
discurso muito histórico", afirmou o ex-líder republicano do
Congresso Newt Gingrich.
"Um presidente esquerdista foi
a Oslo receber um prêmio de
paz e lembrou ao comitê [do
Nobel] que não seriam livres
sem a força."
"A ironia é que [o ex-presidente] George W. Bush poderia
ter feito o mesmo discurso",
completou Bradley Blakeman,
estrategista republicano.
Leia a íntegra traduzida do
discurso
www.folha.com.br/093442
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