São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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Paquistão usa falso despacho contra Índia

Documentos atribuídos ao WikiLeaks foram difundidos por agência de notícias ligada ao serviço secreto do país

Supostos relatos de diplomatas americanos tinham ofensas à Índia e foram veiculados pela mídia paquistanesa


William West/France Presse
MANIFESTAÇÕES Australianos fazem protesto em Melbourne pela liberdade do compatriota Julian Assange, criador do WikiLeaks; São Paulo terá manifestação semelhante às 11h de hoje no Consulado Britânico, no bairro de Pinheiros

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Vários veículos de imprensa do Paquistão tiveram que se retratar ontem pela publicação, na véspera, de despachos falsamente atribuídos a vazamentos do WikiLeaks reproduzindo acusações feitas pelo país à arquirrival Índia.
Os documentos aparentemente forjados foram difundidos por agência de notícias do país ligada a Islamabad.
O episódio ilustra a tensão que envolve as potências nucleares vizinhas -que já protagonizaram três guerras- e revela o primeiro, ao que se sabe, uso para fins de propaganda política dos vazamentos dos textos diplomáticos.
O jornal "The News" admitiu que as informações "eram duvidosas e podem ter sido plantadas". O "Express Tribune", ligado ao jornal britânico "Herald Tribune", pediu "profundas" desculpas pelo ocorrido. Já o "Jang" admite que "são falsas", mas apenas em suas páginas internas.
Nos despachos falsos, são atribuídos a representantes diplomáticos americanos na Índia relatos de que Nova Déli tem espiões nas regiões paquistanesas do Baluquistão e Waziristão e financia o extremismo hindu em seu solo.
Islamabad frequentemente acusa a rival de fomentar o separatismo, no primeiro caso, e a insurgência, no segundo, para rebater acusações indianas de que financia grupos terroristas na Caxemira.
Segundo os relatos falsos, os representantes dos EUA teriam qualificado de "genocídio similar ao da Bósnia", nos anos 90, o que ocorre na região da Caxemira -a qual abriga grupos separatistas.
Há ainda nos documentos descrições em termos pouco usuais de altos oficiais indianos. O ex-chefe do Exército Deepak Kapur é considerado "incompetente" e "cretino".
Outros são "petulantes" e "egoístas". E o general H.S. Panag é comparado ao general Dragomir Milosevic, acusado de crimes de guerra durante a Guerra da Bósnia.
O jornal "The Nation", que não se retratou, escreveu um editorial com base nas falsas revelações com o título de "A verdadeira face da Índia".
Divididos em 1947, após a independência do Reino Unido, os dois países têm histórico de rivalidade, com disputas por território, acusações de fomento de insurgência e mesmo conflitos abertos.

ORIGEM
Os periódicos não souberam ontem informar a origem dos despachos falsos, porém disseram que as informações foram difundidas pela agência de notícias paquistanesa "Online News".
Segundo a emissora britânica BBC, a agência é conhecida por seus laços com o serviço secreto paquistanês, órgão extremamente poderoso e na linha de frente das questões de segurança no país.
O jornal "Guardian", também britânico e um dos veículos que receberam os mais de 250 mil documentos revelados pelo WikiLeaks, disse ontem não ter encontrado na sua base de dados os relatos publicados no Paquistão.
Pelo contrário. Em alguns despachos de fato revelados pelo site, as descrições envolvendo Índia e Paquistão contradizem informações difundidas pelo "Online News".
O documento falso diz que um investigador indiano foi morto por investigar elos entre extremistas hindus nos atentados de Mumbai, em 2008. No despacho verdadeiro, a hipótese é considerada completamente infundada.


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